Com realização da Companhia Alvorada, Coletivo Terreiro de Mauá e produção do Núcleo Coletivo das Artes, espetáculo chega a São Paulo com apresentações inéditas em breve temporada.
Texto / Divulgação
Imagem / Osmar Moura
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Com direção geral de Leonardo Karasek, produção executiva e artística de Rita Teles e texto de Eduardo Rieche, “É Samba na veia, é Candeia” conta a trajetória de Antônio Candeia Filho (1935/1978), mais conhecido como Candeia, um popular sambista portelense. Em cartaz no Teatro Oficina, de 18/10 a 9/11, o espetáculoé encenado no entorno de uma roda de samba ambientada na trajetória do artista entreas décadas de 60 e 70.
A montagem, que foi encenada pela primeira vez no Rio de Janeiro em 2009 e obteve sucesso de crítica nessa ocasião, evidencia a genialidade do compositor carioca, bem como dá destaque à contemporaneidade de suas letras e seu pensamento. O Teatro Oficina, será utilizado como uma semi-arena, possibilitando que o enredo cênico seja gatilho para o envolvimento do público na atmosfera da vida, simplicidade e construção histórica da obra de Candeia.
O célebre artista, interpretado pelo ator Marcelo Darlouzi, escreveu sua história com profundas raízes em Oswaldo Cruz e Madureira, bairros do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, famosos por serem berço das tradicionais escolas de samba Portela, agremiação que inspirou Candeia em muitos de seus sambas, e Império Serrano. Sempre em diálogo com a vida periférica carioca, por meio do partido alto e de outras variações do samba, ele se tornou referência para inúmeros sambistas.
Os aspectos cotidianos da vida do músico, a utilização do samba como instrumento resistência cultural da população negra do subúrbio carioca e a sua maneira singular de compor sobre os amores, as vicissitudes da vida e seu estilo musical sem perder a possibilidade de contestar males sociais como o racismo, ganham destaque na encenação.
A peça tem falas carregadas de protesto e contextualizadas em fatos atuais, como o caso de Rafael Braga, preso durante os protestos de junho de 2013, no Rio de Janeiro, acusado de portar materiais explosivos, que, na verdade, eram produtos de limpeza; e o desaparecimento Amarildo Dias de Souza após ser levado por policiais militares cariocas para uma base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade da Rocinha. O texto denuncia o genocídio e encarceramento de negros no Brasil.
Para o diretor Leonardo Karasek, o espetáculo defende o protagonismo de artistas negros, que são a parcela majoritária na formação do elenco. Para Karasek, “É samba na veia, É Candeia” ultrapassa as definições de um musical e se encaixa perfeitamente como uma peça biográfica. “O cenário reforça todo simbolismo da trajetória de Candeia como homem negro e crítico social. A estruturação da montagem reforça o sentido da imersão do público no universo do compositor. E, nesse caminho, convidamos a todos a se transportarem para a releitura do mundo nos olhos de Candeia, com todas suas facetas e vivências como corpo e voz de movimento e atuação política por meio do samba”, declara.
A direção musical é de Edinho Carvalho, compositor, pesquisador e responsável pela direção harmônica e melódica do Coletivo Terreiro de Mauá, que fará todo acompanhamento musical do espetáculo. A trilha sonora tem arranjos e também direção do músico Abel Luiz, que atua no cenário musical como compositor, arranjador, diretor musical e multi-instrumentista.
“Pintura sem arte”, “Testamento de partideiro” e de “De qualquer maneira” são alguns dos sambas que compõe a vasta discografia de Candeia e que estarão na peça. A trilha também conta com canções que foram exaltadas na voz de outros célebres sambistas, como “Preciso me encontrar”, consagrada por Cartola, ícone da Estação Primeira de Mangueira; “O mar serenou”, eternizada pela cantora e madrinha da Velha Guarda Musical da Portela Clara Nunes; e “Dia de Graça”, defendida pela voz da grandiosa Elza Soares. As duas cantoras também aparecem na peça.
Outros temas do espetáculo são composições dos habituais parceiros de Candeia, como “Riquezas do Brasil”, de Waldir 59; “Me Alucina”, de Wilson Moreira; “Falsas Juras”, de Casquinha; e “Coisas Banais”, de Paulinho da Viola.
Para a atriz Rita Teles, “É Candeia, É Samba na veia” tem papel fundamental na releitura do compositor como crítico dos mecanismos de apropriação cultural dos valores e processos históricos de identidade negra. “Candeia, quando funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo juntamente a Wilson Moreira e Paulinho Viola, posiciona-se para além da música. Ele não somente se coloca contrário ao processo de industrialização cultural do samba como enxerga o samba como uma ilha de resistência de valores identitários negros diante desse processo. E, no palco, este lado do poeta Candeia, idealista e militante, se fará presente”, conta.
A fundação da escola de sambaG.R.A.N.E.S.(Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba)Quilombo marca o processo de dissidência de Candeia da tradicional escola de samba Portela. Rita também ressalta que posições evidentemente machistas do compositor não passarão despercebidas. “É um momento importante para trazer à cena o machismo em nossa sociedade, principalmente a violência contra a mulher negra. Trata-se de uma peça biográfica em que esses ganchos serão usados como ferramenta para dar voz ao nosso protesto.” O espetáculo conta com a coreografia do ator e dançarino Jefferson Brito e participação da cantora Sueli Vargas.
Campanha
Para execução do projeto, o Núcleo Coletivo das Artes lançou uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse, com o objetivo de arrecadar R$ 30 mil para cobrir parte das despesas orçamentárias. Os valores começam em R$ 15,00. As recompensas incluem ingressos para o espetáculo.