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Recriando Raízes: projeto impacta comunidades cariocas há 15 anos

A iniciativa idealizada por Ilma Rocha em 2006 leva educação e capacitação gratuitas para crianças, jovens e adultos em vulnerabilidade em conjunto de favelas cariocas

Imagem de crianças durante uma aula no pátio do Projeto Recriando Raízes.

Foto: Imagem: Acervo/ Recriando Raízes

15 de setembro de 2022

“Nunca mais ninguém vai te humilhar ou vai pisar em você”. Essa foi a promessa que Ilma Rocha fez para si mesma em um momento da vida e que foi o pontapé inicial de toda uma transformação de rota que a levou à criação do Projeto Recriando Raízes, no bairro Costa Barros, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Na época, Ilma trabalhava como auxiliar de serviços gerais e, após uma situação abusiva dentro da empresa em que atuava, decidiu fazer um curso de cabeleireira e iniciar uma carreira como trancista. “Foi aí que deu início à minha história como Tia Ilma”, explica, ao falar sobre a maneira como carinhosamente ficou conhecida na comunidade.

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Com a notabilidade que seu trabalho como trancista alcançou na comunidade, Ilma Rocha ouviu de um jovem de 14 anos a frase que motivou o início da construção do Projeto Recriando Raízes em 2006: “Me ajuda a recriar a minha vida”.

“Na época, eu não trabalhava com projeto social, mas sempre conversei e orientei os jovens. Passando 15 ou 20 dias, houve uma guerra dentro da favela e esse jovem de 14 anos morreu no confronto. Aí eu me olhei e me perguntei o que eu estava fazendo dentro da comunidade, que perdia tantos jovens e tantas vidas. Disso nasceu o ‘Recriando Raízes’, conforme ele me pediu para ‘recriar a vida dele’. E eu vejo que várias raízes nasceram dentro do projeto”, relata Tia Ilma.

A educação como motor para recriar histórias de vida

O Projeto Recriando Raízes, há mais de 15 anos, vem mudando a realidade de crianças, jovens e adultos em vulnerabilidade socioeconômica por meio da educação e de capacitações gratuitas.

Ilma RochaIlma Rocha ao centro | Crédito: Acervo/Projeto Recriando Raízes

O bairro Costa Barros, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é local da sede do projeto e é formado, principalmente, por um conjunto de favelas. Segundo o IBGE, esse é o segundo pior bairro para morar na cidade e o que possui o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região.

Conforme relatado pelo Projeto Recriando Raízes, há disputas pelo controle do tráfico entre facções rivais nos complexos formados por essas e outras favelas, o que faz da região de Costa Barros uma das mais violentas da Grande Rio.

Ilma Rocha conta que o projeto iniciou com a parceria de amigos e moradores da comunidade, que davam reforço escolar e ensinavam artesanato e a trançar cabelos. “Sempre tinha gente batendo no portão falando que queria entrar no projeto. Cheguei a ficar com 120 crianças dentro da minha casa”, relata Ilma.

Atualmente, a organização trabalha diretamente com as iniciativas: “Defensores da Infância”, destinado a crianças de 6 a 11 anos, e o “Engrenando no Amanhã”, para jovens de 12 a 15 anos. Há aulas de reforço de português e matemática, teatro, esporte, além de aulas de informática e de tranças, com inscrições abertas anualmente.

Além disso, o Projeto Recriando Raízes tem iniciativas, juntamente com parceiros, voltadas a mulheres e jovens adultos. Há o projeto “Todos nós temos o direito de nascer”, direcionado para mulheres de 25 a 60 anos com aulas para o mercado da beleza, e a ação “Jovens em Transformação”, direcionada para jovens de 16 a 29 anos com aulas de várias áreas – barbearia, inglês, administração, entre outras.

Curso de Tranças no Projeto Recriando RaízesHá vários cursos direcionados para diferentes faixas etárias | Crédito: Acervo/Recriando Raízes

“Com a iniciativa ‘Jovens em Transformação’ trabalhamos ano retrasado e passado (2020 e 21), durante a pandemia. Foram cerca de 5.800 jovens formados e temos 68% deles já trabalhando na própria comunidade, na área de beleza, em firmas de refrigeração, elétrica, entre outros”, conta Vitória Rocha, secretária executiva do projeto e filha de Tia Ilma.

Em maio de 2022, a organização, junto a colaboradores, foi responsável pela revitalização de uma praça na comunidade de Costa Barros, antes considerada “cracolândia”. Hoje o local é conhecido como Praça dos Sonhos.

Praça dos SonhosPraça dos Sonhos | Crédito: Acervo/Recriando Raízes

Também durante a pandemia, Vitória Rocha conta que o projeto doou 10 mil toneladas de cestas básicas para famílias da comunidade de Costa Barros e de comunidades próximas.

“Na época da pandemia, Tia Ilma criou um novo projeto que foi o ‘Fome Nunca Mais’ e a gente saiu para a rua para entregar alimentos. Fizemos sabonete na ONG mesmo e demos para as famílias”, relata a secretária executiva.

Atualmente, a atuação do projeto se concentra na cidade do Rio de Janeiro, dentro do bairro Costa Barros e no município de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Já houve também iniciativa realizada no bairro Rio Comprido, Zona Norte do município do Rio.

O projeto reúne um número de mais de 10 mil jovens formados, mais de 1.800 crianças assistidas e 285 mulheres empoderadas. Cerca de 62% das pessoas atendidas são negras, 27% pardos e 10% brancos.

Curso de barbearia no Recriando RaízesJá foram mais de 10 mil jovens formados ao longo do projeto | Crédito: Acervo/Recriando Raízes

“Nós temos muitos jovens que participaram dos cursos, saíram do tráfico e hoje estão com o salão dentro da nossa comunidade trabalhando. Tinha jovens que estavam há anos fora da escola. Isso não tem preço”, relata a idealizadora do Recriando Raízes, Ilma Rocha.

Doações, editais e parcerias

A organização não governamental sem fins lucrativos é liderada majoritariamente por mulheres negras e consegue por meio de patrocínios, parcerias, editais e campanha de doação manter ativa suas iniciativas.

“O projeto anda com a nossa força de vontade. Quando está fechado, há uma equipe trabalhando para poder trazer recursos e manter o projeto aberto”, explica a idealizadora do Recriando.

Tia Ilma finaliza contando como sempre está incentivando jovens a saírem das ruas e a estudarem, acreditando que ainda há tempo de oportunidade e transformação. “Quando eu uso essas palavras com toda a força, é que podemos, sim, quando nos unimos e acreditamos, ver transformação de vida na comunidade”.

Leia mais: Instituto Omolará: organização fortalece mulheres negras em diversas áreas

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