Uma Salvador inundada por uma tsunami, em um tempo onde a Inteligência artificial suprimiu a memória social, em um mundo com eminentes pandemias, um menino negro encontra na espiritualidade ancestral uma via de salvação. “Kairu-Edé – guerreiro fantasma”, título que leva o nome do personagem principal, é o primeiro livro do quadrinista soteropolitano Darwiz Bagdeve.
A obra será lançada em três eventos na capital baiana na próxima semana. Nos dias 14 e 15 de agosto, nos Polos Criativos Boca de Brasa, no Centro Comunitário Mãe Carmem do Gantois e na Sede do Malê Debalê, em Itapuã, e no dia 17 de agosto, na Sala de Arte do Cinema do Museu, no Corredor da Vitória.
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Darwiz Bagdeve é um autor negro, com descendência árabe, que encontrou no desenho e na literatura de quadrinhos um modo de desviar das violências raciais que enfrentou durante a infância. Depois de lidar com bullying dos colegas de escola por causa de sua cor de pele e traços negros, se fechava no quarto para construir um mundo próprio, onde podia ter controle sobre as narrativas e construir sua própria história.
Em 2002, um encontro acolhedor com um dos maiores quadrinistas brasileiros, Maurício de Souza, foi como uma injeção de ânimo para que o então adolescente se jogasse mais e mais nos estudos e na criação de quadrinhos. Apesar de percalços, bloqueios criativos e alguns desencontros, Darwiz nunca deixou de criar, desenhar e escrever.
Em 2015, ganhou o 1º lugar no Festival 24h de Quadrinhos, organizado pela RV Galeria de Arte. A história premiada retratava uma aventura de Dango (Daniélio Goldano), um menino de oito anos cujo melhor amigo mais velho, de 12, é LGBT, descobrindo o valor da amizade e enfrentando valentões da vizinhança. A narrativa se desdobrou e o autor construiu a história de Lucília, mãe de Dango, personagem que o levou a publicizar pela primeira vez na internet seu trabalho como quadrinista, quando abriu uma página no Instagram em 2017. As histórias de Lucília fizeram sucesso e consolidaram o nome de Darwiz no mercado baiano de quadrinhos.
O autor ressalta que Salvador vive um momento bastante frutífero na literatura de quadrinhos, inclusive a partir de uma ótica afrocentrada, mencionando alguns de seus contemporâneos e conterrâneos como Anderson Shon e Daniel Cesart, autores do livro “Estados Unidos da África”, Hugo Canuto, autor de “Contos dos Orixás”, Breu, autor de “O Mago Moderno”, e Dyo, autora de “Vade Retro”.
“Kairu-Edé” é uma narrativa repleta de insígnias e mistérios. Algumas coincidências com acontecimentos reais trazem à obra uma tônica premonitória. Escrita durante a pandemia, a obra retrata um mundo em curso de destruição, com doenças, inundações e avanço das tecnologias sobre a humanidade.
Dentre os episódios narrados no livro, o vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção em setembro de 2021, depois de 50 anos de inatividade, pouco depois da HQ ser anunciada na internet. O evento, que surpreendeu o autor pelo efeito de previsão de sua narrativa, felizmente não deixou vítimas. Infelizmente não foi o mesmo caso do Rio Grande do Sul, estado sede da gráfica que imprimiu os exemplares de Kairu-Edé, inundada pelas enchentes deste ano bem no dia que iria iniciar as impressões. A tragédia demandou um longo adiamento do lançamento e, mais uma vez, surpreendeu pela ligação coincidente com a história do quadrinho.
Darwiz Bagdeve também estará presente com “Kairu-Edé” no Festival de Cultura Japonesa Bon Odori, entre os dias 30 de agosto e 1 de setembro na Avenida dos Artistas (Artist’s Alley), no Parque de Exposições, e também na Festa de Arte e Literatura Negra Infanto Juvenil da Bahia, no dia 21 de setembro, no Pelourinho.
Serviço
Lançamento do livro de quadrinhos “Kairu-Edé – guerreiro fantasma”
Quando: 14, 15 e 17 de agosto, sempre as 17h
Onde: Centro Comunitário Mãe Carmem do Gantois | Sede do Bloco Malê Debalê | Sala de Arte Cinema do Museu | Salvador (BA)