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Pastor e defensor dos direitos humanos vai interpretar Jesus em desfile da Mangueira

Escola de samba do Rio de Janeiro traz em seu enredo a volta de um Jesus Cristo que se identifica com as pessoas marginalizadas; Pastor Henrique Vieira é conhecido por sua militância em defesa dos negros e pobres

20 de janeiro de 2020

O pastor, ator, poeta, teólogo e historiador Henrique Vieira vai interpretar Jesus Cristo no desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Com o enredo “A verdade vos fará livre”, a atual campeã do carnaval do Rio de Janeiro pretende retratar um Jesus que se identifica com os mais pobres, com os moradores de favelas e as vítimas de intolerância religiosa.

Militante de direitos humanos, o pastor da Igreja Batista do Caminho foi convidado pelo carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira. Em entrevista ao Alma Preta, Henrique Vieira conta que o objetivo da escola de samba é coerente com o evangelho cristão e importante na atualidade.

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“Eu vi na proposta da escola de samba uma conexão profunda com o evangelho. Um Jesus comprometido com a dignidade humana, acolhedor dos mais pobres e defensor da paz e da justiça. A Mangueira vai levar para a Sapucaí um Jesus mais parecido com a bíblia, que venceu o preconceito, não descartou ninguém e não comemorou a morte”, afirma.

Para o líder religioso, admirador da Mangueira desde a adolescência, há relevância em uma das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro abordar o personagem bíblico a partir de uma perspectiva antirracista.

“O racismo é uma ferida aberta na história do Brasil e impõe sofrimento e morte até os dias atuais. Diante disso, uma escola popular como a Mangueira levar uma mensagem coerente do evangelho é muito importante, principalmente porque vivemos um tempo onde as pessoas pregam um Jesus intolerante”, explica.

A expectativa de Henrique Vieira é de que, apesar de o campo evangélico ser majoritariamente conservador, as pessoas percebam os ensinamentos bíblicos na proposta da Mangueira.

“A maioria dos evangélicos são conservadores, mas esse campo religioso é diverso e eu espero que o impacto do enredo da Mangueira seja de reflexão. Minha expectativa é de que os cristãos tenham humildade para enxergar no desfile a presença dos ensinamentos do evangelho. Esse é o desejo do meu coração”, conta.

Jesus, a negritude e os direitos humanos

Com mais de 260 mil seguidores nas redes sociais, Henrique Vieira é conhecido também pelas publicações que relacionam a figura de Jesus Cristo com as pessoas em maior situação de vulnerabilidade, como os negros.

Segundo ele, do ponto de vista do evangelho, é possível notar um Cristo enraizado no povo e que assumiu a experiência dos oprimidos. “O Jesus de Nazaré se conecta diretamente com a vida de negros e negras. Seguir Jesus é ter coerência no evangelho e lutar contra o racismo que impõe violações de direitos humanos até hoje”, sustenta.

Em participação no programa Saia Justa, do canal GNT, o religioso pondera que o resgate da negritude de Jesus também se trata do reconhecimento da origem negra da bíblia. “Quando Jesus nasceu, Herodes preocupado com a revolução popular mandou matar os meninos de zero a dois anos, ou seja, Jesus acolhido pelo Egito, na África, é um sobrevivente do genocídio operado pelo estado. Quem morre da mesma maneira hoje no Brasil?”, indaga.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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