Os toques e os cantos dos Voduns em suas terras de origem, Benin, atravessaram o Atlântico e no Brasil se refizeram em modos e práticas de vida. Esse resgate ancestral, que reata a herança afro musical brasileira com o continente africano, é apresentado pelo artista Mateus Aleluia em sua exposição inédita “Benin do lado de cá”.
Com estreia na Casa do Benin, em Salvador (BA), a obra ficará disponível de 6 de setembro a 5 de dezembro e é fruto de uma expedição etno-poética-musical realizada pelo artista em 2022. Na exposição, as mais diversas linguagens artísticas, como música, fotografia e audiovisual, se relacionam com procedimentos etnográficos, trazendo uma contribuição significativa para o entendimento dos contornos identitários do povo brasileiro a partir das culturas advindas da diáspora africana.
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“Antes de tudo o som. O canto é fundamental. Esse canto que atravessa tempos, épocas. Nos faz retornar ao tempo de antes de a gente ter nascido”, fundamenta o artista.
A curadoria da exposição é assinada pela pesquisadora e diretora artística Tenille Bezerra. “Nesta exposição apresentaremos parte dos registros realizados na Bahia em 2021 e no Benin em dezembro de 2022. Transitamos pelos elos cantados do invisível para tornar visível muito do que nos aproxima do grande continente mãe: África”, ressalta.
Essas conexões resultaram em músicas inéditas, mas também em um museu virtual com conteúdo em diversas linguagens que traduzem o que foi vivenciado. A exposição ganha, ainda, uma versão digital, que poderá ser visitada por pessoas de todo o mundo. Todo o conteúdo da exposição estará disponível no Museu Virtual.
O projeto se tornou viável pelo engajamento de importantes parceiros, tais como o o professor Hippolyte Brice Sogbossi, que durante toda a viagem foi o intérprete e articulador dos encontros com as lideranças religiosas do Benin. Quem assina todo o registro sonoro é o produtor musical e engenheiro de som Tadeu Mascarenhas do Estúdio Casa das Máquinas. Já na exposição foi peça fundamental o artista visual Tiago Ribeiro.
Museu virtual
O registro dos cantos para os voduns bem como as entrevistas com sacerdotes e líderes de culto que estão na exposição são parte do material que integra o Museu Virtual Nações do Candomblé. Outro produto resultado dessa pesquisa é o disco “Afrocanto das Nações – Jêje”, indicado ao Grammy Latino 2022 – mesmo ano em que foi lançado. A obra traz a leitura de Mateus Aleluia sobre a relação do homem com o sagrado, através de cantos, práticas e modos de vida advindas dos cultos pesquisados.
Nações do Candomblé é um projeto de autoria do cantor e compositor Mateus Aleluia. onde ele apresenta suas pesquisas mais recentes no âmbito da ancestralidade ritualística musical pan-africana. O projeto surgiu do desejo de registrar e reatar a herança afro musical do Brasil com o continente africano, comparando os toques e cantos praticados aqui no Brasil com os toques e cantos dos Orixás, Nkises e Voduns em suas terras de origem.
Em uma primeira etapa, realizada de forma remota, o projeto se debruçou sobre as contribuições poético-musicais dos povos africanos das etnias Fon/Ewe /Ashanti do antigo Reino de Daomé, atual (país) Benin. Apesar destas etnias também terem as suas raízes em outros Estados – Países do continente Africano, os trabalhos foram iniciados nas cidades de Ouidah, Abomey, Savalu,Dassa Zoumé e Porto Novo, no Benin, e pelas casas de Candomblé Jêje em Salvador e Cachoeira, na Bahia.
Destaque na música internacional
Brasileiro natural de Cachoeira, na Bahia. Cantor, compositor e pesquisador da musicalidade afrobrasileira, Mateus Aleluia se destaca no cenário da música internacional como uma das vozes mais marcantes da última década. Premiado pelos seus últimos trabalhos lançados, em 2018 ele teve o seu álbum “Fogueira Doce” destacado como um dos melhores álbuns do ano. Em 2020 ele comemorou 50 anos de carreira musical que se iniciou no trio vocal “Os Tincoãs”.
O trio é considerado pioneiro em trazer à Música Popular Brasileira, de forma consistente, o universo poético do candomblé e da umbanda. Com sofisticados arranjos vocais, a obra dos Tincoãs é considerada ainda hoje um capítulo singular na história da música brasileira. Tendo aliado a sua carreira de músico à pesquisa cultural foi que Mateus Aleluia desenvolveu a peculiaridade da sua expressão artística.
Em Angola, onde viveu por 20 anos, ele seguiu desenvolvendo, através do Ministério da Cultura daquele país o trabalho de pesquisador cultural, tendo desta forma conhecido e aprofundado os seus estudos em diversas províncias. Tornado comendador em 2019 pela Bahia, seu estado natal, ele é considerado uma das personalidades culturais mais importantes do Brasil atual. Em 2020 foi objeto do filme documentário “Aleluia, o canto infinito do Tincoã”.