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Garrincha: a trajetória de dribles e problemas do Anjo das Pernas Tortas

Com habilidade ímpar, Mané foi decisivo para a conquista de dois títulos de Copa do Mundo, em 1958 e 1962

Imagem: Reprodução

Foto: Imagem: Reprodução

1 de dezembro de 2022

Manuel Francisco dos Santos – Mané Garrincha ou Garrincha – foi um jogador negro de futebol brasileiro, que marcou seu nome na história do esporte. Dono de pernas consideradas tortas e mestre em dribles rápidos e desconcertantes, ele foi bicampeão mundial com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Suécia em 1958 e na Copa do Mundo no Chile em 1962.

O atleta nasceu no distrito de Magé (Pau Grande), no Rio de Janeiro, no dia 28 de outubro de 1933. De origem humilde, foi criado em uma família de quinze irmãos. Especula-se que o jogador era filho de uma relação incestuosa do lavrador Amaro Francisco dos Santos com sua filha mais velha, fato que nunca foi provado.

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A alcunha Garrincha veio de uma de suas irmãs. Ela o teria apelidado com o nome de um pássaro difícil de ser caçado e muito comum na região onde moravam. Ídolo do Botafogo e da Seleção Brasileira, o eterno camisa 7 é tido até hoje como o maior driblador de todos os tempos.

O Anjo das Pernas Tortas, a quem Vinícius de Moraes já homenageou em poesia, era descendente do povo Fulni-Ô, grupo indígena que vive em Pernambuco e único do nordeste a conseguir preservar sua língua nativa, o Ia-tê.

De amador a profissional

Mané Garrincha sempre se interessou pelo futebol. Chegou a jogar no clube da cidade de Pau Grande, mas um problema de nascença em sua coluna fazia com que o sonho de se tornar jogador profissional parecesse improvável. 

Chegou a fazer teste para atuar no Flamengo e no Vasco, mas foi duramente rejeitado por sua condição física, já que sua perna direita era seis centímetros maior do que a esquerda. 

Cansado de não ter oportunidades no esporte profissional da cidade, tentou a sorte foi tentar a sorte no Serrano (1953) e jogou por lá quase um ano. Foi então que Arati, ex-jogador do Botafogo, viu Garrincha atuando e ficou encantado com a habilidade e facilidade que ele tinha em passar pelos marcadores. 

Ao final da partida, o jogador convidou o jovem atleta de 20 anos para um treino no clube carioca.

Botafogo

Em 1953, chegava a General Severiano um atacante de pernas tortas, que nunca havia treinado com um time profissional antes e que teria a dura missão de passar por Nilton Santos, um dos maiores defensores da época. 

Mesmo desacreditado pelos colegas de equipe, Mané Garrincha aplicou três dribles desconcertantes em Nilton Santos, que depois do treino pediu para os dirigentes contratassem o jovem jogador. A partir daí foram 12 anos defendendo o Botafogo. 

Pelo clube carioca, Garrincha se tornou um dos maiores pontas direita do mundo. Com um repertório interminável de dribles e uma habilidade pouco vista até então, o garoto passou a ser temido pelas zagas adversárias. Seu comportamento em campo, de acordo com arquivos da imprensa da época, soava até um pouco arrogante, mas sua simpatia e humildade fora dos gramados cativava a todos.

Créditos: Reprodução/Botafogo

As constantes exibições de gala pelo Botafogo estavam chamando cada vez mais a atenção e foram cruciais na sua convocação para a Copa do Mundo da Suécia, em 1958. O Brasil contava com grandes atacantes naquela época, mas era impensável não dar uma oportunidade para o camisa 7 que vivia uma grande fase no esporte.

Copa e auge

Garrincha estreou na Copa do Mundo de 1958 no banco de reservas, mas na terceira partida, contra a URSS, entrou em campo, formando uma das maiores duplas da Seleção: Pelé e Garrincha. Os dois atletas negros jogaram muito nas partidas seguintes e foram fundamentais para a chegada da equipe até a final.

A decisão foi contra a Suécia, mas nem mesmo um gol aos 4 minutos dos donos da casa abalou a confiança da Seleção. Final 5 a 2 e o Brasil se consagrava campeão mundial pela primeira vez.

Após a Copa, Garrincha virou um dos maiores jogadores do futebol brasileiro. Titular incontestável do Botafogo, o craque conquistou dois Campeonatos Cariocas em cima do Flamengo e brilhou na excursão que o time fez pela Europa e América Latina.

Leia também: ‘Pelé: vida, polêmicas e reinado do único atleta a vencer três Copas’

Em 1962, na Copa do Chile, o Brasil contava com Pelé e Garrincha em grande fase. O Rei e camisa 10 era a estrela do time, mas na segunda partida, contra a Tchecoslováquia, Pelé se machucou e ficou fora do restante do Mundial, deixando a responsabilidade do ataque ao Garrincha.

Garrincha e Pelé | Créditos: Reprodução/Globo

O craque do Botafogo brilhou em campo, deu baile nos adversários e carregou o Brasil até a final. No dia da decisão, o camisa 7 apresentava um quadro de febre, mas foi para o jogo mesmo assim. Com uma atuação discreta, viu o time brilhar e vencer novamente a Tchecoslováquia. O Brasil, então, tornou-se bicampeão mundial.

Declínio e polêmicas

No entanto, em 1963, Garrincha começou a declinar na carreira. Uma lesão mal curada no joelho e os problemas com o álcool começaram a interferir diretamente nas suas performances. Em 1966, deixou o Botafogo e nunca mais jogou em alto nível. Passou por Corinthians, Flamengo e Vasco, mas sem nenhum protagonismo.

O craque viveu um final de trajetória melancólico, em que chegou a atuar por alguns anos em clubes de pequena expressão e até amadores. Em 1972, o Anjo das Pernas Tortas – como era apelidado –  anunciou sua aposentadoria.

A vida pessoal de Garrincha também era conturbada. Em 1962, o jogador assumiu o namoro com Elza Soares, mesmo sendo um homem casado na época, o que fez com que a cantora fosse apontada como o motivo da separação do jogador. 

Elza Soares e Garrincha nos anos 60 | Créditos: Reprodução

Apesar disso, os dois viveram juntos por 15 conturbados anos, pois o problema de Garrincha com o alcoolismo afetava muito sua relação com Elza. Na biografia oficial da cantora há trechos que dizem que ela chegou a percorrer bares pedindo para que não servissem bebida ao jogador. A cantora presenciou, como poucos, a decadência de Garrincha.

Depressão e fim de uma lenda

De acordo com informações. Garrincha ficou depressivo no decorrer dos anos, e contabilizou duas tentativas de suicídio, três acidentes de carro, e incontáveis internações por alcoolismo. Um dos momentos mais difíceis do relacionamento foi quando Garrincha, embriagado, causou um acidente de carro que tirou a vida da mãe da cantora.

Mané Garrincha e Elza tiveram um filho juntos, Francisco dos Santos Júnior, que faleceu em 1986, aos 9 anos, em um acidente de carro. Ao todo, Garrincha teve 11 filhos com quatro mulheres diferentes. 

Em 20 de janeiro de 1983, aos 43 anos, o ídolo do futebol morreu, vítima de uma cirrose no fígado, causado pelo excesso de bebida. O ex-jogador faleceu sozinho e falido, mas é considerado até hoje um dos grandes e inigualáveis ídolos do esporte. 

Leia também: ‘Vinícius Júnior: de São Gonçalo para a Copa do Mundo’

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