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Parlamentar é alvo de ataques racistas em Câmara Municipal: ‘Nojo de presidente negro’

O vereador de Indaiatuba registrou boletim de ocorrência por injúria racial na 1º Distrito Policial de Indaiatuba (SP)
Imagem mostra Pepo Lepinsk durante sessão na Câmara Municipal de Indaiatuba.

Foto: Divulgação / CMI

13 de dezembro de 2023

O vereador Jorge Luiz Lepinsk (MDB), presidente da Câmara de Indaiatuba e do Parlamento da Região Metropolitana de Campinas (RMC), foi alvo de ataques racistas em sessão ordinária na segunda-feira (11). Pepo, como é conhecido o parlamentar, registrou Boletim de Ocorrência (BO) por injúria racial no 1º Distrito Policial da cidade.

O candidato a vereador Lorhan Zanardo proferiu ofensas, chamando o presidente de “macaco” e expressando sentir “nojo” por ter um “presidente negro”. “Como pode um negro presidir a Câmara?”, questionou. As agressões foram presenciadas por várias pessoas na Galeria dos Presidentes, dando início a um tumulto no local.

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Segundo um estudo realizado pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), mais da metade (51%) dos brasileiros declarou já ter presenciado um ato de racismo, e seis em cada dez pessoas (60%) consideram, sem nenhuma ressalva, que o Brasil é um país racista.

Zanardo fazia parte de um grupo de manifestantes alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que protestava com faixas contra a Câmara e a administração municipal. Parte do grupo participou dos atos golpistas em Brasília (DF) no dia 8 de janeiro, que resultou na detenção de 1,4 mil pessoas.

Segundo informações do Boletim de Ocorrência, ao qual a Alma Preta Jornalismo obteve acesso, o agressor percorreu deliberadamente o plenário da Câmara Municipal exibindo faixas com ofensas direcionadas à vítima. Segundo o documento, ficou evidente a intenção e premeditação do agressor em insultar Pepo Lepinsk durante a sessão.

“Eles sempre vão me julgar pela cor da minha pele”

Em entrevista à Alma Preta, o presidente da Câmara de Indaiatuba lamentou o ocorrido. “Estou muito triste hoje. Não ligo se alguém me chamar de negro, é claro, mas da forma que veio, ele falar que tem nojo de um cara preto na presidência é inadmissível”, pontuou Pepo Lepinsk.

Quando criança, Pepo tirava seu sustento e ajudava sua família, trabalhando como catador de sucata. “Eu sou o vereador mais atuante de todos os tempos, a minha vida sempre girou em torno do trabalho. Esse ano me formo em gestão pública e já desenvolvi diversos projetos dentro do município. Mas nunca é o suficiente, eles sempre vão me julgar pela cor da minha pele”, desabafa.

“Eu tenho orgulho de ser negro. Aqui em Indaiatuba temos uma lei, de minha autoria, que institui a Semana da Consciência Negra para ampliar as ações educativas no combate ao racismo, mas a gente nunca está preparado para ser chamado de macaco, não tem como se preparar para isso.”

O vereador vitimado avalia que o racismo acontece porque a sociedade não está acostumada a ver negros em posição de liderança, apenas em cargos subalternos. “O negro tem que ser faxineiro, tem que ser empregada doméstica. Isso tem que acabar, tem que ter punição severa. Só espero que a justiça seja feita por nós e pelos nossos filhos. Não vão nos calar de jeito nenhum”, declara.

“Atos de racismo são intoleráveis”

Em nota publicada nas redes sociais, a Câmara Municipal de Indaiatuba repudiou as “manifestações desrespeitosas e criminosas promovidas por algumas pessoas” durante a sessão. 

“A Câmara lamenta o episódio e reforça que manifestações são bem-vindas, contanto que respeitosas e democráticas. Atos de racismo são intoleráveis e devem ser rechaçados e punidos severamente”, diz o comunicado. 

Na mesma sessão, um grupo de professores realizou uma manifestação pacífica e democrática, conforme previsto no regimento da Casa. A atitude foi elogiada por vereadores tanto da base quanto da oposição.

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  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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