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Após perder o dedo, jovem negro cria nova forma de tocar e agora vai estudar em Londres

26 de abril de 2018

A história do jovem negro do interior de São Paulo que criou a própria forma de tocar viola de arco e é considerado um prodígio do instrumento. Sua fama foi tão longe, que ele foi selecionado para uma das escolas de música mais respeitadas do mundo e agora busca auxílio para realizar o sonho de estudar na Inglaterra

Texto / Carol Bataier
Imagem / Reprodução

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Christian Gabriel dos Santos, 19 anos, vai estudar em uma das melhores instituições de música do mundo. Em dezembro de 2017, recebeu a notícia: é um dos selecionados para compor o corpo discente da Royal Academy of Music, em Londres. Desde 2017, Christian é aluno da Escola de Música do Estado de São Paulo e bolsista na Orquestra Jovem do Estado. A mudança para São Paulo marcou a saída de Duartina, cidade de 13 mil habitantes no interior do estado, onde nasceu, cresceu e teve o primeiro contato com a música.

A primeira vez que o jovem segurou uma viola de arco – instrumento semelhante a um violino – foi em 2010, como integrante do projeto social Musicrescer, na cidade natal. “Era onde eu poderia ter um instrumento gratuito para estudar, sem que precisasse comprar, já que isso não era possível”, lembra.

“Quem é aquele pretinho sem um dedo ali? Sou eu!”

Quem ouve, não nota. Somente o olhar treinado é capaz de perceber que, na mão onde se apoia a extremidade da viola, falta um dedo. Foi numa das estruturas metálicas erguidas pela prefeitura da cidade para sustento de decorações natalinas que Christian, aos 5 anos, subiu e prendeu a mão. Despencou de lá. O dedo ficou.

Anos mais tarde, o pai, trabalhador rural e principal responsável pela criação do menino e do irmão três anos mais velho, concordou em matriculá-lo no projeto social para aprendizado de música.

Christian Gabriel dos Santos, de apenas 19 anos, foi selecionado para estudar na Royal Academy of Music, em Londres (FOTO: Acervo Pessoal)

“Tinha que fazer alguma coisa, porque eu era hiperativo, então tinha que direcionar a energia”, conta. Christian passou a dividir os dias da semana entre as aulas no ensino regular, pela manhã, e o estudo de música, a noite. Depois, ainda treinava em casa “mais umas 2 horinhas, estudando baixinho” para não atrapalhar o sono da família ou dos vizinhos.

O dedo mindinho esquerdo é essencial para as notas da viola. Da parte ausente, ele tirou aprendizado. Desenvolveu uma técnica própria para tocar o instrumento e, com ajuda do professor Willian Cunha, do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí-SP, registrou o método que agora pode servir de apoio para outros músicos com o mesmo problema.

“Ele (Willian) estruturou todas as ideias que eu tinha sobre como tocar viola sem um dedo e me passou as bases de como estudar com foco e nunca desistir”.

Talentoso, Christian precisa arrecadar dinheiro para estudar Londres

“Nunca tive apoio financeiro da minha família”, explica. O pai sempre trabalhou na roça e foi o principal responsável pelo sustento da casa e das crianças.
Para pagar a viagem a Londres, Christian lançou uma campanha on-line por meio da plataforma Vakinha. Qualquer ajuda é bem-vinda. Além disso, o jovem espera conquistar patrocinadores para ajudá-lo a financiar os estudos. Nas redes sociais, tem recebido apoio de amigos, colegas do universo da música e professores.

“Para mim é uma grande alegria e satisfação tê-lo como aluno. Ele é muito musical, expressivo, dedicado… não mede esforços para alcançar aquilo que quer!”, ressalta Mariana Costa Gomes, professora na Escola de Música do Estado de São Paulo.


De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, 837 pessoas participaram das audições; apenas três do Brasil. Atualmente, seis brasileiros estudam na Royal Academy of Music.

As aulas começam em setembro. Christian foi selecionado após uma série de audições realizadas diversos países. Para concorrer, enviou três vídeos: um de apresentação e dois tocando peças de acordo com o edital da instituição. Agora, dedica-se ao aperfeiçoamento do inglês – idioma que começou a estudar por conta própria – e já faz planos para vida no exterior.

“Você imagina? Um dia, a gente tocando pra rainha, ela vai olhar aquela gente toda e pensar: quem é aquele pretinho sem um dedo ali? Sou eu!”. (risos)

Saiba como ajudar Christian a realizar o sonho de estudar na Inglaterra

Para ajudar, basta clicar aqui. O botão para a contribuição na campanha de Christian fica no final da página e você pode contribuir com qualquer valor. 

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