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Pelo fim do braço armado de manutenção do racismo

Em coluna de opinião, Regina Lúcia dos Santos, do Movimento Negro Unificado (MNU), explica as razões de defender o fim do policiamento militar
A Polícia Militar reprimiu a manifestação de universitários da USP, com bombas de feito moral e gás lacrimogêneo, os estudantes protestavam na Avenida Paulista, em São Paulo.

Foto: Fernanda Cruz/Agência Brasil

29 de abril de 2024

Por: Regina Lúcia dos Santos, geógrafa, ativista e coordenadora de formação do Movimento Negro Unificado (MNU), em SP

Num primeiro momento somos levados a ler esta frase só como palavras de ordem da esquerda, mas não se trata disso. É na verdade uma luta urgente de combate ao racismo. 

A concepção do militarismo em defesa e segurança é da existência de um inimigo a ser combatido, a ser eliminado.  A Polícia Militar nos diversos estados brasileiros entende como inimigo a população negra, principalmente o homem negro e jovem. 

Desde sempre, do período escravagista aos dias de hoje, a segurança pública patrimonialista sempre se baseou na contenção dos corpos negros escravizados e posteriormente libertos.  

Segundo estudo da Rede de Observatórios de Segurança, 87,35% dos mortos por intervenção policial em 2022 eram negros e desses 52,9% tinham entre 12 e 24 anos. 

Temos o registro de casos extremamente revoltantes, como a chacina de Costa Barros (RJ), a Chacina do Cabula (BA), a Chacina do Curió (CE), o caso de Douglas Martins Rodrigues, 17 anos (SP), de Edneia Fernandes, 31 anos, na Baixada Santista, o de Claudia Silva Ferreira,  38 anos, no Rio de Janeiro, além de outros no estado fluminense como o de Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos, Kathleen Romeu, 24 anos, e João Pedro Matos Pinto, 14 anos. Exemplos de tantos outros corpos negros e de crianças mortas em ações policiais não faltam Brasil a dentro.

Este estado de coisas tem a ver  com o racismo que anda as largas no Brasil, onde não só os corpos negros, mas também os territórios majoritariamente negros parecem que  estão lá para ser violados pela PM e agora também pelas GCMs. Onde se atira primeiro, para se verificar e investigar depois. Onde se pode chegar metendo o  pé na porta sem mandato já que ali, no território e naquele corpo, está o inimigo a ser contido. 

Emblemático também é o caso do policial que foi atender a uma ocorrência de violência doméstica num condomínio de luxo da Grande São Paulo e foi recebido por um homem branco com xingamentos e ameaças e o policial nada fez. Também a ação policial contra o político Roberto Jefferson, que recebeu os policiais com tiros de fuzil  e granadas. Ambos estão vivos, afinal brancos e ricos, e os policiais não usaram de violência para contê-los. E isso coloca a questão de que no seu âmago a polícia opera com racismo.  Aí nós negros nos pomos a pensar que não acabou, tem que acabar, queremos o fim da Polícia Militar, esse braço armado de manutenção do estado racista.

A saída é com certeza uma segurança cidadã regulada pelo policiamento com conhecimento da comunidade, não como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), violência policial institucionalizada no território, mas como as Kobans japonesas ou as polícias comunitárias de alguns  países europeus e que a sua chegada seja precedida de serviços e políticas públicas que proporcione o bem viver pra população negra em seus territórios. 

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