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Meninas quilombolas: a importância da educação dentro do território

MEC investirá R$ 195 milhões em escolas indígenas e quilombolas

3 de novembro de 2024

Por: Maria Leontina Nunes Freitas, 18 anos, do quilombo de Conceição das Crioulas (PE); Rhuanny Batista Albernaz, 19 anos, do quilombo São Judas Tadeu, Bujaru (PA)

Ser quilombola é compartilhar com outros indivíduos valores, costumes e princípios ancestrais dos antigos quilombos. Temos uma ligação bastante forte com nosso território e nosso povo, e por isso é tão importante vivermos a nossa vida acadêmica cercadas por quem pertence ao mesmo grupo, no mesmo local onde demos os primeiros passos. Concluir os estudos dentro da própria comunidade é uma experiência única porque, além de estarmos rodeadas por pessoas que entendem a cultura, a história e as tradições da população quilombola, também permite a construção de laços fortes com os professores e colegas, que se tornam uma rede de apoio para as estudantes.

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Ter professores especializados em conteúdo quilombola significa não só aprender as matérias tradicionais, mas também o conhecimento e os valores essenciais para nossa cultura. Eles trazem para a sala de aula a história e os saberes dos antepassados, sempre valorizando nossa herança. Isso faz toda a diferença, pois aprendemos sobre a resistência do povo que nos originou e nos inspira a lutar pela preservação de tudo o que envolve essa ancestralidade.

Por isso, fazer parte da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas foi tão importante para todas nós. A iniciativa do Coletivo Nacional de Educação da CONAQ, com apoio do Fundo Malala, cumpriu seu objetivo de formar jovens quilombolas, preferencialmente meninas, em escolas dentro das próprias comunidades. Graças à escola, 39 meninas e 11 meninos quilombolas, com idades entre 15 e 18 anos, se formaram nos anos finais do ensino fundamental e iniciais do ensino médio. Quarenta professores quilombolas, ou que atuam em escolas com essa modalidade de ensino, também foram formados na instituição.

O projeto, que terminou agora em 2024, contribuiu muito para assegurar o acesso dos quilombolas à educação, pois muitas vezes somos obrigadas a estudar longe de onde moramos, enfrentando dificuldades como a precariedade do trajeto e o superlotamento das salas de aula. Sem falar no obstáculo cultural: professores que não têm conhecimento sobre a cultura dos quilombos e não levam em conta o legado dos antepassados. Poucos falavam sobre as histórias antigas dos quilombolas, preferindo abordar apenas os conteúdos europeus. Infelizmente, os assuntos históricos eram focados na vida antes da libertação dos escravos.

Estudar dentro dos quilombos também nos ajuda a continuar com as ações de preservação da biodiversidade praticadas por nossos ancestrais, pois a cultura e a agricultura quilombolas estão enraizadas em práticas sustentáveis de manejo da natureza. Embora lutem para conscientizar a comunidade sobre a importância dessas práticas, ainda há muitas pessoas que não participam ativamente ou não seguem esses princípios. Nossa missão é justamente continuar promovendo essa conscientização e incentivando todos a se envolverem, mostrando o valor da preservação para o futuro.

Nós, meninas quilombolas, podemos contribuir para a educação de muitas maneiras. Primeiro, podemos compartilhar a perspectiva e a vivência do povo quilombola, trazendo para a educação conteúdos que refletem a realidade e as necessidades das nossas comunidades. Além disso, ao virarmos educadoras, podemos garantir que o ensino seja feito de forma respeitosa e representativa. Acreditamos que também temos um papel importante na construção de currículos que valorizem a história do nosso povo e que ajudem a combater o racismo e a discriminação. E, por fim, ao nos engajarmos na educação, inspiramos as próximas gerações a ter orgulho de sua identidade e a lutar por um futuro justo.

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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