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Ícone da resistência negra, Ilê Aiyê celebra 50 anos de história

Primeiro bloco afro do Brasil preserva costumes sociais e culturais da mãe África
Integrantes de bloco Ilê Aiyê posam para fotografia antes de workshop na Califórnia, Los Angeles, em setembro de 2024.

Foto: Reprodução / Bloco Ilê Aiyê

1 de novembro de 2024

Reconhecido como o primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê celebra nesta sexta-feira (1º), 50 anos de história. Criado em 1974 no bairro da Liberdade, em Salvador, o grupo foi idealizado por Mãe Hilda Jitolu, que faleceu em 2009, e seu filho, Antonio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como o Vovô do Ilê.

Segundo a organização, a história do bloco coincide com um momento histórico importante. Na década de 1970, o mundo assistiu ao surgimento de vários movimentos que lutavam pela valorização da cultura negra.

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Foi o caso do movimento Négritude, da prisão de Angela Davis (EUA), da criação do Dia da África (ONU) e da independência de vários países africanos, como Cabo Verde, Angola e Moçambique, entre outros eventos. 

Foi nesse contexto que surgiu o Ilê Ayê com uma proposta inédita no país: um bloco formado exclusivamente por negros. Sediado no terreiro Ilê Axé Jitolu, o bloco ocupou, por cerca de 20 anos, uma periferia majoritariamente negra da capital baiana.

A estreia no Carnaval de Salvador aconteceu um ano depois, em 1975. Com o nome inspirado no terreiro onde se firmou, o bloco saiu às ruas da capital baiana exaltando sua ancestralidade e identidade, sem medo da repressão.

O termo “Ilê Ayê” vem do idioma iorubá. A palavra Ilê significa casa, e Aiyê, significa terra.  Por isso, a tradução do nome pode ser entendida como “nossa casa” ou “nossa terra”, o que indica a ligação do bloco com as heranças dos orixás e com os costumes sociais e culturais da mãe África. 

Já no primeiro desfile o bloco apresentou a icônica canção “Que Bloco É Esse”, composição de Paulinho Camafeu. Ao longo das décadas, a música foi regravada por nomes como Gilberto Gil e Criolo.

Também é importante ressaltar que, além de ceder o espaço do seu terreiro para as atividades do bloco, Mãe Hilda se postou à frente do cortejo para defender os integrantes em caso de violência policial. Ela também insistiu para que o bloco atuasse para além do Carnaval, com atividades socioeducativas.

Atualmente, o Ilê conta com uma orquestra formada por nove músicos em shows menores e até 100 no Carnaval e desfiles oficiais do bloco em datas comemorativas. Independente da formação, os tambores sempre anunciam que o desfile do bloco vai começar.

O grupo também abrange projetos como a Escola Mãe Hilda, instituição de ensino formal que, além da grade curricular padrão, trabalha conteúdos sobre cultura negra e africana; o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê; a Escola de Percussão, Canto e Dança Band’erê’; a Escola Profissionalizante do Ilê Aiyê; e o projeto Dandarerê, voltado para o público idoso.

Em 50 anos de história, o Ilê Aiyê se firmou como um ícone da resistência negra e tem contribuído com a expansão e memória da cultura afro-brasileira, mundo afora, para permitir que a comunidade negra conheça sua história e seus ancestrais.

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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