A rapper, cantora e compositora Katu Mirim lançou a música “Bling Bling”, que compõe o álbum “Cura” e questiona a ostentação de ouro em músicas de rap, funk, trap e no movimento Hip-Hop. A artista sustenta sua crítica ao denunciar a extração ilegal em terras indígenas.
O caso repercutiu nas redes sociais também por conta do visualizer da música, onde a rapper mastiga cordões de ouro e os cospe com sangue. As imagens impactam também por conta da letra, onde a cantora expõe as condições de trabalho para a extração do minério.
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“Afirmação não está mais no ouro não, então recorde/ O que brilha no teu corpo no meu ele só faz cortes /72 hours, ostentação para nós agora isso é morte/ 72 hours, pra viver tem que ser forte e ter sorte/ Tem que ser forte e ter sorte/ Sua riqueza causa pobreza, estupro e destruição/ Quem patrocina o garimpo não é a minha religião/ No teu peito tem pingente de ouro em formato de balas/ Yanomami é o alvo, aqui o tiroteio não para” diz a primeira parte da música.
Com a repercussão, Katu Mirim publicou um vídeo que traz uma explicação sobre o garimpo ilegal em terras indígenas, mas após diversas denúncias, o conteúdo foi bloqueado pelo instagram.
Após críticas, a rapper falou sobre o movimento negro não apoiar a causa indígena. O também rapper Rincon Sapiência respondeu a cantora e disse que o ouro para a cultura negra e ancestral é mais que ostentação, é identidade e representatividade.
Em resposta ao cantor, Katu Mirim apontou a necessidade de entender o contexto histórico vivido e ressaltou que na era pós revolução industrial o ouro que grandes artistas usam está marcado com o sangue negro e indígena.
A artista encerrou a discussão indicando um documentário que mostra a relação do movimento Hip-Hop, principalmente nos Estados Unidos, com o ouro. “Será que a sua vontade é maior que o genocídio dos povos indígenas?” questionou a rapper.
Quem é Katu Mirim?
Nascida no interior paulista, Katu Mirim foi adotada por um casal não-indígena. Aos 13 anos soube que era filha biológica de pai indígena e mãe negra. A bisavó materna da artista foi sequestrada da aldeia em que morava e tem como ascendente o povo Boe Bororo, originário do Mato Grosso e escravizado em Jundiaí (SP).
A cantora ganhou notoriedade quando levantou um debate sobre pessoas usarem símbolos indígenas como fantasias, de maneira indiscriminada e questionou se a utilização era realmente uma “homenagem”.
Katu Mirim estreou no rap em 2017 com o single “Aguyjevete” , que trata da resistência do povo negro e indígena. “Cura”, o mais novo álbum da artista, conta com dez faixas e está disponível nas principais plataformas digitais.