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Sérgio Camargo fora da Palmares: relembre polêmicas e ataques ao movimento negro

Ex-presidente da Fundação Palmares foi exonerado nesta quinta-feira (31) para ser candidato à Câmara dos Deputados; ele coleciona ataques à imprensa, episódios de censura e de perseguição aos movimentos sociais

A imagem mostra Sergio Camargo, à esquerda e Jair Bolsonaro, à direita de pé e sorrindo. Eles vestem terno e gravata escuros

Foto: Reprodução/Twitter

31 de março de 2022

Ataques à imprensa, censura a acervos bibliográficos, perseguição a colegas de trabalho e repressão aos movimentos sociais: são inúmeras as polêmicas que envolvem o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, exonerado do cargo nesta quinta-feira (31). Filiado ao Partido Liberal (PL), mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, Camargo deve concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo estado de São Paulo. 

A Alma Preta Jornalismo acompanhou o mandato de Camargo desde que assumiu a Palmares, no final de 2019, e foi responsável por expor processos onde ele é investigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por assédio moral, pautando também outros veículos como a Folha de S.Paulo. A perseguição à imprensa levou Camargo a ser condenado a pagar R$5 mil de indenização por descumprir a ação judicial cautelar de não fazer ataques a qualquer meio de comunicação em suas redes sociais particulares ou da fundação.

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Contrário ao Dia da Consciência Negra, Sérgio Camargo coleciona afrontas à data e ao movimento negro. Entre uma das as declarações mais controversas está a de que a escravidão havia sido “benéfica” para a população negra. As falas levaram a Defensoria Pública da União (DPU) a pedir a suspensão de sua nomeação.  

O ex-gestor da Palmares também atacava as religiões de matriz africana. “Não vai ter nada para terreiro enquanto eu estiver aqui dentro, zero, nada. Macumbeiro não vai ter um centavo”, declarou. Ele censurou biografias de personalidades negras que marcaram a história do movimento no país, entre elas Zumbi dos Palmares, o abolicionista Luiz Gama e a escritora Carolina Maria de Jesus.

O sambista Martinho da Vila, em sua participação no programa Roda Viva, chegou a criticá-lo chamando-o de “preto de alma branca”. Logo após, Camargo decidiu processar Martinho por racismo e disse em suas redes sociais: “Pretos racistas da esquerda precisam aprender”.

Em julho de 2021, a Coalizão Negra por Direitos enviou uma denúncia à ONU contra Sérgio Camargo por violações de direitos humanos e aos interesses da população negra. No relatório, a Coalização aponta os ataques do presidente da Fundação Palmares a militantes do movimento negro e a tentativa de descredibilização da história e importância dos africanos no Brasil. No Twitter, Sérgio Camargo chegou a comparar o texto do guerrilheiro baiano Carlos Marighella aos do nazista Hitler.

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Sérgio Camargo anuncia pré-candidatura a deputado federal pelo PL de São Paulo. Foto: Reprodução/Instagram

A possível cadeira na Câmara

A exoneração de Camargo foi assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira e publicado no Diário Oficial da União. Trata-se de um ato político para cumprir o prazo de desincompatibilização, que termina no sábado (2). Além de Camargo, mais 10 ministros do Governo Federal foram exonerados para que possam concorrer a cargos públicos na Câmara, Senado e nos governos estaduais.

“Comunico a todos que vou disputar uma cadeira na Câmara Federal pelo Estado de São Paulo. Sou filiado ao PL”, escreveu Camargo em sua conta no Instagram. “Se eleito, defenderei uma pauta antivitimista, de negro de direita. Chega de mimimi!”, concluiu.

A filiação ao PL foi anunciada na terça-feira (29). No Twitter, Camargo escreveu: “”Filiei-me ao PL! Negros não precisam ser vítimas. Negros são livres. Pretos e brancos unidos. Palmares digna. Bolsonaro até 2026. Sigamos, patriotas!”

Última ação à frente da Fundação Palmares

Antes de se desligar da Palmares para concorrer a deputado federal, Camargo fez questão de restabelecer o Conselho Curador, o órgão colegiado que ficou quatro anos sem funcionar e terá um mandato de três anos permitida a recondução, segundo regimento. “Pela primeira vez na história da Palmares, um conselho à altura dos brasileiros de bem”, escreveu em suas redes sociais ao anunciar o grupo, no dia 18 de março. 

O Conselho é composto por 10 pessoas negras assumidamente conservadoras e nomeadas pelo então ministro do Turismo, Gilson Machado, também exonerado. Dessas, seis são membros da sociedade civil, chamados de representantes da Comunidade Afro-Brasileira e Indígena, e quatro são membros do governo.

Os integrantes contam com o próprio ex-ministro Gilson Machado e com Sérgio Camargo, como membros natos. Segundo a Fundação Palmares, cabe ao conselho o controle do orçamento e das prestações de contas da entidade, além de propor, ao Ministério do Turismo, “critérios, prioridades e procedimentos para a aprovação de projetos culturais apoiados por recursos do Fundo Nacional da Cultura”. Outra atribuição é avaliar a execução orçamentária anual, para apresentar sugestões de aperfeiçoamento de gestão. 

De acordo com o Portal da Transparência, o orçamento da Fundação Palmares para 2022 é de R$24 milhões. Nos quatro anos anteriores (2018, 2019, 2020 e 2021) a média orçamentária da instituição foi muito próxima disso, R$23,96 milhões.

Leia também: Pacote Verde em julgamento no STF pode impactar populações negras e tradicionais

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