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Propostas de promoção da igualdade racial podem ser um diferencial nas eleições de 2022

Candidato líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula (PT) se reaproxima do movimento negro; ações afirmativas, políticas raciais e pautas antirracistas serão temas cobrados das candidaturas

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Instituto Lula

lula em reunião sobre pauta racial com o movimento negro

14 de julho de 2021

A eleição presidencial de 2022 será disputada em um cenário de tensão social diferente daquele de 2018. A pauta de promoção da igualdade racial, um ponto fraco na gestão Bolsonaro, deve ser um dos diferenciais da campanha, segundo especialistas. As pesquisas de intenção de voto, por sua vez, apontam que Lula tem a preferência dos eleitores negros. 

“A reaproximação de Lula com o Movimento Negro tem conexão com o crescimento dos ataques contra a população negra, contra as religões de matrizes africanas e contra os direitos dos quilombolas desde 2018. São violências físicas, psicológicas ou políticas que ganharam destaque. Logo, o programa de governo pode vir com propostas mais abrangentes para a população negra”, diz a cientista política Juliana Silva.

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Ela avalia que, por ter feito um governo com avanço na questão racial (apesar das críticas), Lula tem potencial para retomar a implantação de políticas afirmativas.

Já no PSB, a filiação de Joaquim Barbosa indica uma possível candidatura negra independente para o ano que vem. “Mas há uma chance considerável de que o partido entre na coligação para eleger Lula e derrotar Bolsonaro”, acredita Silva.

Uma frente de luta contra o governo Bolsonaro seria um fator relevante, pelo menos por enquanto, na possível adesão de entidades negras aos candidatos para a eleição de 2022, avalia o sociólogo Fábio Nogueira, militante do Círculo Palmarino.

“Os atos Fora Bolsonaro, o combate ao genocídio da população negra, o caráter racista do negacionismo do governo na pandemia e a questão do auxílio-emergencial são as questões prioritárias. Por enquanto, as movimentações de apoios e composições ainda são tímidas. O cenário, com a chance de reeleição do Bolsonaro, cria uma polarização que aproxima o movimento negro e o Lula”, aponta o sociólogo.

Para Nogueira, uma possível candidatura de Ciro Gomes não teria a mesma identidade. “Na campanha eleitoral passada, Ciro fez críticas ao movimento negro e ao que chamou de ‘pautas identitárias’. Isso marcou o nome dele. Agora ele faz movimentações para atrair parte do movimento negros, mas não tem a mesma força”, lembra.

Em 2018, na corrida eleitoral, a campanha do Fernando Haddad propôs a criação de um Sistema Nacional de Direitos Humanos a partir de uma conferência nacional, que teria como um dos objetivos criar políticas de promoção da igualdade racial.

“O combate ao racismo e ao machismo, que têm em Bolsonaro um de seus maiores porta-vozes, é estratégico e necessário na construção da democracia de alta intensidade pela qual lutamos”, diz um trecho do programa de governo da coligação ‘O Povo Feliz de Novo, do PT, PCdoB e PROS, apresentado pelo candidato Fernando Haddad (PT), na última eleição presidencial, em 2018.

 Aproximação

O professor de jornalismo da USP (Universidade de São Paulo) Dennis de Oliveira lembra que muitos militantes históricos do Movimento Negro eram também quadros do PT e fizeram parte do governo Lula, como a Matilde Ribeiro e a Luiza Bairros – ambas ministras da Sepir (Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial).

“O que acontece agora é que alguns nomes de setores que não eram tão próximos do PT, com a Douglas Belchior e Sueli Carneiro, estão se aproximando”, afirma Oliveira, autor do livro “Racismo Estrutural: uma perspectiva histórico-crítica”, lançado este ano pela editora Dandara.

Segundo o professor, é importante que um programa de governo com foco na luta dos negros tenha, além de ações afirmativas, um projeto de enfrentamento à violência. “É preciso rever a militarização da segurança, a chamada guerra às drogas, que leva ao encarceramento em massa de negros e negras”, diz.

Outro ponto que Oliveira considera fundamental é garantir a chegada da democracia nas periferias. “A reforma trabalhista de 2018 levou muitos jovens negros para o mercado precarizado. O conjunto de reformas neoliberais aprovadas a partir de 2016 também deveriam ser revistas”, acredita o professor.

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