Líder comunitário no Complexo do Nordeste de Amaralina, comunidade em Salvador, Anderson Mamede foi vítima de fake news após publicar um vídeo com o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva, feito durante uma passeata realizada na último dia 12/10, na capital baiana. Dois dias depois, Anderson foi alertado por amigos e familiares que estava sendo apontado como “traficante” e suspeito de envolvimento no tiroteio ocorrido durante a campanha do candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio Freitas, em Paraisópolis.
No mesmo dia, o ator Diego Raymond, morador do Complexo do Alemão, também havia sido apontado como traficante após publicar uma foto com Lula na comunidade. Nas redes sociais, Raymond, que foi absolvido por tráfico de drogas em 2010, rebateu as acusações e reforçou a sua absolvição.
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“O ‘cidadão’ na foto é Diego, ator de série de sucesso (estréia da nova temporada de A Divisão prevista para meados de 2023), modelo, atleta de futebol americano e de crossfit, absolvido de todas as acusações e que teve uma origem difícil, como a maior parte dos brasileiros, mas segue a luta diária do preto e pobre”, escreveu em uma rede social.
Em comum, tanto Anderson quanto Diego são homens negros, moradores de favelas, que se tornaram alvo de grupos bolsonaristas.
“O favelado está sendo discriminado por morar na favela. Só porque a gente mora na favela a gente está sendo discriminado, a gente é taxado de ladrão e traficante”, desabafa Anderson.
Conhecido como “Rasta” ou “Dacola”, Anderson realiza ações sociais na comunidade do Nordeste de Amaralina e conta que ficou preocupado por temer por sua vida diante da repercussão da fake news. Segundo Mamede, até a sua mãe, que mora em São Paulo, ficou assustada com o ocorrido.
“Foi uma coisa chata porque a gente que mora em comunidade não sabe o que pode acontecer com a gente a qualquer momento, ainda mais tendo a nossa foto vinculada com coisas erradas. A gente fica preocupado”, diz Mamede à Alma Preta Jornalismo.
Na fake news, vinculada a grupos bolsonaristas, Anderson é apontado como “cabeça cara” do Nordeste de Amaralina e associado ao episódio envolvendo um tiroteio durante uma campanha do candidato ao governo de São Paulo, Tarcisio de Freitas.
“A gente que mora na favela sabe que quando rola uma operação, você que é pai de família, trabalhador, você pode ser o que for, mas você é suspeito. Você já vai sendo conduzido como se fosse o verdadeiro criminoso. Até que chegue na delegacia e prove o contrário, você já foi criminalizado, já está algemado e sua foto já foi tirada”, comenta.
Ele prestou queixa e abriu um boletim de ocorrência na 28ª Delegacia Territorial do Nordeste de Amaralina e entrou em contato com advogados. A Alma Preta entrou em contato com a Polícia Civil, que sugeriu que a equipe entrasse em contato com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), que respondeu que apura o caso e busca a identificação dos responsáveis pelo delito. Além disso, uma oitiva foi marcada para esta segunda-feira (24) para a vítima prestar depoimento..
Atualmente à frente da Associação Cultural do Nordeste de Amaralina (ACNA), Anderson Mamede realiza atividades de boxe e capoeira para os jovens do bairro do Nordeste de Amaralina e também é fundador do time “Bola 7”, que disputa torneios de futebol nos bairros do Areal e na Bariri.
Nascido e criado na comunidade, Anderson Mamede pretende adotar projetos para profissionalização e reforço escolar para as crianças e adolescentes e fala sobre a importância da ação social para a formação e conscientização dentro e fora das periferias.
“A favela tem sonhos, tem vontade. A gente precisa de gente para apoiar a favela. Uma fake [news] pode destruir o sonho – não só o meu – de toda a comunidade”, completa.
Confira o vídeo sobre o que são fake news, o primeiro episódio da série ‘É tudo mentira?’, disponível no canal da Alma Preta no YouTube.
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