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Helena Theodoro, 1ª doutora negra do Brasil, é tema de ocupação no CCBB SP

A programação reúne espetáculos, oficinas, música, cinema, mesas de debates, exposição em homenagem à Léa Garcia e ainda palestras, incluindo uma com a própria Helena Theodoro
Helena Theodoro, uma idosa negra sorrindo.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

7 de dezembro de 2024

O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP) sedia até fevereiro de 2025 a ocupação “Trilogia Matriarcas”, uma homenagem à vida e obra de Helena Theodoro, primeira doutora negra do Brasil. A programação celebra os 80 anos de sua trajetória, marcada pela defesa da cultura afro-brasileira e pelo enfrentamento ao racismo estrutural.

Com uma agenda que inclui teatro, exposições e debates, o evento, que acontece no prédio anexo do CCBB São Paulo, oferece ao público uma imersão no legado multifacetado da ativista.

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A programação é ancorada nos espetáculos da trilogia “Matriarcas”, composta por três peças teatrais inspiradas nas vivências de Helena Theodoro e em histórias de mulheres negras que enfrentaram desafios e transformaram suas realidades.

“Mãe de Santo”, com dramaturgia de Renata Mizrahi e direção de Luiz Antônio Pilar, traz a premiada atriz Vilma Melo no papel principal. A peça, escrita a partir de textos e relatos de Helena Theodoro, reflete sobre os muitos papéis desempenhados por mulheres negras ao longo da vida, evocando questões de ancestralidade e espiritualidade, trazendo um posicionamento firme e de orgulho das histórias contadas e passadas por gerações e documentando como as mulheres afro-brasileiras são diálogos, corpos sagrados que utilizam o homem como complemento de suas narrativas e vivências.

Já “Mãe Baiana”, estrelada por Dja Martins e Luiza Loroza, trata do luto e da memória afetiva por meio da relação entre avó e neta. No enredo, a avó lida com a perda de um filho, fato que Helena Theodoro viveu quando seu menino de quatro anos morreu afogado. No início, ao contrário da avó que compreende a morte, a neta inicia a narrativa sem entendimento, mas aos poucos se reconcilia com o conceito. Embora a premissa seja marcada por tristeza, a obra retrata a dor com sensibilidade e também com a serenidade que a personagem da avó – e de certa forma, Helena – adquire ao longo do tempo. 

O terceiro espetáculo, “Mãe Preta”, com dramaturgia de Valesca Lins, destaca a jornada de uma mulher negra que, ao superar grandes perdas, reconstrói sua vida, reafirma sua independência e se fortalece como pilar de sua comunidade. A peça tratará da mulher dessa “Helena” de volta ao seu lar. Mulher empreendedora, independente e muito consciente de sua capacidade de atuar na comunidade, cuidando dos filhos e suprindo as necessidades econômicas dos seus, junto com sua mãe e filha.

O texto inédito retrata uma das últimas revelações da doutora: “Antes do Brício nascer meu casamento já estava no fim, e eu como mulher morta há muito tempo. Foi após a morte do meu filho Brício, que ao chegar no fundo do poço, tive que me reerguer e reencontrar a Helena Theodoro que hoje todos conhecem. Que não é a metade da laranja de ninguém, muito menos a costela de adão. Nós mulheres somos 51% da sociedade, os outros 49% são nossos filhos”, explica Helena.

Além dos espetáculos, a exposição Baobá de Memórias – uma homenagem à Léa Garcia”, uma das grandes damas do teatro negro brasileiro, irá complementar a experiência. A mostra presta tributo à atriz em seu último trabalho, a versão audiovisual de Mãe Baiana, também dirigida por Luiz Antônio Pilar.

O público poderá conferir fotos de cena e de bastidores, além de áudios, figurinos da peça e uma grande estante de referências de livros de pessoas pretas, especialmente mulheres. Ao entrar na exposição, o visitante atravessa um labirinto de turbantes, até se deparar com um grande baobá com mais de 300 flores em formato pendular, que saem do teto em várias camadas. A exibição da sessão audiovisual da peça “Mãe Baiana”, com participação de Léa Garcia e Luana Xavier, também faz parte da programação. 

A ocupação em homenagem à Helena inclui também seis mesas de debates que serão transmitidas ao vivo e disponíveis nas redes sociais da produtora Palavra Z. Entre os temas estão o sagrado feminino, a diversidade, a política e as escrevivências femininas, reunindo grandes nomes como Cláudia Alexandre, Sueli Carneiro, Elisa Lucinda, Luana Xavier e Mãe Márcia Marçal. 

Ao destacar o legado de Helena Theodoro, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra a história de resistência e sabedoria da cultura afro-brasileira, oferecendo ao público uma experiência enriquecedora que conecta arte, conhecimento e transformação social. Essa iniciativa fortalece o papel do CCBB como um espaço de valorização e celebração das múltiplas vozes que compõem a identidade cultural brasileira.

“Estou profundamente feliz e honrada com essa ocupação no CCBB. Para mim, essa é uma oportunidade incrível de celebrar e difundir a filosofia africana, especialmente por meio de espetáculos que exaltam as múltiplas dimensões da mulher: política, sagrada e secreta. Essas diferentes facetas coexistem em uma única mulher, e isso reflete a visão africana de que a mulher não se limita a um papel preestabelecido. Ela pode ser política, espiritual, e desempenhar muitas outras funções”, afirmou Helena Theodoro.

“Além disso, o que mais me emociona é a possibilidade de usar o palco para compartilhar essa visão do feminino como uma força vital, capaz de gerar, expandir e conectar gerações. É um espaço onde o saber ancestral e a arte se entrelaçam para enriquecer nossa cultura contemporânea”, ressaltou.

Confira a programação completa no site do CCBB.

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