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Pelé: vida, polêmicas e reinado do único atleta a vencer três Copas

Conheça mais sobre a história do maior artilheiro da história da Seleção Brasileira, cuja trajetória também foi marcada por polêmicas

Imagem: Reprodução/Domício Pinheiro

Foto: Imagem: Reprodução/Domício Pinheiro

23 de novembro de 2022

Considerado o rei do futebol, Edson Arantes do Nascimento – conhecido mundialmente como Pelé – nasceu em Três Corações (MG) em 23 de outubro de 1940. Atualmente, aos 82 anos, o ídolo negro ainda é lembrado por sua habilidade única e excepcional com a bola no pé, apesar de polêmicas rodearem a vida do ex-atleta. 

Filho de dona Maria Celeste Arantes do Nascimento e de João Ramos do Nascimento, o Dondinho, Pelé se mudou com a família para Bauru (SP) ainda muito jovem, época em que ele já manifestava a vontade de ser jogador de futebol

A alcunha “Pelé”, que serviu para identificar o ex-atleta, é inspirada no talento de um goleiro. Em 1943, o pai de Pelé jogava no time mineiro do São Lourenço. Pelé, que então tinha três anos, ficava bastante impressionado com as defesas do goleiro da equipe do pai e gritava: “defende, Bilé”. As pessoas próximas começaram a chamá-lo de “Bilé”. Muitas crianças colegas do garoto Edson tinham dificuldade em pronunciar “Bilé” e, com o tempo, o apelido virou “Pelé”.

Aos 11 anos, Pelé já jogava em um time infanto-juvenil: o Canto do Rio, cuja idade mínima para participar era 13 anos. Receoso de que a idade do filho pudesse prejudicar o clube, o pai então o estimulou a montar o seu próprio time: chamou-o Sete de Setembro. Para conseguir insumos para treinos e jogos, como bolas e uniformes, os garotos do time chegaram a furtar produtos nos vagões estacionados da Estrada de Ferro Sorocabana para vender em entradas de cinema e praças.

Degraus

Do Sete de Setembro, Pelé foi para o Ameriquinha, local em que calçou chuteiras pela primeira vez e foi campeão do Torneio Início local. Aos 13 anos, o rei do futebol começou a jogar pelo “Baquinho”, equipe infanto-juvenil do Bauru Atlético Clube, que conquistou dois campeonatos – tendo Pelé como o caçula da equipe.

O time do Bauru apresentava uma grande superioridade sobre seus adversários: num dos jogos, chegou a ganhar de 21-0, com Pelé sendo um dos artilheiros, com sete gols. Além disso, no primeiro ano de atuação, a equipe foi campeã com seis rodadas de antecipação, o que passou a chamar a atenção de olheiros para o talento de Edson Arantes. 

O Baquinho foi convidado, em 1954, a se apresentar na preliminar de um jogo da segunda divisão do Campeonato Paulista, enfrentando o campeão infanto-juvenil de São Paulo. O time de Bauru venceu a partida por 12-1, com cinco gols de Pelé, que foi destaque em jornal local da cidade.

A equipe se desfez em 1955, e os garotos resolveram criar um novo time, dessa vez, para jogar futebol de salão. Deram o nome à equipe de “Radium”, em referência ao Radium Futebol Clube, da cidade de Mococa. Na época, o futebol de salão tinha acabado de se tornar popular em Bauru quando Pelé começou a jogar. 

A superioridade técnica do garoto sobre os demais era tamanha que a Liga de Futebol Amador determinou que Pelé só poderia atuar no gol ou na zaga. Se passasse do meio-campo com a bola, seria falta para o adversário.

Do futsal para os campos

De acordo com Pelé, o futsal apresentou desafios, pois, segundo ele, o esporte era muito mais rápido do que o futebol na grama – o que obrigava os atletas a pensar mais rápido, devido à proximidade dos jogadores em quadra. 

Em 1956, Pelé recebeu uma proposta do Bangu Atlético Clube, que foi recusada por Celeste, sua mãe, que não queria que ele fosse “para uma cidade grande”, em suas próprias palavras. Pelé também foi convidado a jogar no Esporte Clube Noroeste, de Bauru. Waldemar de Brito, seu técnico no Bauru Atlético Clube, se opôs a ideia, com receio que Pelé fosse lesionado jogando pelo clube. 

Foi então que Brito sugeriu a ida do jovem atleta de 15 anos ao Santos Futebol Clube. A mãe de Pelé inicialmente era contra a ideia, já que não desejava que Pelé se tornasse um jogador de futebol, mas acabou sendo convencida, e Pelé foi com Brito para a cidade de Santos naquele mesmo ano.

