Um estudo inédito realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou os desafios enfrentados pelos moradores de favelas brasileiras no acesso a alimentos saudáveis. Publicada na revista “Cadernos de Saúde Pública” nesta segunda-feira (18), a pesquisa destaca a influência do ambiente alimentar nas escolhas dos residentes dessas comunidades, apontando limitações como a falta de acesso físico e financeiro a alimentos nutritivos.
Segundo a pesquisa, coordenada pelo Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS) da UFMG, a dificuldade de acesso é agravada pela escassez de informações sobre alimentação adequada, restrições de renda e a presença predominante de estabelecimentos que oferecem alimentos ultraprocessados a preços acessíveis.
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As autoras do estudo conduziram dois grupos focais online, com a participação de dez moradores de favelas de diferentes cidades do país em novembro de 2022. O trabalho revelou que a falta de acesso físico e financeiro a alimentos saudáveis aliada à alta disponibilidade de produtos ultraprocessados dificulta a adoção de uma dieta nutritiva.
De acordo com Luana Lara Rocha, pesquisadora da UFMG e autora do artigo, os participantes expressaram o desejo de integrar mais verduras, legumes, frutas, carnes, arroz e feijão em sua alimentação diária. No entanto, os preços elevados desses alimentos e a falta de tempo foram apontados como obstáculos significativos.
“A condução de estudos específicos para áreas de comunidades é importante para captar suas particularidades. Cerca de 16 milhões de brasileiros vivem em favelas, segundo o Censo 2022 do IBGE, o que corresponde a 7,4% da população brasileira”, destaca.
Diante dos desafios identificados, os pesquisadores desenvolveram um instrumento para avaliar a percepção do acesso aos alimentos em favelas. Rocha planeja agora conduzir uma pesquisa de campo em Belo Horizonte, utilizando essa ferramenta para coletar informações sobre o ambiente alimentar, segurança alimentar e nutricional, e o estado nutricional das crianças nas favelas do município.
Segundo o estudo, os dados obtidos serão fundamentais para subsidiar políticas públicas e programas que incentivem o acesso a alimentos saudáveis a preços acessíveis, além de estratégias relacionadas ao transporte, segurança e ambiente desses locais.
“A complexidade dos problemas relacionados à vida urbana na favela exige soluções específicas e integradas”, conclui a pesquisadora.