Por: Regina Lúcia dos Santos*
Nestes dias de festas me percebi tão reflexiva acerca da solidão da mulher negra. Estive com um número enorme de mulheres negras na última quinzena de dezembro e o que meus olhos viram foram inúmeras mulheres sós, com o olhar triste, sem brilho, apesar do sorriso no rosto. Estes olhares me levaram a pensar como o racismo é muito mais perverso, muito mais pesado pra mulher negra.
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São muitos os fatores incrustados no racismo que provocam isso. Ser a base da pirâmide econômica talvez seja o principal deles, mas não único. O empobrecimento e o fato de chefiar grande parte das famílias negras, mães solo, filhas cuidadoras, é um fardo que faz com que nós mulheres negras deixemos de ser exigentes com os amores. Faz com que, muitas vezes, não percebamos os relacionamentos abusivos, com que aceitemos pouca ou qualquer atenção, como se só pudéssemos ter isso.
A cultura do padrão de beleza branco, que rebaixa a nossa autoestima, contribui enormemente para que o sentimento de inferioridade que ele provoca nos faça baixar a expectativa em relação aos afetos, por isso é vital para a saúde mental do povo negro descortinar o nosso olhar sobre nós, trabalhar o quão lindas e sofisticadas somos, o quanto nossa afetividade não cabe nas caixinhas que a branquitude nos reserva, o quanto o afeto, o carinho, o amor negro, descolonizado, sem as amarras da branquitude, nos protege, engrandece e salva.
Daí chego à conclusão que é vital, para a população negra em geral, toda a discussão, a movimentação política que o movimento de mulheres negras faz no Brasil e no mundo porque a luta contra o patriarcado vem colado com a luta contra o racismo nas relações de gênero.
Precisamos falar, discutir, problematizar nossos amores, afetos, relacionamentos para que eles se tornem a cura para as dores que o racismo nos causou e para que não seja mais motivo de adoecimento.
* Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado, em São Paulo.