Apesar das leis que tornam obrigatório o ensino de história das culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas (Leis 10.639/02 e 11.645/08), muitas escolas pelo Brasil ainda seguem um modelo criado, historicamente, a partir do ideal de superioridade racial branca. É o que aponta a recente publicação para uma educação antirracista lançada pelo Instituto Alana em parceria com a plataforma Porvir.
Para incidir sobre essa realidade escolar e promover uma educação para relações étnico-raciais e antirracista nas escolas, o material de apoio “Recriar a escola sob a perperspectiva das relações étnico-raciais” oferece recursos para formação de educadores a partir da realidade e de exemplos das escolas de educação básica em diversas regiões do Brasil.
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“Às vésperas de completar 20 anos da promulgação da LDB 10.639/03, é necessário alinhar compromisso ético e intencionalidade pedagógica para transformar nossas escolas em espaços de garantia de direitos à educação plena. Isso se dá a partir do enfrentamento ao racismo institucional e a ampliação de conhecimento”, diz Clelia Rosa, pedagoga e mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Desenvolvido a partir da jornada formativa gratuita “No Chão da Escola“, realizada em julho de 2021, o material apresenta uma curadoria de filmes, livros e obras para abordar a questão racial na escola, para trabalhar relações raciais para crianças e adolescentes e auxiliar na formação de educadores em relações étnico-raciais.
A pedagoga e mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP) Luciana Alves ressalta que houve uma preocupação para que a curadoria de filmes e livros trouxesse histórias sobre pessoas negras por uma perspectiva positiva e com abordagens de outras narrativas possíveis em questões corriqueiras e do cotidiano.
“Quando a criança tem acesso a essas outras narrativas sobre ser negro, sobre ser indígena, ela tem acesso a um número de possibilidades. Então, a importância do material é justamente dar um subsídio a mais para que o professor e a professora possa trabalhar com elas de uma forma que elas consigam compreender diferentes modos de estar e ser a partir da literatura, do cinema, da animação e de todo o universo de produção artística”, destaca a pedagoga.
A Alma Preta Jornalismo separou quatro filmes e quatro livros, indicados na publicação, voltados à ampliação de repertório da comunidade escolar, com reflexões sobre a história e a cultura africana e afro-brasileira e à continuidade do processo formativo dos educadores. Todos podem ser assistidos gratuitamente na plataforma Videocamp. Confira:
Eu, Oxum (23 min.)
O documentário “Eu, Oxum”, dirigido e roteirizado por Héloa e sua mãe Martha Sales, conta a sua história e sua relação com a orixá Oxum e de cinco mulheres “filhas”. Entre elas, está a Yalorixá Maria José de Santana, responsável pelo “Ilê Axé Omin Mafé, mais conhecida como “Mãe Bequinha”, que, também conta sua história, como a mais antiga “filha de Oxum” do município de Riachuelo, localizado na região do Vale do Cotinguiba (SE).
Nadir da Mussuca (25 min.)
O documentário retrata a rica história de Nadir dos Santos ou simplesmente Nadir da Mussuca, nome que sintetiza narrativas afroculturais de Sergipe. Personalidade da comunidade quilombola Mussuca, do município de Laranjeiras, essa mulher, negra e artista transcende seu território de cantora do Samba de Pareia, do São Gonçalo e do Reisado.
Proibido pisar na grama (12 min.)
É um curta documentário que aborda as questões e posições que o racismo estrutural e institucional impõe à população negra brasileira, como o condicionamento ao trabalho braçal, a criminalidade e a falta de acesso à educação. É também uma mensagem de resistência.
Terreiros do brincar (52 min.)
O filme retrata a participação de crianças em vários grupos de manifestações populares em quatro estados brasileiros, e a sua relação com um brincar coletivo, inter-geracional e sagrado.
A África recontada para crianças — Avani Souza Silva
Fábulas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são recontadas pela pesquisadora Avani Souza Silva neste livro. As histórias são complementadas por músicas, brincadeiras, descrições de gastronomia e vestimentas dos países africanos.
Da minha janela — Otávio Júnior e Vanina Starkoff
Olhando de sua janela em uma favela do Rio de Janeiro, o autor narra tudo o que vê: cores, animais, pessoas. De maneira sensível e com belas ilustrações, o livro de estreia de Otávio Júnior convida para um exercício de olhar ao redor e perceber o mundo para além dos muros de casa.
Almanaque pedagógico afro-brasileiro — Rosa Margarida de Carvalho Rocha
Com diferentes atividades e jogos, além de um calendário com datas importantes relativas aos temas afro-brasileiros, a autora apresenta aos professores estratégias cuidadosas para inserir os conteúdos afro-brasileiros na sala de aula.
Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade — Bell Hooks
Escritora, professora e intelectual negra, bell hooks escreve sobre um novo tipo de educação que seja capaz de ensinar aos alunos transgredir as fronteiras raciais, sexuais e de classe.
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