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Por que reeleger mulheres negras para a Câmara de Vereadores de São Paulo?

Elaine Mineiro e Débora Dias, integrantes do mandato coletivo Quilombo Periférico, fazem um balanço do primeiro mandato e defendem a reeleição de mulheres negras à Câmara de Vereadores de São Paulo
Imagem mostra Elaine Mineiro e Débora Dias, do mandato coletivo Quilombo Periférico. Elas são duas mulheres negras e se abraçam.

Foto: Reprodução

2 de outubro de 2024

Por: Elaine Mineiro e Débora Dias

Em toda a história da Câmara de Vereadores de São Paulo, apenas duas mulheres negras antes de nós se elegeram e nenhuma delas se reelegeram para vereança dessa cidade. Theodosina Rosário Ribeiro foi a primeira vereadora negra da capital, em 1970, sendo eleita deputada estadual em 1974. Claudete Alves, candidata nesta eleição também, foi eleita em 2000 e em 2004, 2008 e em 2012 ficou como suplente.

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Para nós que buscamos a reeleição desse projeto foi um susto, mas não uma surpresa constatar como o racismo segue sendo barreira quase intransponível quando o assunto é elegermos e reelegermos quadros do movimento negro, comprometidos com uma agenda politica de reparação para o nosso povo. 

Fomos eleitas como mandato coletivo em 2020 e pela primeira vez uma mulher negra integrou a Comissão de Orçamento e Finanças, atuando em defesa da descentralização dos recursos, presidindo a  Subcomissão de Cultura e, de maneira inédita, realizando audiências públicas territoriais em oito regiões periféricas da cidade. Levou a Câmara para discutir o orçamento nas quebradas. 

Como mandato “orgânico” do movimento negro e periférico, nossa atuação foi pautar a agenda politica do movimento no parlamento, o que se traduziu em  atuar e propor politicas públicas em defesa da dignidade das pessoas. Significou  apresentar e  aprovar, por exemplo, uma dotação orçamentária inédita destinada integralmente à educação antirracista, emendas parlamentares para fortalecer coletivos culturais e equipamentos públicos como hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBSs) dos bairros periféricos. 

Diante da crise climática que assola a cidade, fizemos nosso trabalho de fiscalização e descobrimos que a prefeitura negligenciou o monitoramento das enchentes nos bairros periféricos em comparação às regiões centrais, reforçando o que chamamos de racismo ambiental, além de proposições e denúncias  que foram construídas em conjunto e em diálogo com outros movimentos sociais e populares, já que coletivo para nós é  princípio, meio e fim, meio e fim. 

Mesmo em contexto de pandemia, em um primeiro mandato com pouca experiência, enfrentando violência política, de gênero e racial em um espaço que nunca nos quis, entregamos o que prometemos e fizemos desse mandato instrumento das lutas sociais!

Diante de tantos feitos, porque ainda insistir no fato de que São Paulo nunca reelegeu mulheres negras para a Câmara de Vereadores? Não basta ter feito um bom trabalho para continuar trabalhando na “Casa do Povo”? Não basta! O racismo institucional segue firme, sendo uma barreira para que ocupemos a arena política partidária, a ponto de termos que repetir incansavelmente essa história. Racismo que se materializa, por exemplo, na falta de recursos, o que torna desleal a disputa eleitoral, nos moldes como vem sendo construída até agora.

Todas essas constatações nos permitem dizer que, nestas eleições, reeleger mulheres negras como nós, de movimento negro, com trabalho de base permanente, com um mandato trabalhando com as periferias, de movimento negro, com trabalho de base permanente, com um mandato trabalhando com as periferias, é reparação histórica! Que sejamos mais uma vez as primeiras, mas que não sejamos as últimas! Por Elas e por todas nós! 

Elane Mineiro e Débora Dias são covereadoras do mandato coletivo Quilombo Periférico, composto ainda por Júlio Cézar e Alex Barcellos.

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