Em sua 4ª edição, o ‘Encontro Negro de Contadores de Histórias – Embondeiro 2021’, idealizado pelo Coletivo Iabás, acontece no dia 16 de outubro e tem como protagonista as histórias pretas e os saberes ancestrais das matriarcas de Pedreira Prado Lopes – a favela mais antiga de Belo Horizonte, que teve sua primeira ocupação em 1900.
“O povo preto é o principal narrador de histórias, rico em cultura e arte. Todos os contadores que fazem parte desse evento entendem a importância de falarmos da nossa história, independente de cachê ou verba”, relata Madu Costa, organizadora do Encontro, além de escritora, arte-educadora e integrante do Coletivo Iabás.
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O evento conta com a apresentação de 15 contadores de histórias, uma roda de conversa com as matriarcas, além da atração musical de encerramento com o grupo Orisamba. A programação terá formato híbrido e também pode ser acompanhada no canal do Coletivo Iabás no Youtube, das 10h às 17h.
Depois de uma viagem das idealizadoras para Angola, o ‘Encontro Negro de Contadores de Histórias de Minas Gerais’ ganha um acréscimo ainda mais simbólico: ‘embondeiro’, que se refere à árvore popularmente conhecida no Brasil como Baóba. O nome foi escolhido pela força e significado da árvore, que tem raízes profundas, dá fruto e alimenta, além de acolher com sua sombra.
“Fizemos um intercâmbio para Angola, em 2019, onde vimos muitos embondeiros, que são as árvores sagradas, conhecidas como Baobá após a colonização. A partir disso, nós rebatizamos o encontro negro de Embondeiro”, conta Madu Costa.
Segundo Madu, essa é a quarta edição do encontro negro de contadores de histórias que, pela primeira vez, foi contemplado pelo edital do Fundo Municipal de Cultura de BH, o que garantiu verba para a realização do evento.
“O Embondeiro está dando vários recados sobre a importância de contar histórias pretas, além da escolha da equipe preta. Enfim, é um evento dentro da periferia que abraça as pessoas da comunidade”, afirma Magna Oliveira, contadora de histórias e outra organizadora do evento.
Ancestralidade
Como destaque, o evento contará com uma roda de conversa com as matriarcas Iolanda, Marlene, Geralda, Osiva, Joaquina e Noeme, que são moradoras das comunidades da Pedreira e do Buraco Quente, em Belo Horizonte. Guardiãs de saberes e tradições, elas foram convidadas para partilhar histórias e vivências de um matriarcado com características próprias dessas comunidades tradicionais.
“As matriarcas representam uma amostra das mulheres dentro da Pedreira, que é o lugar de gestora das famílias. Nesse sentido, elas têm uma referência muito grande com o matriarcado africano, porque cuidam da economia, além de cuidar dos filhos e netos”, destaca Madu Costa.
Para Chica Reis, uma das organizadoras, ouvir as anciãs e contadores pretos é essencial para conhecer o outro lado da história de Belo Horizonte, uma forma de descobrir a capital pela perspectiva de quem a construiu: “tem um provérbio que diz que enquanto o leão não souber contar as suas histórias, só as histórias dos caçadores virão e as histórias dos caçadores sempre dizem que os leões morrem, que os leões são caçados”.
Outra atração do evento será a participação do grupo de samba e bloco Orisamba, é coordenado por Pai Ricardo, que encerra a festividade: “uma oportunidade de fazer algo pela Pedreira é voltar os olhares para dentro e construir com os moradores de lá um encontro que ressalta a importância do lugar, que é o berço da confluência e transferência dos costumes, da culinária e histórias da região da Lagoinha”, afirma Pai Ricardo.
Coletivo Iabás
“Em 2018, fizemos nosso primeiro evento de contação de histórias, que aconteceu no Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte, e foi um sucesso estrondoso. Na época não tínhamos verba de edital e patrocínio. E, ali, resolvemos constituir esse coletivo de mulheres contadoras de histórias”, conta Madu Costa.
As integrantes Chica Reis, Magna Oliveira e Madu Costa se conheceram durante a produção da 4ª edição do ‘Ayó Encontro Negro’, que passou por Minas Gerais em 2018, idealizado pela pesquisadora e produtora Nathália Grilo Cipriano. Após essa produção, fundaram o Coletivo Iabás, em 2018. Além de viajar pelo país contando histórias, ao longo dos últimos anos, reuniram contadores de histórias de todo o Brasil com eventos de apresentações, gastronomia e arte protagonizada por artistas negros.
“Encontramos um sentido muito grande em manter um encontro negro de contação de histórias”, reitera a arte-educadora.
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