Joseph Kabila, ex-presidente da República Democrática do Congo, de 2001 a 2019, chegou à cidade de Goma, capital do Kivu do Norte e hoje controlada pelo grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda. Ele chegou na cidade no domingo (25), à noite, e foi recebido por uma comitiva do M23.
A chegada de Kabila à cidade de Goma aumenta as tensões no país. Isso porque o partido de Kabila, Partido Popular para a Reconstrução e a Democracia (PPRD), teve seus direitos políticos suspensos, sob a acusação de se omitir e compactuar com a invasão do M23 e do exército de Ruanda. A decisão foi tomada pelo Ministério do Interior do país.
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Não só, no dia 22 de maio, Kabila teve sua imunidade política suspensa depois de votação no Senado do país. Ele agora pode enfrentar uma acusação formal de apoiar o grupo armado M23.
O ex-presidente se pronunciou na sexta-feira (23) e afirmou ter decidido “romper o silêncio” para se posicionar sobre uma questão existencial para a “não congolesa”. Kabila fez críticas à atual gestão, ao aumento de desemprego e piora da condição de vida da população.
Kabila não fez críticas aos ataques do M23 e nem condenou os países vizinhos, inclusive Ruanda, que tem tropas dentro do território congolês. Ele afirmou que o Estado perdeu o monopólio da violência e que as forças armadas do país têm sido “difamadas”.
O ex-presidente ainda apresentou tópicos que considera fundamentais para o país, como acabar com a “tirania”, parar a guerra, construir um diálogo com os países vizinhos, retirar os grupos armados estrangeiros do país e acabar com as milícias nacionais.

A memória do pai, Laurent Kabila
A chegada de Joseph Kabila em Goma levanta a suspeita do filho querer fazer o mesmo do pai. Em 1996, no que ficou conhecida como a Primeira Guerra do Congo, Laurent Kabila reuniu forças militares e conseguiu o apoio de Ruanda, Uganda e Burundi para marchar até a capital Kinshasa e derrotar o regime de Joseph Mobutu.
Laurent Kabila se tornou um ícone para o país por derrotar Mobutu e se negar a aceitar a presença de militares de Ruanda e Uganda no território congolês ou com cargos nas forças armadas do país.
O rompimento de relações com os vizinhos do lado Leste, Ruanda, Burundi e Uganda, mobilizaram uma coalizão para derrotar Laurent Kabila. Havia, por parte dos vizinhos, um temor sobre o que poderia acontecer com a minoria tutsi na parte leste da RDC, que havia fugido para o país depois do genocídio em Ruanda, em 1994.
Assassinado durante o conflito em 2001, o ex-presidente tem o reconhecimento de um herói nacional pelo povo congolês. Ele tem um Mausoléu em frente ao palácio do presidente da República em Kinshasa. Lá fica escrito o lema de Kabila, “Eu jamais traí o Congo”.
Depois da sua morte, quem assumiu o poder foi o filho, Joseph Kabila. As eleições que deram a vitória para Félix Tshisekedi ocorreram no fim de 2018, e o atual presidente assumiu o poder em 2019. Depois de um ano no poder, Tshisekedi e Kabila romperam o acordo político que tinham, o que aumentou a tensão entre os dois.