A precariedade no trabalho e as condições de pobreza aumentam em até três vezes a possibilidade de uma pessoa desenvolver transtornos mentais, segundo o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, Olivier De Schutter. O relatório “A economia do ‘burnout‘: pobreza e saúde mental”, apresentado na quinta-feira (24) na Assembleia Geral das Nações Unidas, alerta que os transtornos mentais derivados da pobreza são um obstáculo significativo para superá-la.
“O trabalho precário agrava ainda mais a saúde mental, devido à insegurança, falta de negociação, salários injustos e horários imprevisíveis, que comprometem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, destacou De Schutter, recomendando “proteções legais” para garantir condições dignas de trabalho e salários, além de políticas que ofereçam renda básica e acesso facilitado a áreas verdes.
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Segundo o relatório, mais de 970 milhões de pessoas — 11% da população mundial — sofrem de algum transtorno mental, com destaque para os 280 milhões que enfrentam a depressão e 301 milhões com ansiedade. A taxa de suicídio atinge 700 mil casos anuais, sendo a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Nos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de um terço a metade dos pedidos de auxílio por invalidez estão ligados a questões de saúde mental, índice que chega a 70% entre jovens adultos. Durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19, os transtornos mentais cresceram em 25%, e, segundo o relatório, geram perdas econômicas de mais de um trilhão de dólares ao ano, algo próximo de 5,7 bilhões de reais.
O relatório também recomenda que governos adotem “proteções legais” para assegurar condições dignas de trabalho, salários justos, uma renda básica incondicional e ampliação da proteção social. O relator sugere ainda desestigmatizar os transtornos mentais e facilitar o acesso a espaços verdes.
Conforme o documento, a “obsessão pelo crescimento econômico” tem criado uma “economia de esgotamento”, beneficiando uma elite e adoecendo milhões. O foco no aumento do PIB “a qualquer custo” está gerando uma crise de saúde mental entre os mais pobres, conclui De Schutter.
Texto com informações da Agence France-Presse.