Santos

Pelé começou sua carreira no Santos FC em 1956 e disputou sua primeira partida internacional com a seleção brasileira dez meses depois. Nos anos 1960 foi convidado para jogar fora do Brasil, na Europa, mas preferiu ficar no seu clube de coração, o Santos.

Sua primeira partida oficial foi no dia 7 de setembro de 1956, em um jogo amistoso entre Santos e Corinthians. O resultado foi de 7 a 1 para o Santos, com dois gols de Pelé. Na contagem de 1000 gols da carreira do jogador, este foi o primeiro oficializado. 

Pelé levou o Santos a conquistar muitos títulos: bicampeonato da Taça Libertadores da América (1962 e 1963), bicampeonato Mundial de Interclubes (1962 e 1963), Campeão da Taça de Prata (1968), cinco vezes campeão da Taça Brasil (1961, 62, 63, 64 e 65), quatro vezes campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa/Rio-São Paulo (1959. 1963,1964 e 1966) e 25 títulos de torneios no exterior. Em 1974 fez o seu último jogo com a camisa do Santos. 

Seleção Brasileira

Pelé fez sua estreia na seleção brasileira no dia 7 de julho de 1957, com 16 anos, na Copa Rocca, no jogo contra a Argentina, no Estádio do Maracanã (RJ), ocasião em que marcou seu primeiro gol pela seleção. No entanto, o Brasil perdeu por 2 a 1.

Em 1958, na Copa do Mundo na Suécia, Pelé começou a usar a camisa 10, que se tornou sua marca. Nos dois primeiros jogos ele ficou na reserva, só vindo a jogar na terceira partida, contra a União Soviética. Na ocasião, Garrincha marcou o primeiro gol e Pelé deu assistência ao segundo gol de Vavá. No jogo seguinte, Pelé marcou o segundo gol na vitória sobre a Inglaterra, conquistando o seu primeiro gol na Copa.

No jogo final contra a França, no dia 29 de junho, Pelé marcou dois gols quando o Brasil foi campeão mundial vencendo a Suécia por 5 a 2. Ele se tornou o jogador mais jovem a conquistar uma Copa do Mundo.

Na Copa do Mundo de 1962, no Chile, Pelé já era considerado o melhor jogador do mundo. Na primeira partida contra o México, Pelé foi fundamental na vitória por 2 a 0. No jogo seguinte, contra a Tchecoslováquia, Pelé sofreu uma distensão muscular e ficou fora da equipe. Quem brilhou no seu lugar foi o jogador Garrincha, quando o Brasil conquistou a segunda Copa do Mundo.

Na Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra, embora o Brasil estivesse formado com um time de grandes jogadores como Pelé, Garrincha, Gilmar, Djalma Santos, Jairzinho, Gérson e Tostão, disputou apenas três partidas, sendo eliminado na primeira rodada.

Já na Copa do Mundo de 1970, no México, sob o comando do técnico Zagallo, o Brasil jogou seis partidas e conquistou seis vitórias. O Rei Pelé marcou quatro gols e protagonizou alguns dos lances mais bonitos da história do futebol.

Na final, Brasil e Itália entraram em campo na disputa pelo tricampeonato mundial e consequentemente a posse definitiva da Taça Jules Rimet. Em uma cabeçada, Pelé abriu o placar. Em seguida, a Itália empatou. No segundo tempo, Gérson fez 2 a 1, Jairzinho fez 3 a 1 e Carlos Alberto, em uma bola rolada por Pelé, fez 4 a 1, conquistando o tricampeonato e definitivamente a Taça Jules Rimet.

Em 1971, Pelé decidiu se aposentar da Seleção Brasileira e sua despedida se fez em dois jogos. A primeira partida foi realizada em 11 de julho, contra a Áustria, no Estádio do Morumbi (SP), que terminou empatada em 1 a 1.

A segunda partida foi no Estádio do Maracanã em 18 de julho, contra a Iugoslávia, com o placar de 2 a 2. Pelé, que atuou apenas no primeiro tempo, deu a volta olímpica no intervalo da partida.

Polêmicas

O ex-atacante da seleção brasileira foi um crítico assíduo do regime militar no Brasil. Ele chegou a afirmar que o “brasileiro não sabe votar”. Logo depois, ressaltou: “Muita gente não sabe, mas não joguei em 1974 por desgosto em relação ao regime político do país. Era a época da ditadura”.

