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Termo ‘intolerância religiosa’ mascara violência racista contra religiões de matriz africana

O advogado Hédio Silva Jr. e o líder religioso Gabriel Henrique de Jesus explicam, em entrevista à Alma Preta, o porquê o termo racismo religioso é mais apropriado para se referir aos ataques contra as religiões de matriz africana e seus praticantes
A imagem mostra uma mulher e uma criança sentadas de frente para o mar, trajadas com vestes tradicionais do candomblé.

A imagem mostra uma mulher e uma criança sentadas de frente para o mar, trajadas com vestes tradicionais do candomblé.

— Rafael Martins/AFP

21 de janeiro de 2025

Neste dia 21 de janeiro é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa no Brasil, instituído por legislação federal desde 2007. A data também marca um importante debate sobre as manifestações contrárias ao exercício das religiões de matriz africana, conhecido também como racismo religioso.

A comunidade negra reivindica a adoção do termo “racismo religioso” em razão das diferenças que sustentam a discriminação e a violência direcionada às religiões de matriz africana e seus praticantes, ligados diretamente ao sistema de opressão racial presente nas sociedades.

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Em entrevista à Alma Preta, o advogado e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP)  Hédio Silva Jr. explica que a definição de racismo religioso passou a ser utilizada no direito internacional no começo da década de 1970.

Silva Jr. conta que, à época, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu as primeiras punições para a intolerância religiosa baseada na supremacia racial.

“O racismo religioso passou a fazer parte da gramática do STF [Supremo Tribunal Federal] em 2003 e desde então nossa Corte Suprema vem desenvolvendo um vasto conteúdo sobre o tema, diferenciando proselitismo religioso de discurso de ódio religioso, figuras que não se confundem”, conta Silva, que também é fundador do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (IDAFRO).

‘Intolerância’ não contempla conotação racial dos ataques

Ao analisar o uso de “intolerância” na tradução da violência sofrida pelos povos de terreiro, o pesquisador e líder religioso Gabriel Henrique de Jesus defende que o termo é insuficiente por não contemplar a conotação racista dos ataques direcionados a essa população.

“Não estamos mais na esfera do tolerar ou não tolerar. A intolerância religiosa não presume uma cor. Não podemos entender como intolerância o que as religiões de matriz africana sofrem. É por ser uma religião de negros, que foi fundada nos quilombos e senzalas, pelos negros em suas comunidades. É um estigma ancestral escravista”, complementa Jesus.

Já o fundador do Idafro reforça que a intolerância remete à ideia de incompatibilidade ou dissenso, que ocorre frequentemente com outras religiões. 

Hédio Silva Jr. acredita que “o discurso de ódio religioso direciona-se exclusivamente às matrizes africanas”, trazendo o caráter intrínseco da supremacia racial.

Para Gabriel de Jesus, também formado em Direito e pesquisador do tema, o racismo religioso é definido na prática de aniquilamento.

Como uma manifestação da própria violência racial, o racismo religioso ultrapassa as questões de preferências individuais ou estranhamento em relação à uma religião desconhecida e se materializa no extermínio do negro e sua cultura.

“Não é simplesmente não gostar da sua religião e não a querer aqui. É não gostar da religião e querer extirpá-la, matar sua cultura, sua linguagem, suas liturgias e costumes, para além de matar essas pessoas. Porque somos a lembrança de um povo negro que resistiu, a memória daqueles ancestrais negros que permitiram que outros negros, através de seus rituais religiosos, chegassem até aqui”, completa o pesquisador.

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  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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