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Nossa luta assusta esse país extremamente racista

Regina Lúcia dos Santos e Milton Barbosa discutem composição do Congresso Federal para o próximo mandato e resultados da luta antirracista nas eleições

Imagem: Caio Guatelli/AFP

Foto: Imagem: Caio Guatelli/AFP

13 de outubro de 2022

Escrever sobre o resultado do primeiro turno das eleições e as relações raciais neste país demanda um misto de emoções. Alegre por algumas candidaturas que saíram vitoriosas e que de alguma forma representa um aumento de diversidade em algumas Assembléias Legislativas pelo Brasil afora. Mas perceber um baixo aumento percentual de negros e negras, de mulheres, gays, lésbicas, travestis e transgêneros na Câmara Federal, além de ter que lidar com a fraude escancarada na destinação dos recursos para as candidaturas negras e da respectiva eleição desses fraudadores falseando os números que se apresentam para a sociedade brasileira, é uma coisa que enfurece qualquer pessoa que está na luta de combate ao racismo.

Há também o aumento da representação dos partidos conservadores no Senado e na Câmara Federal. O significado disso no combate ao racismo é algo sem precedentes, porque estes partidos tocam pautas que afetam negativamente as políticas públicas que atingem substancialmente a vida da população negra. Retirada de investimentos públicos da saúde, da educação, da cultura – em especial a periférica – entre outras políticas publicar vão afetar a vida cotidiana desta população.

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Há também a questão da necessidade de um maior letramento racial de toda a sociedade brasileira que não incorporou a pauta do movimento negro como necessidade básica da política no Brasil, já que a desigualdade racial é o maior flagelo econômico, social e político do nosso país.

Lideranças negras que construíram uma história muito forte nas últimas décadas – em estados como Santa Catarina, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro – não foram eleitas e porque a pauta racial foi de fato a única novidade neste pleito eleitoral tão importante para nossa história, nos dá a medida de como nossa luta assusta este país extremamente racista. Daí os sentimentos de tristeza e de frustração com a cara da Câmara Federal e do Senado que continua branca, apesar das fraudes, masculina e heteronormativa, conservadora e muito distante das necessidades efetivas da nossa população.

Leia mais: Eleições 2022: Se trata da luta contra o racismo, é sobre nossa vida

Por tudo isso no segundo turno, 30 de Outubro, o movimento negro brasileiro se mobiliza para eleger Lula presidente e os governadores que proponham uma pauta progressista que ataque as diversas mazelas impostas pelo racismo.

Fraudes: crimes eleitorais que tem que ser enfrentados

Necessário a criação de uma comissão de heteroidentificação para a Câmara Federal e o Senado. E, constatadas as fraudes, visíveis a olho nu, das últimas eleições, é necessário a cassação dos fraudadores. Necessário que se imponha alguma seriedade a destinação das verbas para as candidaturas negras, o nosso judiciário, TSE e TREs, tem que agir com celeridade nesses casos.

*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa é um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU.

Leia também: “É absurdo que tenhamos um presidente que ataque parte da nação”, diz Najara Costa

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