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Usain Bolt: O raio cai três vezes no mesmo lugar

15 de agosto de 2016

Texto: João Victor Belline / Edição de Imagem: Vinicius de Almeida

O cenário é sempre muito parecido. Oito homens, fortes, rápidos, incríveis, largam o mais rápido que podem para correr os cem metros mais importantes de suas vidas. É muito suor, muito esforço, muito treino, muita explosão, muita coisa para os aproximadamente dez segundos que se passarão. Pena para esses oito mortais que ao lado deles passa um raio. Lightning Bolt. Não é um raio amarelo, talvez um pouco por conta do seu tradicional uniforme ou pelas incontáveis medalhas de ouro. O homem mais rápido do mundo é preto e ninguém pode pegá-lo.

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No dia 21 de agosto de 1986, em Trelawney, na Jamaica, o casal Wellesley e Jennifer recebia o seu primeiro filho. Os irmãos Sadiki e Shirine, frutos do primeiro casamento do pai, formariam juntos à partir daquele dia a família Bolt. Nas redondezas do pequeno mercado na zona rural, Usain passava os dias jogando futebol, uma de suas grandes paixões até hoje, e críquete. Não demorou para aquelas duas pernas começarem a mostrar toda a sua velocidade.

Na escola primária Waldensia, onde estudava, o menino já era o aluno mais rápido da escola nos 100m rasos aos doze anos. Dois anos depois, Bolt já competia em campeonatos regionais e, pouco tempo depois, aos quinze anos, já ganhava suas primeiras medalhas. Apesar de praticar críquete e ter passado por outros esportes, Usain foi instruído pelo treinadores da escola a se dedicar às corridas. O ex-corredor olímpico, Pablo McNeil, foi um dos responsáveis por isso e também se tornou o primeiro técnico do jamaicano.

Na juventude, Usain Bolt já era um fenômeno. Tanto é que aos 17 anos, em 2004, ele já se tornava profissional. Enquanto júnior, entre os diversos resultados positivos que colecionou, um merece grande destaque: ele foi o primeiro, e único até agora, corredor jovem a fazer os 200m rasos em menos de 20 segundos, cravando 19s93. Em ano olímpico, Usain teve problemas antes de chegar a Atenas, onde se realizariam os Jogos. O corredor teve uma lesão no tendão e não conseguiu avançar nas eliminatórias.

Os anos seguintes foram complicados para Bolt. Com técnico novo, Glen Mills, ele enfrentou diversas lesões e, apesar de conseguir resultados expressivos, não conseguia seguir a melhor rotina de treinamentos e competições. Também nesse período, Bolt e Mills começaram a discutir sobre a estratégia para as competições: Usain queria correr, além dos 200m, os 100m. Glen, queria que ele fosse para os 400m.

Bolt se tornou o primeiro tri-campeão dos 100m rasos

Pela estatura elevada, 1,95 metros, Bolt, em tese, não seria o ideal para um corredor de tiro curto, caso dos 100m rasos. Devido à inclinação na largada, um corredor tão alto perde segundos preciosos. Os argumentos do técnico faziam todo o sentido. As pernas longas, entretanto, garantem passadas bem largas para os metros finais. Usain Bolt insistia que poderia correr menores distâncias também.

Em 2007, apesar de não conquistar nenhuma medalha de ouro, o técnico percebeu que a técnica de corrida de Bolt melhorava. Então, no começo do ano seguinte, começou a inscrevê-lo também nos 100m. Em sua segunda competição oficial naquela distância, Bolt cravou 9s76 e só não superou o recorde mundial de Asafa Powell. Pelo menos por enquanto. Em menos de um mês, em sua quinta tentativa oficial nos 100m, Usain Bolt correu a prova em 9s72 e estabeleceu o novo recorde mundial. Com os resultados, o jamaicano começou a correr as duas provas, os 100m e os 200m. Com a insistência do técnico Glen Mills, ele também começava a aceitar a ideia de tentar os 400m.

O ano de 2008 é o começo do caminho dourado do Lightning Bolt. Nas Olimpíadas em Pequim, Usain Bolt foi impecável. O jamaicano conquistou o primeiro lugar do pódio em três modalidade, os 100m, os 200m e o revezamento 4x100m, junto a Asafa Powell, Michael Frater e Nesta Carter. Todas as medalhas de ouro vieram acompanhadas de recordes mundiais.

Nos anos seguintes, em 2009 e 2011, Bolt continuava elétrico nos campeonatos mundiais: medalha de ouro nas três modalidades em Berlim, deixando escapar novo recorde mundial apenas no revezamento. Depois mais duas em Daegu, na Coréia do Sul. Usain não conquistou a medalha dourada nos 100m rasos por ter queimado a largada. Na edição coreana do mundial, a equipe jamaicana bateu o recorde no revezamento que escapara na edição anterior, com o tempo de 37s04.

Tudo caminhava, ou corria, para mais uma edição de Jogos Olímpicos de ouro para Usain Bolt, mas um ascendente Yohan Blake, de apenas 21 anos, colocava o posto do jamaicano à prova. Apesar do bom desempenho, Blake não foi páreo para Bolt nem nos 100m nem nos 200m. Depois, ambos integraram o time jamaicano no revezamento 4x100m e garantiram a terceira medalha dourada de Usain naquela edição das Olimpíadas. Com o resultado, Bolt chegou a seis medalhas de ouro.

Nos seguintes mundiais, 2013 e 2015, respectivamente em Moscou e Pequim, a história não mudou: o Raio conquistou medalhas de ouro nas três modalidade que disputa. Por mais que, de tempos em tempos, algum corredor consiga ameaçar o posto de Bolt e até conseguir tempos próximos ao da lenda, ninguém foi capaz de correr mais rápido lado a lado com Usain Bolt.

No dia 14 de agosto de 2015, a história de Bolt ganhou mais um capítulo. Dessa vez, não apenas dourado, mas também histórico. A vitória de Bolt sobre os seus rivais, além de garantir o ouro, deu ao jamaicano o posto de único corredor a vencer os 100m três vezes consecutivas. Ao ser perguntado se o raio voltaria a aparecer no Rio de Janeiro, Usain Bolt respondeu que sim, no dia 19 de agosto, quando a lenda corre os 200m para escrever mais uma vez seu nome na história dos jogos.

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