Na década de 1980, namorou a então aspirante a modelo Xuxa. No entanto, o relacionamento ocorreu no mesmo período em que foram lançadas filmagens de Xuxa em um filme chamado “Amor, Estranho Amor”, em que ela fazia uma cena erótica junto a um garoto de 12 anos. O filme, com cenas controversas da Rainha dos Baixinhos, teve a exibição embargada na Justiça Brasileira anos depois, por iniciativa da própria atriz. Pelé nunca se pronunciou a respeito. 

Já em meados de 1990, Sandra Nascimento, ex-vereadora de Santos, entrou na Justiça para ser reconhecida como filha do ex-jogador. A filha acabou falecendo em 2006, com câncer de mama, mas o que chamou a atenção foi que o ex-Santos não a visitou mesmo após pedidos durante o leito de morte.

Mesmo sendo de outra época, o jogador argentino Diego Maradona é considerado um dos grandes rivais de Pelé. Em entrevista, o brasileiro defendeu os seus conterrâneos após ser criticado pelo jogador da seleção argentina. “Antes de falar do Pelé, Maradona precisa pedir autorização para o Zico, o Sócrates, o Romário, o Tostão, e Rivelino.”

Em 2002, Pelé acabou entrando em polêmica após a Copa do Mundo. Ele elogiou Marcos, titular da equipe de Felipão, mas os comentários repercutiram negativamente. “É incrível poder elogiar um goleiro do Brasil pela primeira vez na história”, disse. Anos depois, ele criticou o próprio filho, Edinho. “Cá entre nós: essa ideia de o Edinho jogar no gol só pode ser praga dos goleiros que sofreram com os meus gols”.

No Brasil, mesmo sendo aclamado pela maioria dos fãs de futebol, Pelé se envolveu em uma confusão com Romário, em 2005. O ex-jogador do Santos e tricampeão da Copa do Mundo afirmou: “igual a Pelé não tem nem vai ter. Minha mãe me fez e fechou a fábrica.” 

Em resposta, Romário soltou uma de suas frases mais marcantes da carreira. Na época, o ex-camisa 10 do Santos afirmou que o atacante deveria se aposentar naquele ano. “O Pelé calado é um poeta. Como jogador foi o nosso rei, nosso deus, mas tinha que colocar um sapato na boca”, disse.

Reconhecimento

Pelé é considerado como o maior jogador da história do futebol, tendo fama internacional. Recebeu o título de Atleta do Século de todos os esportes em 15 de maio de 1981, eleito pelo jornal francês L’Equipe. No fim de 1999, o Comitê Olímpico Internacional, após uma votação internacional entre todos os Comitês Olímpicos Nacionais associados, também elegeu Pelé o “Atleta do Século”. A FIFA também o elegeu, em 2000, numa votação feita por renomados ex-atletas e ex-treinadores como o Jogador de Futebol do Século XX.

No Santos, de 1965 a 1974, o ídolo competiu em 1144 jogos , marcando 1124 gols. Na Seleção Brasileira – de 1957 a 1971 – atingiu a marca 114 jogos, com o placar de 95 gols ao todo. 

Pelé jogou também no New York Cosmos no período de 1975 a 1977, ano em que conquistou o Campeonato da Liga Americana – NASL. A última partida pelo time americano foi no Giants Stadium em 1 de outubro de 1977. Foi eleito presidente honorário do New York Cosmos. No clube internacional, de 1957 a 1971, ele atingiu a marca de 108 jogos, com 63 gols. 

O milésimo gol de Pelé, que entrou para a história, foi marcado no Maracanã, no dia 19 de novembro de 1969, na cobrança de um pênalti, no jogo entre Santos e Vasco.

Ele se aposentou do futebol no ano de 1977, quando jogava no Cosmos. Em 1994 foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO, e em 1995, nomeado Ministro do Esporte no governo de Fernando Henrique Cardoso, cargo que exerceu até 1998. Durante esse período, Pelé criou uma lei que, entre outras medidas, visava dar maior transparência e profissionalismo ao esporte, que ficou conhecida como “Lei Pelé”.

Em outubro de 2020, ao completar 80 anos, Pelé declarou: “agradeço a todos os que me mandaram cumprimentos. Agradeço a Deus pela saúde de chegar aqui lúcido. Em todos os lugares do mundo em que chego sou bem recebido, as portas sempre estão abertas no mundo todo. Espero que, quando chegar ao céu, Deus me receba da mesma maneira que todos me recebem hoje graças ao nosso querido futebol”.

Leia também: Seleções africanas disputam Copa com técnicos locais pela primeira vez em 92 anos

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