No metrô de São Paulo, um homem negro foi violentamente retirado do vagão por seguranças após ter sido confundido com um infrator. O caso ocorreu dia 3 de setembro, na estação Portuguesa/Tietê, e foi registrado na Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
Em entrevista à Alma Preta, Cristiano Rafael Soares conta que a situação começou ainda dentro do vagão. Por conta da lotação e falta de espaço, o rapaz teve uma breve discussão com um senhor idoso. “Eu estava me espremendo e só falei para ele ir pelo outro canto por que ali estava cheio”, declara a vítima. O senhor, descontente com a recomendação, teria reagido com irritação.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
No entanto, ao chegar no destino final, a vítima foi surpreendido por dois agentes de segurança que já o aguardavam na porta do vagão. “Quando chegou a hora de descer, já tinha dois [guardas] na porta. Eles me pegaram pelo pescoço, por trás, e falaram ‘pegamos ele, ele está aqui na nossa mão’”, conta.
Após ser retirado de maneira truculenta, o homem foi acusado de ter vandalizado o metrô. Um dos agentes teria tentado levar Cristiano para outra área mais afastada, sob a justificativa de que as imagens das câmeras o mostravam danificando o local. A vítima se recusou a acompanhá-lo e, por questões de segurança, passou a registrar a situação.
Durante o impasse, uma segunda segurança teria informado que Cristiano foi abordado por compartilhar características semelhantes ao suposto infrator, mas não soube informar quais seriam as semelhanças.
O homem informou a funcionária que, pela acusação infundada e o tratamento violento, gostaria de ver as imagens da câmera. “Ela olhou para mim e disse: ‘você não tem direitos nenhum aqui. Se quiser, vai procurar a polícia’. Respondi a ela que aquilo era racismo. Como que ela me acusa de um crime e depois diz que eu não tenho direito nenhum?”, indagou.
A vítima conta que, após citar o racismo da abordagem, a segurança também passou a gravar a situação e ameaçou chamar a polícia, uma vez que ele estaria, de maneira caluniosa, imputando a ela o crime de racismo. “O colega dela pegou o rádio disse para os colegas que iriamos para a delegacia porque eu estava acusando eles de racismo”.
Espantado, Cristiano pediu para falar com o superior da dupla, mas ao ser atendido, foi novamente tratado com agressividade. “Onde você está vendo racismo aqui? Você não tem direito aqui, não, vai procurar os seus direitos. Chame a polícia ou quem você quiser”, teria gritado o superior, a um palmo de distância do rosto de Cristiano.
Apesar dos seguranças informarem que o engano ocorreu por perfilamento racial, em nota à Alma Preta, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) alegou outro motivo para a abordagem.
Segundo o comunicado, o Centro de Controle da Segurança do Metrô recebeu uma denúncia via SMS-Segurança sobre uma suposta situação de ameaça envolvendo um idoso e um passageiro do trem que seguia pela Linha 1-Azul.
“Seguindo o procedimento nesses casos, e de posse das características contidas na denúncia, os agentes de segurança mais próximos foram acionados para a checagem do caso, que não foi levado adiante pela recusa do denunciante em prosseguir. O Metrô repudia qualquer atitude discriminatória por parte de seus funcionários e mantém um rígido código de conduta e integridade. Todas as ações dos empregados são avaliadas e qualquer desvio é objeto de rigoroso processo de apuração disciplinar. A empresa também se coloca à disposição da autoridade policial para colaborar em qualquer tipo de investigação”, alegou o Metrô.