Com manifestações em pelo menos dez capitais, movimentos sociais foram, na manhã de hoje (18), às ruas de todo o país, pedindo a volta do auxílio emergencial até o fim da pandemia. No ato, convocado pela Coalizão Negra por Direitos, usando pratos e panelas vazias, os manifestantes trouxeram à tona a realidade que assola boa parte da população negra que depende do auxílio emergencial: a fome.
Este é o segundo ato nacional e, de acordo com os membros dos movimentos sociais envolvidos na ação, ainda há muita luta pela frente. O início do dia foi marcado por atos em São Paulo, Belém, Belford Roxo (RJ), Aracajú e mais 37 cidades. No Rio de Janeiro, os manifestantes se reúnem ainda hoje às 18h, em frente à Assembleia Legislativa. No mesmo horário, as articulações sociais em Cuiabá protestam na Praça da Mandioca, no Centro Histórico da cidade. Ao todo, serão 39 atos em todo o país.
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Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro falou sobre a possibilidade de mais quatro parcelas de R$200,00 e o principal objetivo da Coalizão, através dos atos, é pressionar as autoridades responsáveis para que o auxílio volte e se mantenha no valor anterior até o fim da pandemia. Em carta aberta, a Coalizão explica que “é pela vida de milhões de brasileiros que reivindica a manutenção do auxílio emergencial”, contando com a sensibilidade, responsabilidade e comprometimento dos governantes do país.
A população negra sofre com as consequências do período pandêmico enfrentado no Brasil, sendo a parcela da população mais suscetível ao contágio e a mais prejudicada pela instabilidade financeira do país e o fim do suporte dado pelo governo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil voltou ao mapa da fome e o crescimento no índice de desemprego agrava a situação. Em levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado em dezembro do último ano, cerca de 14,1 milhões de pessoas estavam desempregadas no país.
Recife
Representantes da Coalizão Negra por Direitos de Pernambuco estiveram na Câmara dos Vereadores, no Recife, em duas horas de ato. Entre as pautas levantadas, a reivindicação do acesso à vacina contra a COVID-19 para todos e a cobrança pela volta do pagamento do auxílio emergencial, que interfere diretamente na sobrevivência no dia a dia da população em situação de vulnerabilidade. Organizações como Mulheres Negras de Terreiro, Movimento Negro Unificado e a Articulação Negra de Pernambuco compareceram na atividade.
O manifesto oficial feito pela Coalizão foi entregue junto à Câmara Municipal, com a presença dos vereadores Liana Cirne (PT), Dani Portela (PSOL) e Ivan Moraes (PSOL), que asseguraram apoio ao movimento em discursos feitos durante a ação. O documento ainda seguiu para outras câmaras pertencentes à Região Metropolitana. Em Olinda, chegou em mãos ao gabinete do vereador Vinicius Castello e em Paulista à vereadora Flávia Hellen, ambos do Partido dos Trabalhadores.
A vereadora mais votada do Recife nas últimas eleições, Dani Portela, esteve presente na atividade e, entrevista para a Alma Preta, associa à ação ao combate das desigualdades sociais pré-existentes no país acentuadas pelos impactos gerados com a pandemia pela chegada do COVID-19.
“A gente vive uma crise sanitária, mas que traz consequências sociais e econômicas gravíssimas, que aprofundam as desigualdades. Esse racismo estrutural se mostra ainda mais forte com a pandemia pela COVID-19. Por isso, a nossa pauta é pela defesa do SUS, por vacina para todas as pessoas e a garantia de uma renda, que não seja apenas emergencial, mas, sim, permanente. A fome não espera”, declarou Dani.
O membro da Articulação Negra de Pernambuco (ANEPE), Jackson Augusto, revela não conceber falta de melhorias em políticas de assistência para a população em estado de vulnerabilidade social, enquanto medidas não urgentes estão sendo priorizadas pelo atual Presidente da República, Jair Bolsonaro.
“É muito importante estarmos hoje fazendo esse ato, principalmente enquanto população negra, visto o decreto do presidente Jair Bolsonaro sobre a ampliação do acesso às armas e a flexibilização do porte. Diante de um governo que serve de arma e bala ao povo, nada mais emblemático do que colocarmos pratos e panelas vazias. É nosso direito ter comida na mesa, ter acesso à vacina. O auxílio emergencial nada mais é que a garantia da nossa sobrevivência e isso não é um favor”, reflete Jackson.
Em pauta na ação, o coletivo ainda pede ampla cobertura vacinal e o fortalecimento dos Benefícios de Prestação Continuada, viabilizado pelo INSS e previsto na Lei 8.742.
São Paulo
Com a participação de organizações sociais e mandatos coletivos, entre eles o Quilombo Periférico (PSOL) e o Coletivo Afronte, o ato da Coalizão Negra por Direitos aconteceu na Avenida Paulista, em frente ao prédio do Banco Central. Com faixas e megafones, os manifestantes chegaram a fechar uma das vias da movimentada avenida da capital com a palavra de ordem: “Tem gente com fome!”
“O movimento negro está se mobilizando no país inteiro para chamar atenção do governo para que eles atuem contra a extrema pobreza que avança no Brasil, da fome que assola o nosso povo”, explica Douglas Belchior, ativista pela luta negra e membro da Coalizão. “Tem muita gente no Brasil que depende desse recurso para não passar fome, a nossa exigência é essa”, completa.
Simone Nascimento, parte da coordenação estadual do Movimento Unificado, afirma que a participação da sociedade civil é extremamente importante para pressionar as autoridades e relembra o papel das ações da Coalizão para a aprovação do Auxílio Emergencial em 2020. “Hoje foi um dia nacional de luta e nas próximas semanas, vamos continuar realizando ações em defesa dessas lutas”, conclui a manifestante.