Josina Machel foi uma das revolucionárias mais atuantes em prol da independência; No Rio de Janeiro, há uma rua em sua homenagem
Texto / Lucas Veloso I Imagem / Divulgação I Edição / Pedro Borges
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Brasil e Moçambique tem a língua portuguesa como idioma oficial, os dois também foram parte do Império Português. Hoje, 25 de junho de 2019, o país africano completa 44 anos de sua independência.
Na década de 60, depois de séculos sendo colonizados, vários países da África, começaram movimentos clandestinos em prol de sua independência. Esses grupos foram vistos pelos africanos como o triunfo da liberdade sobre a opressão colonial portuguesa, dominante até então.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi a iniciativa mais importante do período. O grupo começou uma campanha de guerrilha contra o governo português em setembro de 1964. Esse conflito, juntamente com os outros dois já iniciados nas outras colónias portuguesas da África Ocidental Portuguesa, como Angola e Guiné Portuguesa, tornou-se parte da chamada Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974).
Oficialmente, o combate começou com o ataque ao posto administrativo de Chai, em Cabo Delgado. Enquanto o exército português manteve o controle dos centros populacionais, as forças de guerrilha espalharam a sua influência em áreas rurais no norte e oeste do país.
Para ter sucesso, a estratégia adotada foi a criação das “zonas libertadas”, locais do território moçambicano fora do controle da administração portuguesa. Nesses lugares, os revolucionários criaram seu próprio sistema de administração.
Com a assinatura dos “Acordos de Lusaka”, em Setembro de 1974, a guerra acabou e foi estabelecido um governo provisório composto por representantes da FRELIMO e do governo português, até que foi proclamada oficialmente a independência nacional de Moçambique em junho de 70.
O novo governo, sob a presidência de Samora Machel, estabeleceu um Estado unipartidário baseado em princípios marxistas e recebeu apoio diplomático e militar de Cuba e da União Soviética.
Josina e Samora Machal
Josina Machel foi uma das mulheres que, na juventude fugiram de Moçambique para entrar na FRELIMO e lutar pela independência do país. Em 1969, casou-se com Samora Machel, um militar moçambicano, líder revolucionário socialista, que liderou a Guerra da Independência de Moçambique e foi o primeiro presidente após a independência da nação, de 1975 até 1986.
Considerada modelo de inspiração do movimento de mulheres, durante a luta pela libertação de Moçambique, ela teve papel muito importante ao longo do conflito, pois foi uma das fundadoras do Destacamento Feminino, além de chefe da Seção da Mulher no Departamento de Relações Exteriores da FRELIMO.
Graças a ela houve a criação do Centro Infantil, em Cabo Delgado, onde algumas mulheres do Destacamento Feminino tomavam conta das crianças que ficavam órfãs ou com os pais ausentes no combate da FRELIMO pela libertação nacional. Com a militante, as mulheres alcançaram outros postos dentro da organização em luta contra o governo colonial. Para ela, a igualdade de gênero era importante para o sucesso das ações.
“Antes da luta, mesmo na nossa sociedade, as mulheres tinham posição inferior. Hoje, na FRELIMO, a mulher moçambicana tem voz e um importante papel a desempenhar; pode exprimir as suas opiniões; tem liberdade de dizer o que quiser. Tem os mesmos direitos e deveres que qualquer outro militante, porque é moçambicana, porque no nosso Partido não há discriminação baseada em sexo”, escreveu ela.
O movimento armado serviu de base para a emancipação da mulher. As condições surgiram através do Destacamento Feminino, onde o envolvimento ativo em várias atividades da luta era evidente. Com Josina, foi defendido o princípio de igualdade entre homens e mulheres.
A filosofia da FRELIMO permitiu maior visibilidade às mulheres, tendo influenciado as diretrizes do partido no período pós-independência, a legenda que acabou ocupando o Estado.
Nacionalmente, o dia 7 de Abril é o Dia da Mulher Moçambicana, o mesmo dia de morte da militante. O comitê central da FRELIMO justificou que a data servia para recordar o exemplo de militante e sacrifício revolucionário que a vida de Josina Machel demonstrou, tanto como militante clandestina sob a ocupação colonial, como no Destacamento Feminino, onde o seu trabalho, pela revolução e pela emancipação da mulher em particular, constituiu um exemplo para todos os militantes revolucionários.
No Brasil e Moçambique existem homenagens à Josina: na década de 80, uma rua foi batizada com seu nome, em Bangu, Rio de Janeiro. Já em Em Maputo, capital do país, a principal escola secundária, o Liceu Salazar, se chama Escola Secundária Josina Machel.