A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entregou o título de Doutor Honoris Causa ao cantor, compositor e multi-instrumentista Milton Nascimento. A cerimônia, realizada no Conselho Universitário nesta quinta-feira (10), exibiu o vídeo da entrega da honraria feita em fevereiro na casa do artista, no Rio de Janeiro, pelo reitor Antonio José de Almeida Meirelles.
O título reconhece a trajetória de Milton Nascimento, referência na música brasileira e internacional. Segundo Meirelles, a universidade decidiu adiar a divulgação da entrega para garantir que a homenagem tivesse a visibilidade merecida.
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“Fizemos todo o esforço para entender as dificuldades e fazer esse gesto de reconhecimento da importância do Milton para a cultura brasileira”, afirmou em nota da instituição.
A cerimônia na Unicamp contou com a apresentação das canções “Morro Velho” e “Maria, Maria”, interpretadas por Graciela Soares e Eddy Andrade. No vídeo gravado em sua casa, Milton agradeceu emocionado: “Acabei de receber essa coisa maravilhosa da Unicamp. Tô muito feliz”.
A relação com a universidade
O título também celebra a história do Instituto de Artes da Unicamp, responsável por propor a homenagem. O instituto foi o primeiro no Brasil a criar um curso de graduação em Música Popular, em 1989. A professora Regina Machado destacou que a universidade reconhece a relevância da música popular como objeto de estudo e formação. A outorga reforça esse movimento acadêmico.
“São centenas de pesquisas que tratam do Milton ou dos movimentos de que ele fez parte. Muito da produção dele já está refletida no ambiente acadêmico. Com a concessão desse título, o ciclo se fecha: ele teve uma carreira, foi estudado na academia e retorna à universidade”, observou o professor Fernando Hashimoto, proponente da homenagem.
Carreira e impacto cultural
Nascido no Rio de Janeiro em 1942, Milton cresceu em Três Pontas (MG), onde iniciou sua carreira musical. Ainda jovem, formou o grupo Clube da Esquina, responsável por álbuns que marcaram a história da MPB. Sua primeira projeção nacional veio em 1967 com a música “Travessia”, e logo passou a gravar também no exterior, ao lado de nomes como Herbie Hancock e Eumir Deodato.
Com mais de 50 álbuns lançados, Milton é conhecido por sua mistura de influências afro-brasileiras, indígenas, latino-americanas, jazz e rock. Sua extensão vocal e arranjos originais o tornaram uma figura única na música mundial.
A obra “Milagre dos Peixes”, por exemplo, enfrentou censura durante a ditadura militar, e o artista recorreu a vocalizações para expressar as mensagens, em colaboração com Naná Vasconcelos.
Colaboração e influência
Milton construiu uma carreira marcada pela colaboração com artistas diversos, como Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Esperanza Spalding e Björk. Suas canções continuam sendo regravadas e interpretadas por novas gerações.
O músico já recebeu títulos semelhantes de instituições como Berklee College of Music, Universidade Estadual de Minas Gerais e Universidade Federal de Ouro Preto. Segundo Hashimoto, esse reconhecimento é um passo para novas titulações de artistas e professores, reforçando o valor da produção artística nacional. “A importância da produção artística brasileira precisa ser transmitida às novas gerações”, concluiu.