As ruas de Lisboa foram tomadas por cerca de 15 mil manifestantes no último sábado (11), em um ato contra o racismo e a violência policial. Sob o lema “Não nos encoste na parede”, a passeata denunciou práticas discriminatórias, como a operação policial realizada no Martim Moniz no mês passado, onde dezenas de imigrantes foram colocados em fila contra uma parede para revista, em uma cena que gerou indignação nacional.
A mobilização, considerada uma das maiores manifestações antirracismo da capital portuguesa, reuniu imigrantes, ativistas e cidadãos portugueses preocupados com o aumento da xenofobia no país. “Estamos aqui para dizer que Portugal é uma terra de acolhimento e que o racismo não será tolerado”, declarou à imprensa Mariana Lopes, uma das organizadoras do ato.
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A passeata contou com a presença de figuras públicas e parlamentares, como Alexandra Leitão, do Partido Socialista, que criticou retóricas divisionistas.
Cartazes com frases como “Racismo não tem lugar aqui” e “Todos somos humanos” dominaram a manifestação, marcada por discursos de líderes comunitários e políticos. A deputada Alexandra Leitão, do Partido Socialista, destacou que a luta contra o racismo é essencial para preservar a democracia: “Este é um grito contra as divisões artificiais que não resolvem os problemas reais do país”, disse em entrevista à CNN Portugal.
Clamor por mudanças
Os manifestantes pediram o fim de abordagens policiais discriminatórias e maior fiscalização de operações que envolvam populações vulneráveis. “O que aconteceu no Martim Moniz é inaceitável. Não podemos normalizar práticas que marginalizam pessoas simplesmente por serem imigrantes,” afirmou Samuel Costa, ativista pela igualdade racial.
Enquanto a passeata reunia milhares, o partido de extrema direita Chega realizou organizou uma concentração em apoio à Polícia de Segurança Pública (PSP), com discursos que reforçaram a retórica anti-imigração. Sob o tema “Pela autoridade e contra a impunidade”, o ato reuniu algumas centenas de apoiadores. O líder do partido, André Ventura, destacou que “a autoridade da polícia deve ser respeitada” e criticou a manifestação contra o racismo.
Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, elogiou publicamente a ampla adesão à passeata anti-xenofobia e destacou o contraste entre os dois eventos. “Os portugueses mostraram de que lado estão. Foi uma das maiores manifestações contra o racismo que Lisboa já viu,” afirmou, acrescentando que a vigília organizada pelo Chega “teve pouca relevância em comparação”.
A manifestação e a vigília refletem um momento de polarização em Portugal. O Chega, atualmente a terceira maior força política do país, tem ampliado seu espaço no debate público com discursos xenofóbicos e propostas de endurecimento policial. Por outro lado, movimentos sociais e partidos progressistas denunciam o aumento de práticas discriminatórias e defendem uma abordagem inclusiva para os imigrantes.