Nesta segunda-feira (4), teve início em Nairóbi, no Quênia, a primeira Cúpula Africana do Clima. O evento organizado pela União Africana (UA) e pelo governo queniano pretende criar um plano conjunto de países africanos para o enfrentamento à emergência climática. As atividades da cúpula ocorrem de hoje até a quarta-feira (6). O encontro ocorre de forma conjunta com a Semana Africana do Clima (ACW, na sigla em inglês), organizada anualmente pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Entre os temas e discussões principais da cúpula estão o financiamento de ações de combate ao aquecimento global, a formulação de uma agenda de crescimento verde para a África e a otimização do capital global. A expectativa é de que ao final do encontro seja assinado um documento conjunto de ação entre líderes africanos, a Declaração de Nairóbi sobre Crescimento Verde e Soluções de Financiamento Climático.
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O evento, ao lado da ACW, deve receber dezenas de chefes de Estado africanos e pelo menos 20 mil delegados — conforme estimativa do governo queniano —, além de lideranças de organizações multilaterais, como o diretor-executivo da Aliança Pan-Africana de Justiça Climática, Mithika Mwenda, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat.
Em discurso de abertura, o presidente queniano, William Samoei Ruto, salientou que, apesar das baixas emissões de carbono, a África deve se preocupar em pavimentar um caminho de desenvolvimento sustentável.
“Levar prosperidade e bem-estar à crescente população da África sem levar o mundo ainda mais em direção ao desastre climático não é uma proposição abstrata ou um mero exercício de wishful thinking, é uma possibilidade real provada pela ciência e afirmada pela experiência emergente”, disse Ruto em seu discurso.
O presidente queniano afirmou que as ações de combate ao clima oferecem uma oportunidade ao continente africano de um salto de “estabilidade e prosperidade” que pode elevar a África a um status de renda média. Ruto apontou que o continente africano pode suprir toda a sua demanda energética com energias renováveis.
“Temos que ver no crescimento verde não apenas um imperativo climático, mas também uma fonte de oportunidades econômicas multibilionária que a África e o mundo estão preparados para capitalizar”, acrescentou.
Ainda durante a abertura do evento, a Comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Meio Ambiente Sustentável pela União Africana, Josefa Sacko, ressaltou que o potencial da África em termos de desenvolvimento sustentável deve ser pensado pelos próprios africanos.
“[…] A transformação verde da África deve ser desenhada e liderada por países e instituições africanas e deve ser centrada na mobilização de recursos novos e adicionais que podem ser implementados de forma urgente”, disse Sacko em seu discurso.
Além de discutir a situação do continente, a Cúpula Africana do Clima busca equalizar um posicionamento africano na questão do clima, tendo em vista a proximidade de eventos como a COP28, a reunião do G20 e a 78ª Assembleia Geral da ONU.
África sofre de forma desproporcional com mudanças climáticas
Segundo o relatório Estado do Clima na África 2022, produzido em conjunto por ONU e UA, e lançado durante o evento no Quênia, apesar de contribuir pouco para o aquecimento global — de 2% a 3% das emissões de dióxido de carbono —, a África sofre de forma desproporcional os efeitos das mudanças climáticas.
Ao longo de 2022, cerca de 110 milhões de pessoas no continente foram afetadas por efeitos do tempo, clima e perigos ligados à água, aponta o levantamento. Nesse contexto, o relatório registra pelo menos 5.000 mortes reportadas, sendo 48% associadas a secas e 43% associadas às enchentes. Apesar disso, acredita-se que os dados estejam subnotificados.
Além das lideranças reunidas, houve protestos durante o encontro no Quênia. Conforme relatou a agência francesa AFP, centenas de pessoas protestaram do lado de fora da Cúpula Africana do Clima contra o que consideram uma “agenda profundamente corrupta” do evento que, para os manifestantes, estaria centrada nos interesses de países ricos. Cartazes levados pelos militantes pediam “menos conversa e mais ação climática”.