O governo de Angola anunciou nesta segunda-feira (24) que deixará de atuar como mediador no conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC). Segundo comunicado da presidência, a decisão foi tomada para que o país possa concentrar esforços em sua recente nomeação para a presidência rotativa da União Africana (UA).
Desde 2022, o presidente angolano João Lourenço liderava as negociações para tentar pacificar a região, marcada por conflitos envolvendo o grupo armado Movimento 23 de Março (M23), apoiado por Ruanda. No entanto, sucessivos acordos de cessar-fogo foram descumpridos e a milícia intensificou sua ofensiva nos últimos meses.
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“Angola reconhece a necessidade de se libertar da responsabilidade de mediar este conflito para se concentrar nas prioridades gerais estabelecidas pela organização continental”, afirmou a presidência angolana.
O país informou que tomará “as medidas necessárias” junto à Comissão da União Africana para designar outro chefe de Estado para assumir a mediação.
A capital angolana Luanda reafirmou a importância de negociações diretas entre o governo congolês e o M23, mas não especificou se continuará participando dos diálogos de forma indireta.
Negociações fracassadas e o papel do Catar
A decisão ocorre dias após o cancelamento das negociações de paz que estavam programadas para acontecer na capital angolana no dia 18 de março. A reunião foi abortada no último momento depois que o M23 se retirou das negociações em resposta a sanções da União Europeia contra líderes do grupo.
No mesmo dia, o governo do Catar anunciou que havia sediado um encontro inesperado entre o presidente de Ruanda, Paul Kagame, e o presidente da RDC, Félix Tshisekedi. Em comunicado, Doha afirmou que os dois líderes reafirmaram compromisso com um cessar-fogo imediato e incondicional.
Avanço do M23 e incertezas sobre a mediação
Apesar das tentativas diplomáticas, o M23 segue avançando no território congolês. Na última semana, o grupo tomou a cidade mineradora de Walikale, marcando a maior incursão da milícia para o interior da RDC desde 2012.
Com a saída de Angola da mediação, a União Africana precisará definir rapidamente um novo interlocutor para evitar o agravamento da crise. Enquanto isso, a escalada do conflito ameaça a estabilidade da região dos Grandes Lagos, sem perspectivas concretas de um cessar-fogo duradouro.