Curadoria é feita por Elânia Francisca, psicóloga especialista em gênero e sexualidade, e mestranda em educação sexual pela UNESP, campus de Araraquara. Os inscritos vão estudar pesquisadoras como bell hooks e Angela Davis.
Texto e edição de imagem/ Pedro Borges
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No dia 30 de Abril, tem início o curso online “Saúde sexual reprodutiva da mulher negra”. A formação é articulada pelo Coletivo Di Jejê e pela psicóloga Elânia Francisca, idealizadora do Núcleo “Sexualidade Aflorada” e integrante do Coletivo de Mulheres na Luta. O curso acontece na plataforma virtual e gratuita Moodle e as inscrições vão até o dia 29 de Abril.
A proposta é estudar os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres negras no Sistema Único de Saúde (SUS) e distinguir as concepções de saúde sexual e saúde reprodutiva. Outros temas importantes são a afetividade nas relações sexuais e as especificidades de mulheres negras lésbicas, bissexuais e trans.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2014 mostram que 60% dos casos de mortalidade materna têm como vítimas mulheres negras. Entre as atendidas pelo SUS, 56% das gestantes pretas e 55% das pardas afirmaram que realizaram menos consultas pré-natal do que as brancas. A orientação sobre amamentação só chegou a 62% das negras atendidas pelo SUS, enquanto que 78% das brancas tiveram acesso a esse mesmo serviço.
Elânia Francisca, responsável pela curadoria do curso, acredita que a violência contra a mulher negra no campo da saúde faz parte do genocídio do povo negro. Para ela, uma das maneiras de enfrentar essas práticas violentas do Estado é o estudo. “Estudando temos a dimensão histórica de como o corpo da mulher negra foi desconsiderado como um corpo merecedor de cuidado, além de ser usado pela medicina europeia para experimentos ginecológicos cruéis”.
Dois tabus a serem enfrentados pelo curso são a inexistência do racismo nos serviços de saúde e a maior resistência de corpos negros. O maior número de mulheres negras mortas e a falta de cuidados específicos para a população negra são reflexos desses mitos, de acordo com Elânia.
Além dos direitos no campo da saúde, Elânia afirma que a formação também apresenta a negação à afetividade como um problema estrutural para as mulheres negras. “Quando nos damos conta de que nossas questões afetivas também envolvem direitos sexuais e reprodutivos, conseguimos trazer para o cotidiano práticas sobre vivências afeto-sexuais saudáveis”.
Entre as referências do curso, a pesquisadora e ativista destaca bell hooks e Ana Claudia Lemos Pacheco, autora da obra “Mulher negra: afetividade e solidão”. Na bibliografia do curso, também estão outros documentos do SUS e planos sobre direitos sexuais, reprodutivos, além de materiais direcionados à saúde das comunidades negra e LGBT.
“As pessoas interessadas podem esperar por reflexões sobre os tratamentos dados às mulheres negras no sistema de saúde, sobre parto humanizado, violência obstétrica, aborto, sexualidades, prevenções, afetividade da mulher negra. Vamos exercitar o olhar sobre nosso direito ao prazer e ao amor, não num sentido romantizado, mas pensando que direito sexual é, também, o direito do encontro de corpos, o encontro que é potente e que fortalece homens e mulheres negras”, explica Elânia Francisca.
Bibliografia básica
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Sexual e Reprodutiva. Caderno de Atenção Básica 26. Disponível em <“>http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mulheres_lesbicas_bisexuais_direitos_saude.pdf> Acesso em: 30 março 2017
DAVIS, Angela. Racismo, controle de natalidade e direitos reprodutivos. In: Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016
DAMASCO, Mariana Santos.; MAIO, Marcos Chor; MONTEIRO, Simone Feminismo negro: raça, identidade e saúde reprodutiva no Brasil (1975-1993). Revista Estudos Feministas. Florianópolis, 20(1): 344, jan.2012
GIACOMINI, Sônia Maria. Mulher e escrava: uma introdução histórica ao estudo da mulher negra no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1988
HOOKS, Bell. Vivendo de Amor. Tradução Maísa Mendonça. Disponível em <
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