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Um ano do caso Floyd: assassinato elevou discussões sobre racismo e mudanças na polícia

Parlamentares e ativistas do movimento negro comentam como o assassinato do segurança afro-americano, em 25 de maio de 2020, impactou o mundo, incluindo o Brasil

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução

Imagem mostra grafite numa parede, que representa o rosto de um homem negro, George Floyd. O desenho mostra o rosto da vítima e a frase I can't Breathe, na tradução para o português: Eu não consigo respirar.

24 de maio de 2021

Os 8 minutos e 46 segundos em que George Floyd, um homem negro de 46 anos, foi asfixiado até a morte pelo policial branco Derek Chauvin, 45 anos, em Minneapolis, em 25 de maio de 2020, geraram a maior onda de protestos contra o racismo dos últimos 50 anos.

A frase “Eu não consigo respirar”, dita por Floyd durante a agonia, virou palavra de ordem da luta antirracista em diversas regiões do planeta e trouxe visibilidade para outros casos, como o da técnica de emergência médica Breonna Taylor, 26 anos, morta em casa pela polícia no mês de março do ano passado, em Kentucky, também nos EUA.

“O assassinato de Floyd naquelas condições e na repercussão que teve deixou explícito o grau de violência contra o povo negro. Aqui no Brasil, essa violência é por parte do Estado com o genocídio da juventude negra. Foi um reforço da luta do movimento negro contra o racismo que vem desde Palmares”, diz o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

Um ano depois, a repercussão da morte de Floyd trouxe a agenda de combate ao racismo para um posição de destaque, avalia o parlamentar. “Deu mais força de luta, mas temos um longo caminho. Temos muitos casos de violência diariamente. Temos que garantir direitos e oportunidades para o povo negro. Enquanto houver racismo não terá democracia”, pontua.

A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), de São Paulo, reforça que a morte de Floyd acendeu uma chama na luta antirracista mundial, no entanto, no Brasil a brutalidade policial ainda é uma ferramenta do racismo estrutural. “Nosso povo é assassinado todos os dias. É bom lembrar que há um ano, uma semana antes da morte de Floyd, o menino João Pedro, um jovem negro de 14 anos, foi morto dentro de casa durante uma ação policial no Rio. O racismo é estrutural e sistêmico. Falta, sobretudo, vontade política para fazer as mudanças que devem ser feitas”, pondera.

Por sua vez, a ativista Simone Nascimento, do MNU (Movimento Negro Unificado) salienta ainda a importância de destacar que Floyd foi morto por ser um homem negro. “Em territórios brancos, isso não aconteceria dessa forma”,  analiza a ativista.

Leia também: Um ano sem João Pedro: caso é reaberto para apurar responsabilidade da Polícia Federal

Efeitos nas políticas de segurança pública

A prefeitura e o governo do estado de São Paulo anunciaram, em agosto de 2020, que os agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e os policiais militares estão proibidos de usar técnicas de estrangulamento cervical, o chamado mata-leão, a mesma técnica utilizada pelo policial americano Chauvin ao apoiar o joelho no pescoço de Floyd. As imagens do assassinato circularam oo mundo inteiro a partir do dia 27 de maio.

“Revogar só no papel não adianta. Após a decisão da PM e da GCM, influenciadas pelo caso Floyd, aconteceram casos de abordagem com mata-leão no Estado de São Paulo. Os agentes pegos em flagrante cometendo práticas proibidas devem ser punidos com rapidez e rigor, caso contrário, a mensagem que o Estado passa é a da impunidade”, lembra Adilson de Souza, tenente-coronel da reserva da PM. Doutor em psicologia pela USP, Souza é autor da tese “O policial que mata: um estudo sobre a letalidade praticada por policiais militares – (2020)”.

Nas análises sobre o caso Floyd há um consenso de que o assassinato do homem negro demonstra a importância dos movimentos negros e a sua articulação internacional, tanto no que diz respeito à solidariedade, quanto ao compartilhamento de estratégias de pensamento e ação. “Demonstra também que é preciso mobilização, que letalidade, seletividade policial e racismo andam juntos e devem ser enfrentados conjuntamente”, conclui o pesquisador Dennis Pacheco, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Neste 25 de maio, a partir da 14h, uma reunião pública online do grupo de trabalho criado pela ouvidoria das polícias de São Paulo para desenvolver propostas de medidas antirracistas discute o racismo nas abordagens policiais. A ouvidoria é um órgão de controle da atividade policial dentro da Secretaria Estadual de Segurança Pública.

Homenagens a Floyd

Em Minneapolis, os quase 365 dias da morte de Floyd foram lembrados com uma passeata no domingo (23) com cerca de 1.500 pessoas. “Foi um longo ano, um ano doloroso. Tem sido muito frustrante para mim e para minha família”, descreveu a irmã Bridgett Floyd. No discurso, ela disse que continuará de pé e será a “voz dele”.

O radialista, ativista do movimento negro e reverendo batista Alfred Charles “Al” Sharpton, Jr, de 66 anos, participou da passeata e discursou sobre o assassinato de Floyd. “Eles pensaram que poderiam se safar, e vocês saíram às ruas, negros e brancos, jovens e velhos, em meio à pandemia, para exigir justiça”, ressaltou Sharpton.

Quase um ano depois do assassinato, em 19 de abril, a justiça norte-americana condenou o policial Derek Chauvin por causar a morte de Georgle Floyd por meio de um ato perigoso, sem consideração pela vida humana; negligência ao assumir o risco consciente de morte; e homicídio culposo. A pena será anunciada em 16 de junho.

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