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Vídeo com policial não prova que invasão ao Congresso foi ‘farsa’

Post engana ao afirmar que o Congresso não foi invadido em 8 de janeiro de 2023 e que a invasão por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não passaria de uma farsa.
A imagem mostra homens comemorando a invasão ao Congresso Nacional, em Brasília, em janeiro de 2023.

A imagem mostra homens comemorando a invasão ao Congresso Nacional, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

— Marcelo Camargo/Agência Brasil

27 de março de 2025

Post engana ao afirmar que o Congresso não foi invadido em 8 de janeiro de 2023 e que a invasão por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não passaria de uma farsa. Como foi possível acompanhar ao vivo por veículos de comunicação e como mostram documentos como o relatório final da Polícia Federal e a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre os atos antidemocráticos, os manifestantes foram orientados por um grupo do qual fazia parte Bolsonaro.

Conteúdo investigadoPost com legenda dizendo que “nunca houve invasão dos patriotas” e “acabou a farsa”. O vídeo mostra um homem afirmando que acompanhou um policial que entrou no local e que ele teria dito “A gente está com vocês”. Atrás desse homem há pessoas com a bandeira do Brasil amarradas ao corpo falando com um policial e, sobre o vídeo, o texto: “A polícia chamou os patriotas pra dentro do Congresso. Patriotas não invadiram nada; Acabou a farsa do ‘golpi’”.

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Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Diferentemente do que afirma post viral, o Congresso foi invadido em 8 de janeiro de 2023. Uma publicação nega o ocorrido dizendo que as pessoas entraram nas sedes dos três Poderes, em Brasília, com o apoio da polícia, o que não é verdade.

Conteúdos de desinformação tentando tirar a culpa dos golpistas circulam desde 2023. Exemplo: um dia após o ataque antidemocrático, o Aos Fatos publicou que os manifestantes acusavam falsamente pessoas infiltradas pelo vandalismo. Segundo o veículo, em reportagem publicada um dia depois da invasão, os próprios manifestantes, bolsonaristas, divulgaram imagens em que celebravam os atos de vandalismo.

Os ataques de 8 de janeiro, que puderam ser acompanhados ao vivo, foram feitos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como mostra o relatório final da Polícia Federal. O documento afirma haver elementos que comprovam a “interlocução entre lideranças das manifestações antidemocráticas e integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro para dar respaldo e intensificar os movimentos de ataque às instituições”.

E, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o caso, os manifestantes foram orientados por um grupo do qual fazia parte Bolsonaro. O documento narra que “os participantes daquela jornada desceram toda a avenida que liga o setor militar urbano ao Congresso Nacional, acompanhados e escoltados por policiais militares do Distrito Federal” e que “mais adiante, a multidão, que estava contida em lugar a distância cautelosa da Praça dos Três Poderes, viu-se livre de todo obstáculo policial para ali chegar e tomá-la de assalto”.

No vídeo usado no post verificado, um homem dentro do Congresso afirma que um policial teria dito que estava apoiando os manifestantes. O Comprova não conseguiu confirmar a afirmação, mas, ainda de acordo com a PGR, policiais estariam alinhados com o movimento golpista. Em fevereiro deste ano, o procurador-geral, Paulo Gonet, pediu a condenação da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal por conta dos ataques.

Carolina Barreto Siebra, advogada do homem que aparece no vídeo, reafirmou o conteúdo do post em contato com o Comprova. “Eles foram chamados para entrar, sim, e os policiais ainda disseram que eles se mantivessem lá, que era o local mais seguro”, disse. Informada de que não foi isso o que foi informado na ação penal contra seu cliente, ela respondeu que o documento “não conseguiu provar absolutamente nada, não individualizou conduta alguma”.

A reportagem tentou contato com o autor do post, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado mais de 285 mil vezes até 20 de março.

Fontes que consultamosRelatório final da Polícia Federal e denúncia da Procuradoria-Geral da República sobre os atos golpistas, ação penal contra o homem que aparece no post e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, os desinformadores publicam conteúdos enganosos sobre os atos antidemocráticos desde que eles ocorreram, em janeiro de 2023. O Comprova já verificou, por exemplo, que imagens do 8 de janeiro não foram vazadas e nem provam que Lula (PT) armou invasão e que vídeo antigo de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, é usado para negar que ataques foram tentativa de golpe.

Notas da comunidade: Até a publicação desta verificação, não havia notas da comunidade publicadas junto ao post no X.

Texto originalmente publicado no Projeto Comprova, do qual a Alma Preta faz parte.

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  • O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.

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