A Editora Fiocruz lançou “Eugenia: ontem e hoje”, obra do sociólogo Robert Wegner que investiga a trajetória dessa teoria desde seu surgimento como “ciência” no século XIX até suas reverberações atuais. O livro demonstra como movimentos eugênicos, inicialmente voltados à “melhoria biológica” populacional, serviram a projetos nacionalistas e culminaram em políticas genocidas, como as do regime nazista.
Nos primeiros capítulos, Wegner contextualiza o surgimento da eugenia como uma proposta científica voltada à “melhoria” da população, fundada em princípios de seleção e hierarquização racial. A teoria se consolidou em diversos países, como Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e Alemanha, sendo incorporada à ideologia nazista e às suas práticas genocidas no século XX.
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Apesar do descrédito formal da eugenia após a Segunda Guerra Mundial, o autor argumenta que suas bases ideológicas continuam ativas, agora reformuladas em políticas e discursos que perpetuam desigualdades. “Podemos encontrar muitas reverberações das ideias e das práticas eugênicas até os dias atuais”, afirma Wegner, em nota, destacando as formas de exclusão sistematizadas por meio de dispositivos sociais, legais e institucionais.
Eugenia: biopolítica, genética e controle da vida
A segunda parte do livro aborda o papel da biopolítica na administração da vida. Com base em Michel Foucault, Wegner analisa como o Estado regula populações por meio de estatísticas, políticas públicas e tecnologias biomédicas, determinando quem merece acesso à vida digna e quem pode ser marginalizado.
O autor discute ainda as implicações do Projeto Genoma Humano, da bioética e das técnicas de reprodução assistida, refletindo sobre os riscos de naturalização de hierarquias sociais sob o pretexto da ciência e do progresso.
Um dos exemplos mencionados é o caso da sífilis, analisado por Marília Sá Carvalho, que evidencia como determinados grupos populacionais continuam sendo tratados como objetos de controle em políticas públicas, reforçando desigualdades históricas.
Racismo estrutural e hierarquização da vida
Para Wegner, o racismo contemporâneo se manifesta na forma como instituições e estruturas estatais continuam a classificar e hierarquizar pessoas com base em gênero, deficiência, orientação sexual ou origem social. O autor argumenta que o enfrentamento dessas práticas exige o reconhecimento de sua ligação com a lógica eugênica que ainda permeia políticas públicas, práticas institucionais e comportamentos sociais
O livro “Eugenia: ontem e hoje” reúne nove capítulos analíticos e uma linha do tempo com eventos e referências históricas. A proposta é oferecer ferramentas teóricas e históricas para a compreensão crítica das desigualdades atuais e de suas raízes no pensamento científico e político dos séculos XIX e XX.
O livro está disponível nas livrarias da Editora Fiocruz e para acesso gratuito no portal SciELO Livros.