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Quilombolas do Espírito Santo mantêm vivo o Ticumbi, manifestação cultural originária da África

Festa do Ticumbi, tradicionalmente realizada entre o fim de dezembro e o início de janeiro, resiste no estado capixaba há mais de 200 anos, com influência do catolicismo e devoção a São Benedito
Imagem mostra integrantes da manifestação cultural Ticumbi segurando pandeiros.

Foto: Reprodução/Instagram/@bailedecongo_ticumbi

7 de janeiro de 2025

Em Conceição da Barra, município localizado no extremo norte do Espírito Santo, as comunidades quilombolas de Sapê do Norte celebram anualmente o Ticumbi, manifestação afro-brasileira também conhecida como Baile do Congo. Tradicionalmente, a festividade ocorre em um período de três dias, entre 30 de dezembro e 1º de janeiro.

Composto por cantos, instrumentos de percussão como pandeiros e danças herdadas da cultura africana, o festejo existe no estado capixaba há mais de 200 anos e ganhou elementos do catolicismo, com participação de devotos de São Benedito, um dos poucos santos representados como negro na religião católica-cristã.

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A dança do Ticumbi representa uma luta entre o Rei de Bamba e o Rei de Congo, que disputam a preferência do louvor a São Benedito. Na tradição, as duas majestades negras travam uma espécie de guerra com um embate bailado entre os dois rivais. Historicamente, o Rei do Congo é consagrado vencedor, submetendo o Bamba e seus subordinados ao batismo. 

As vestimentas dos integrantes da manifestação cultural são um show à parte durante o cortejo pelas ruas de Conceição da Barra. Os participantes usam roupas brancas e rendadas, com fitas coloridas e um capacete colorido, com flores de diferentes cores. Os representantes dos reis usam coroas ornamentadas nas cores dourada e prata, além de uma capa comprida e uma espada.

Comida e união

Uma das ações que mais chamam atenção durante o cortejo do Ticumbi é a recepção dos moradores, que oferecem aos festeiros refeições preparadas pelas próprias famílias como uma forma de agradecer a São Benedito pelas graças alcançadas. 

Uma delas é a família Dealdina, que há 21 anos abraçou a manifestação cultural, abrindo sua casa para os participantes.

“É uma herança do nosso tio Silvestre e do nosso avô Miúdo, que acompanhavam o festejo. Assumimos esse compromisso de receber o grupo do Ticumbi e outros grupos que acompanham o cortejo com refeições. É uma festa muito importante para a cultura afro-brasileira e uma tradição secular”, conta a produtora cultural e militante quilombola Selma Dealdina, articuladora da Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Ticumbi é uma tradição que resiste no estado do Espírito Santo, no sudeste do Brasil. (Foto: Reprodução/Instagram/@bailedecongo_ticumbi)

Trazido ao Brasil pelos povos escravizados, o Ticumbi também ganhou força fora de Conceição da Barra, como no município de Barreiras, às margens do rio Cricaré. A festividade chegou também a Itaúnas, onde ao longo de janeiro também ocorrem a Festa de São Benedito e a Festa de São Sebastião.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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