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Livro analisa as raízes da eugenia e suas manifestações no racismo contemporâneo

A obra "Eugenia: ontem e hoje" revela como ideias pseudocientíficas ainda sustentam discriminações atuais
Pintura "A Redenção de Cam", obra eugenista do fim do século XIX.

Pintura "A Redenção de Cam", obra eugenista do fim do século XIX.

— Reprodução/MNBA

22 de maio de 2025

A Editora Fiocruz lançou “Eugenia: ontem e hoje”, obra do sociólogo Robert Wegner que investiga a trajetória dessa teoria desde seu surgimento como “ciência” no século XIX até suas reverberações atuais. O livro demonstra como movimentos eugênicos, inicialmente voltados à “melhoria biológica” populacional, serviram a projetos nacionalistas e culminaram em políticas genocidas, como as do regime nazista.

Nos primeiros capítulos, Wegner contextualiza o surgimento da eugenia como uma proposta científica voltada à “melhoria” da população, fundada em princípios de seleção e hierarquização racial. A teoria se consolidou em diversos países, como Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e Alemanha, sendo incorporada à ideologia nazista e às suas práticas genocidas no século XX.

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Apesar do descrédito formal da eugenia após a Segunda Guerra Mundial, o autor argumenta que suas bases ideológicas continuam ativas, agora reformuladas em políticas e discursos que perpetuam desigualdades. “Podemos encontrar muitas reverberações das ideias e das práticas eugênicas até os dias atuais”, afirma Wegner, em nota, destacando as formas de exclusão sistematizadas por meio de dispositivos sociais, legais e institucionais.

Eugenia: biopolítica, genética e controle da vida

A segunda parte do livro aborda o papel da biopolítica na administração da vida. Com base em Michel Foucault, Wegner analisa como o Estado regula populações por meio de estatísticas, políticas públicas e tecnologias biomédicas, determinando quem merece acesso à vida digna e quem pode ser marginalizado.

O autor discute ainda as implicações do Projeto Genoma Humano, da bioética e das técnicas de reprodução assistida, refletindo sobre os riscos de naturalização de hierarquias sociais sob o pretexto da ciência e do progresso.

Um dos exemplos mencionados é o caso da sífilis, analisado por Marília Sá Carvalho, que evidencia como determinados grupos populacionais continuam sendo tratados como objetos de controle em políticas públicas, reforçando desigualdades históricas.

Racismo estrutural e hierarquização da vida

Para Wegner, o racismo contemporâneo se manifesta na forma como instituições e estruturas estatais continuam a classificar e hierarquizar pessoas com base em gênero, deficiência, orientação sexual ou origem social. O autor argumenta que o enfrentamento dessas práticas exige o reconhecimento de sua ligação com a lógica eugênica que ainda permeia políticas públicas, práticas institucionais e comportamentos sociais

O livro “Eugenia: ontem e hoje” reúne nove capítulos analíticos e uma linha do tempo com eventos e referências históricas. A proposta é oferecer ferramentas teóricas e históricas para a compreensão crítica das desigualdades atuais e de suas raízes no pensamento científico e político dos séculos XIX e XX.

O livro está disponível nas livrarias da Editora Fiocruz e para acesso gratuito no portal SciELO Livros.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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