O coletivo Quilombhoje celebra nesta sexta-feira (28) 45 anos de atuação na promoção da literatura afro-brasileira. Criado em 1980, o grupo consolidou-se como referência na publicação e valorização de escritores negros, ampliando o espaço para essas produções no mercado editorial.
Entre suas principais contribuições está a continuidade da publicação dos Cadernos Negros, coletânea anual lançada desde 1978 e que reúne textos de autores negros, alternando entre contos e poemas a cada edição.
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O projeto foi idealizado por Cuti (Luiz Silva) e Hugo Ferreira, inicialmente como um volume único, mas se tornou uma das mais longevas iniciativas da literatura afro-brasileira.
Origem e impacto dos Cadernos Negros
O primeiro volume dos Cadernos Negros foi lançado durante o 1º Festival Comunitário Negro Zumbi (Feconezu), em Araraquara (SP), e na Livraria Teixeira, na capital paulista. Com financiamento dos próprios autores, a publicação surgiu para dar visibilidade à produção literária negra, historicamente excluída das grandes editoras.
A partir de 1982, o Quilombhoje assumiu a organização dos Cadernos, incorporando novos integrantes como Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa, responsáveis pela continuidade do projeto até hoje. Autores como Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Miriam Alves e Geni Guimarães tiveram suas trajetórias impulsionadas pelo coletivo.
Além dos Cadernos Negros, o Quilombhoje promove atividades voltadas à difusão da literatura afro-brasileira, como rodas de poesia, debates e o Sarau Afro Mix, criado em 2002 por Esmeralda Ribeiro. O coletivo também lançou livros infantis, antologias, biografias e edições traduzidas para o inglês.
A atuação do grupo se sustenta financeiramente sem apoio governamental ou patrocínio privado fixo. A venda das publicações e o apoio dos colaboradores garantem a continuidade do projeto, que se mantém como um dos pilares da literatura negra no Brasil.
Legado e desafios para a literatura negra
O Quilombhoje resiste em um cenário de desigualdade no mercado editorial. Uma pesquisa publicada no livro “Literatura Brasileira Contemporânea – Um Território Contestado” indica que 93,9% dos autores publicados no Brasil são brancos, enquanto os personagens negros são minoria e, em grande parte, retratados de forma estereotipada.
A criação de editoras independentes e coletivos literários tem sido fundamental para ampliar o acesso à literatura negra e permitir que escritores contem suas próprias histórias.
Ao longo de 45 anos, o Quilombhoje consolidou-se como um espaço de resistência e representatividade, garantindo que a produção literária negra continue sendo publicada e reconhecida.