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Vivi Reis disputa cargo de vereadora em Belém e defende políticas de equidade e inclusão como fundamentais

Ex-deputada federal fala em entrevista sobre violência política, racismo e suas proposta para população LBGTQIAPN+ e para o meio ambiente
Imagem mostra Vivi Reis, candidata à vereadora em Belém.

Foto: Reprodução/Instagram

3 de outubro de 2024

A ex-deputada federal Vivi Reis (PSOL), de 33 anos, concorre a uma das 35 cadeiras da Câmara Municipal de Belém. A candidata fisioterapeuta, negra, bissexual, feminista e mestranda, foi a vereadora mulher mais votada em Belém e a quinta mais votada entre todos os candidatos, totalizando 9.654 votos em 2020. No entanto, assumiu como suplente uma vaga de deputada federal na Câmara na mesma época.

Vivi Reis, que se filiou ao PSOL em 2011, participou de movimentos sociais em seu bairro, na igreja e na escola em que frequentava. Enquanto deputada federal, aprovou projetos de lei, foi relatora do Caso Bruno Pereira e Dom Phillips e chegou a receber por dois anos consecutivos a premiação de melhor deputada federal do Pará. 

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Em entrevista à Alma Preta, Vivi falou sobre as propostas com foco nas mulheres, negritude, LGBTQIAPN+ e meio ambiente. Além disso, contou sobre as violências políticas sofridas por ela e estratégias para proteger e fortalecer candidaturas de mulheres negras. Confira:

Alma Preta: Quais são os maiores desafios que a candidata enxerga na cidade?

Vivi Reis: Os maiores desafios incluem a desigualdade e a falta de acesso a serviços essenciais, como saúde, educação e transporte. Isso é particularmente evidente nas periferias, onde as populações enfrentam o desafio de não serem vistas enquanto detentoras de cidadania plena por aqueles que enriquecem a partir da exploração do seu trabalho. É fundamental implementar políticas que promovam a inclusão e a equidade, garantindo que todos os cidadãos tenham voz e direitos assegurados. 

Alma Preta: Quais são as principais propostas da candidata?

Vivi Reis: Minhas prioridades são também as minhas principais bandeiras de luta: mulheres, negritude, LGBTQIAPN+ e meio ambiente. A partir de uma perspectiva de interseccionalidade elaborar políticas públicas que fortaleçam e garantam direitos das LGBTQIAPN+, propondo políticas públicas, ações de enfrentamento à LGBTfobia e defendendo a autonomia econômica destes grupos. Pela vida das mulheres, defendendo a ampliação da rede de proteção e saúde, propondo medidas de combate à violência e ao machismo. Pela Amazônia e seus povos, combatendo as mudanças climáticas, lutando por justiça socioambiental e o bem viver, e defendendo os territórios de indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

Outra proposta é monitorar a prestação de serviços de saúde destinado à população negra, combater o racismo institucional nas unidades de saúde, garantir o acesso às tecnologias em saúde, à prevenção e promoção da saúde e ambiente saudável, com atenção especial à saúde mental conforme o previsto na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

Alma Preta: Como a vereança pode incidir na luta contra o racismo?

Vivi Reis: A partir de uma perspectiva em que a questão racial é central na dinâmica das desigualdades e dos problemas que a cidade enfrenta, a nossa atuação na Câmara Municipal se torna diretamente relacionada à luta antirracista. Principalmente porque a maioria da população que utiliza os serviços públicos de saúde e transporte, por exemplo, são pessoas negras, portanto lutar por um serviço público de qualidade é uma questão de sobrevivência para a população negra.

A exemplo na elaboração de uma legislação municipal sensível ao tema antirracista, que dê suporte ao enfrentamento do racismo ambiental, que garanta segurança e dignidade às populações tradicionais de matriz africana e que garanta às mulheres negras, maioria da nossa população, condições de terem autonomia econômica.

Além disso, um mandato antirracista se faz também pela fiscalização da atuação dos órgãos públicos municipais, para que garantam a execução da legislação já existente, seja nos currículos escolares da rede pública de ensino ou mesmo na promoção de formação e letramento racial para os servidores da Guarda Municipal e dos órgãos que atendem a nossa população. 

Alma Preta: As Câmaras brasileiras são amplamente de direita. Como é possível agir nesse ambiente para garantir o avanço de propostas antirracistas?

Vivi Reis: A partir de uma atuação que não seja isolada dentro das paredes da Câmara Municipal. Se não somos maioria representada dentro desses espaços, nossos mandatos têm como função serem polos de fortalecimento e articulação com os movimentos sociais e a sociedade civil organizada.

Quando há pressão por parte desses setores em torno de pautas concretas e demandas a serem levadas para os espaços da política institucional, um mandato se torna ferramenta de ampliação dessa articulação. Lá dentro somos o megafone das pautas de luta que sempre existiram nas ruas. Nossa atuação é para além dos parlamentos, dentro e fora da Câmara, uma vereadora antirracista tem que estar ao lado dos movimentos sociais e das lutas, esse é nosso princípio.

Alma Preta: Você tem um histórico de ativismo que vai além da política, envolvendo pautas LGBTQIAPN+ e de direitos humanos. Como você integra essas questões na luta antirracista na Câmara Municipal de Belém?

Vivi Reis: A partir de uma concepção de que todos esses elementos são políticos. Enquanto mulher, negra, periférica e bissexual carrego em mim todas as lutas que travo e elas se interseccionam, posto que não há como pensar uma luta antirracista que não englobe as diversidades sexuais e de gênero. Dentro do cotidiano da Câmara Municipal não é diferente, não há como pensar uma pauta que seja sobre a nossa cidade e não esteja diretamente relacionada com as nossas lutas e nossa existência.

O antirracismo dentro da atuação parlamentar se dá também como se mudássemos as lentes que usamos para enxergar a política da cidade. Não se trata, portanto, de uma ou outra pauta, não podemos colocar essas bandeiras em oposição e sim pensar a totalidade delas a partir de uma perspectiva antirracista para todo e qualquer enfrentamento travado no parlamento.

Alma Preta: Diante das violências políticas que você sofreu, quais estratégias você considera essenciais para proteger e fortalecer candidaturas de mulheres negras e LGBTQIAPN+?      

Vivi Reis: A principal estratégia é a luta coletiva. Compreender que individualmente não construímos nada. Precisamos de uma rede que nos dê suporte não apenas técnico e político, mas também afetivo. Sempre bato nessa tecla que política se faz com afeto e isso significa também compreender que somos alvo de ataques, violências e que precisamos nos fortalecer para permanecer em espaços violentos como a política.

Além disso, é fundamental a gente priorizar aspectos da saúde física e mental, com acompanhamento profissional. Em geral, as mulheres negras são desumanizadas. Quando a gente está na política, muitas vezes temos que nos impor, mas seguindo sempre uma política de afeto com os nossos. Por isso, precisamos estar bem para seguir na luta pelos nossos direitos

  • Formado em Jornalismo e licenciado em Letras-Português, morador da periferia de Maceió (AL) e pós-graduado em jornalismo investigativo pelo IDP. Com experiência em revisão, edição, reportagem, primeira infância e jornalismo independente. Tem trabalhos publicados no UOL (TAB, VivaBem, ECOA e UOL Notícias), Agência Pública, Ponte Jornalismo, Estadão e Yahoo.

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