PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Pesquisar
Close this search box.

Projeto de Lei prevê aposentadoria para donas de casa com mais de 60 anos

Se aprovado, mulheres que deixaram de ingressar no mercado formal por causa do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos terão direito a um salário mínimo; licença maternidade também será contada como tempo de contribuição 

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) com sua filha no colo.

Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

21 de março de 2022

Alzira Santana, de 63 anos, mora na região de Ceilândia, em Brasília, e durante toda a sua vida sonhou em ser enfermeira.  A carreira precisou ser colocada em segundo plano devido aos cuidados domésticos e maternidade. Ela teve seis filhos e hoje sonha com a aposentadoria que não pode solicitar por não ter o período de contribuição suficiente para a previdência.

Mulher negra, Alzira é uma das milhões de mães solo que não conseguiram contribuir com a previdência durante a vida por exercer uma função não remunerada: ser mãe e dona de casa. “Minha vida era cuidar da casa, das crianças, do marido. Não tinha tempo para mais nada. Depois que eu me separei comecei a estudar, mas não me aposentei ainda”, disse.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

O Projeto de Lei 2757/21, intitulado “Cuidado Materno Também é Trabalho”, da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), visa a aposentadoria em um salário mínimo por cuidados domésticos, computando, também, o tempo de licença maternidade. O direito poderá ser garantido às mulheres com mais de 60 anos que não possuem os anos de contribuição necessários.

Na Câmara dos Deputados, a proposta passa por uma campanha para conquistar as 257 assinaturas que garantem a aprovação do requerimento de urgência. “A nossa luta é por uma divisão social do trabalho mais justa e igual, mas enquanto isso não acontece o mínimo que podemos fazer é garantir aposentadoria às mulheres, principalmente negras, que já trabalharam a vida inteira sem receber por isso”, declara a parlamentar.

Segundo o levantamento da Oxfam “Tempo de Cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago”, os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África. O estudo mostra ainda que mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global – mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.

Além de muitas vezes fazerem dupla jornada, geralmente são as mulheres que abrem mão do emprego ou da qualificação profissional para conseguirem manter a estrutura da casa funcionando. “Muitas deixam de contribuir com a Previdência, sendo as mulheres negras e pobres as mais atingidas também nessa estrutura tão desigual. Aquelas que são mães geralmente trabalham mais, e sobretudo as mães solo – 11 milhões de mulheres no Brasil”, afirma Talíria.

Atualmente o projeto foi apensado ao PL 2647/21, da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) que também dispõe sobre a contagem de tempo de serviço, para efeitos de aposentadoria, das tarefas assistenciais de criação de filhos e filhas biológicos ou adotados. As matérias aguardam o parecer da relatora, a deputada Tereza Nelma (PSDB-AL), na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CMULHER). 

De acordo com Amélia Cardoso, de 62 anos, moradora da região de Samambaia, na capital federal, a aposentadoria é um direito que trará dignidade. “Esse é o maior sonho que eu tenho, que eu tenha uma velhice com o mínimo de dignidade”, conta a mulher que trabalha como camelô no centro de Brasília. Ela tem quatro filhos e passou a maior parte da vida precisando se desdobrar entre cuidar das crianças, do esposo e trabalhar como servente em escolas e hospitais.

O projeto de lei é inspirado no PL aprovado dia 19 de julho de 2021 na Argentina denominado “Programa Integral de Reconhecimento de Tempo de Serviço por Tarefas Assistenciais”, que concede o direito para mulheres com 60 anos de idade ou mais que não completaram o tempo necessário de atuação no mercado de trabalho para se aposentar devido às tarefas da maternidade. O projeto criado no país vizinho também amplia o direito às trabalhadoras com carteira assinada, possibilitando que o tempo da licença-maternidade seja incorporados à contagem do tempo de serviço.

Leia também:Deputadas negras se destacam na destinação de verbas para populações vulneráveis

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano