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Somente 1 a cada 26 candidatas negras foi eleita em 2024

Apesar do dado alarmante, o número de candidatas eleitas cresceu na comparação com 2020, mas as mulheres negras seguem sub-representadas na política dos municípios
Tainaá de Paula, vereadora do PT reeleita no Rio de Janeiro com mais de 49 mil votos.

Foto: Reprodução/Instagram

12 de outubro de 2024

Das quase 80 mil mulheres negras candidatas para todos os cargos nas eleições municipais de 2024, 10,9%(4.993 das quais 4.292 pardas e 701 pretas) foram eleitas, mais que o dobro de 2020, quando houve 4,5% (4.026) de mulheres negras eleitas em primeiro turno (3.510 pardas e 516 pretas). 

Os números, divulgados com exclusividade pela Alma Preta, são de um levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em parceria com a Common Data, com base em dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Os homens negros representaram 33,9% do total de candidaturas para todos os cargos, sendo 7,1% pretos e 26,8% pardos. Homens negros estão em maior proporção entre eleitos no primeiro turno, de 37% (38,4% para vereador e 29,3% para prefeitos). 

Os homens brancos, que representavam 30,9% dos candidatos, são 57% dos eleitos para prefeituras e metade dos eleitos (49,9%) para vereança. Isto é, um em cada quatro candidatos brancos foi eleito, enquanto de um  a cada seis homens negros foi eleito. Para mulheres brancas, uma em cada 10 foi eleita, para mulheres pretas essa proporção é de uma para cada 26.     

Segundo o levantamento, considerando homens e mulheres e o fator racial, os prefeitos brancos eleitos são quase o dobro dos negros (pretos e pardos). Se considerada somente a cor/raça preta, a proporção é de mais de 28 brancos para um preto eleito.

José Antonio Moroni, integrante do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e da Plataforma dos Movimentos Sociais por outro Sistema Político, avalia que o aumento no número de mulheres negras eleitas é um reflexo dos esforços da mobilização de mulheres negras, mas a representação desse grupo na política municipal ainda precisa avançar.

“Precisamos reconhecer que a princípio isso é uma vitória do movimento de mulheres negras, que construiu estratégias robustas para disputar os espaços de poder, mas mesmo com o aumento, o número de candidatas eleitas está muito abaixo do ideal”, aponta, em entrevista à reportagem.

Para Moroni, uma das barreiras para que mais mulheres negras sejam eleitas é a limitação do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC) em 30%. O representante do Inesc, responsável pelo levantamento, defende que a distribuição de recursos deveria ser feita de forma proporcional.

Mulheres negras são 33% das prefeitas eleitas e 41% das vereadoras

Dos 5.471 municípios que já elegeram prefeitos, 52 terão segundo turno. Das 26 capitais brasileiras, 15 ainda não definiram seus prefeitos.   No primeiro turno, prefeitos do espectro político de direita lideram entre os eleitos, com 3.363, 61,46% do total. Em seguida estão os de centro, com 1.313 eleitos (23,99%), e, por último, os de esquerda, com 795 (14,53%).

Além disso, as prefeituras serão chefiadas por mulheres em pelo menos 13% dos municípios (724) e 15 mulheres seguem na disputa para o segundo turno.  Dentre as já eleitas, 33,1% são mulheres negras, 66% brancas, 0,7% amarelas e 0,1% indígenas. Ao menos 18,81% dos municípios brasileiros terão uma vice-prefeita mulher. 

Das 1.048 vice-prefeitas eleitas, 648 são brancas (61,83%), 383 (36,54%) são negras e quatro (0,38%) são indígenas. Houve um aumento de 18% de mulheres na vice-prefeitura, em relação à 2020. A proporção de mulheres negras se manteve parecida: em 2020, 36,86% das vice-prefeitas eleitas eram negras. 

Para o cargo de vereadora, foram 18,2% de mulheres eleitas, das quais, 41% são negras e 57,8% brancas. Proporcionalmente esses números representam um avanço, ainda que discreto, em relação a 2020, quando as mulheres negras representavam 39,3% das vereadoras eleitas e as brancas, 59%.

“Trata-se de um avanço que mais demonstra as exceções e o quanto o sistema é racista, do que propriamente algo que aponte para um futuro de paridade racial nos espaços de poder. Com as lutas de mulheres, do povo negro e de seus aliados, vamos conquistar isso, mas não vai ser de maneira tranquila porque sabemos como o racismo opera. Basta ver a violência política contra as mulheres negras. O desafio agora é garantir que elas possam exercer plenamente seus mandatos”, analisa Moroni, do Inesc.

Amanda Pachoal, vereadora do PSOL eleita em São Paulo com mais de 100 mil votos.
Amanda Paschoal, vereadora do PSOL eleita em São Paulo com mais de 100 mil votos. Foto: Reprodução/Instagram

MDB, PSD e PP foram os partidos com mais pessoas negras eleitas

Os partidos que mais elegeram pessoas negras foram MDB (3.971), PSD (3.577) e PP (3.227).  Enquanto 18% das candidaturas brancas foram eleitas, 23,3% das candidaturas da cor/raça negra conseguiram a eleição.

Entre 2016 e 2024, houve uma redução no total de candidaturas para vereador, explicada em parte pela alteração trazida pela Lei 14.211, de 2021, que limitou as candidaturas por partido ao número de cadeiras nas câmaras legislativas. Segundo o levantamento do Inesc, todos os espectros aumentaram a proporção de eleitos, mas esse dado se desdobra de maneira diferente para cada um deles, uma vez que numericamente a direita tinha muito mais candidaturas. 

Para os partidos de direita, embora entre 2020 e 2024 tenham ido para as urnas quase 30 mil candidatos a menos (-10,9%), os partidos desse espectro conseguiram ampliar a quantidade de eleitos em 9,4% (de 30.571 em 2020 para 33.435 em 2024). 

Na esquerda, a queda ocorreu de maneira pronunciada em ambos os casos, com 24,3% menos candidatos do que em 2020 e elegendo, em 2024, 12,2% a menos do que naquele ano (de 12.663 em 2020 para 11.116 em 2024). 

Quatro partidos de esquerda não elegeram nenhum candidato (eram 465 candidatos somados): UP, PCB, PCO e PSTU. Na direita, este fenômeno não aconteceu. Para partidos de centro, a redução de candidaturas de vereador foi de 19,2% e, entre os eleitos, de 6,7% (de 14.889 em 2020 para 13.888 em 2024).

Apesar da queda no número de candidaturas, a direita ainda é o espectro com maior quantidade de cadeiras ocupadas, resultando num aumento de 4,6% na proporção de eleitos desde 2020. Já a esquerda, que teve uma redução significativa de 24,3% na quantidade de candidaturas, teve como reflexo uma queda na quantidade de eleitos de 12,2% no mesmo período, com ocupação nas câmaras legislativas municipais também reduzida, em 2,8%. 

  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Passagens por UOL, Estadão, Automotive Business, Educação e Território, entre outras mídias.

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