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Mais de 500 artefatos indígenas retidos na França retornam ao Brasil

Coleção repatriada composta por 585 artefatos oriundos de mais de 50 etnias indígenas brasileiras havia sido adquirida ilegalmente por museu francês
Imagem mostra um cocar indígena, item que compõe a coleção de artefatos repatriados.

Foto: Reprodução / Museu dos Povos Indígenas

22 de julho de 2024

Cerca de 585 peças indígenas brasileiras retornaram ao país após atuação do Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com o Ministério de Relações Exteriores (MRE) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Os itens estavam em posse da França há 20 anos.

A coleção é composta por máscaras, cocares, mantos, adereços, instrumentos musicais, armas, esculturas e outros itens etnográficos pertencentes a mais de 50 etnias indígenas brasileiras. Entre os objetos, há adornos considerados raros nas coleções expostas no Brasil, como os objetos da comunidade Jayapó e Enawenê-Nawê.

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O material repatriado havia sido adquirido fora dos trâmites legais em 2003 e levado ao Museu de História Natural e Etnografia na cidade de Lille, no norte da França. Na época, autoridades francesas decidiram doar os objetos ao Museu dos Povos Indígenas, vinculado à Funai, no Rio de Janeiro.

Foi assinado um contrato de empréstimo autorizando o museu francês a exibir a coleção pelo prazo de cinco anos, podendo ser renovado pelo mesmo período. Após o prazo, a resolução determinava que a prefeitura de Lille deveria arcar integralmente com os custos de transporte, seguro e devolução do acervo.

No entanto, o acordo não foi cumprido e um inquérito civil foi aberto pelo MPF em 2015 para reaver os artefatos. Ao final das tratativas, a prefeitura não honrou as responsabilidades envolvidas no processo de devolução, que foram assumidas pela Funai.

De acordo com o MPF, os itens são resguardados pela Convenção das Nações Unidas sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), tratado assinado em 1973. Além dela, a Convenção da Unesco sobre importação e exportação de bens culturais, de 1970, e a Convenção de Unidroit sobre bens culturais ilicitamente furtados, de 1995, asseguram o retorno dos bens ao seu local de origem, independente da boa-fé de quem os adquiriu.

A repatriação dos artefatos marca o fim da negociação que durou dez anos para ser concluída. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, outros 24 objetos aguardam a documentação necessária para a devolução.

“O retorno dessas peças é resultado de uma década de trabalho do MPF, em conjunto com instituições brasileiras e francesas. O valor da coleção vai muito além do financeiro, dada a importância que representa para a proteção do patrimônio cultural e histórico do Brasil”, apontou o procurador da República, Sergio Gardenghi Suiama, em nota do Ministério Público Federal.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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