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Grupo armado M23 anuncia cessar-fogo na República Democrática do Congo

Conflitos na região leste do país já deixaram mais de 900 mortos; comunidade internacional teme escalada da crise
Membros da Comunidade Congolesa na África do Sul seguram cartazes e um cartaz com os rostos do Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e do Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Felix Tshisekedi, durante a sua marcha de protesto até à Delegação da União Europeia em Pretória, em 4 de Fevereiro de 2025, para expor as suas queixas contra o conflito no Leste da RDC causados pelo grupo M23.

Membros da Comunidade Congolesa na África do Sul seguram cartazes e um cartaz com os rostos do Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e do Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Felix Tshisekedi, durante a sua marcha de protesto até à Delegação da União Europeia em Pretória, em 4 de Fevereiro de 2025, para expor as suas queixas contra o conflito no Leste da RDC causados pelo grupo M23.

— Phill Magakoe/AFP

4 de fevereiro de 2025

O grupo armado M23, apoiado pela Ruanda, anunciou um “cessar-fogo humanitário” a partir desta terça-feira (4) no leste da República Democrática do Congo (RDC). A decisão foi tomada poucos dias antes de uma reunião entre o presidente congolês Félix Tshisekedi e o presidente ruandês Paul Kagame, marcada para o próximo sábado (8) em Dar es Salaam, na Tanzânia.

Na semana passada, forças do M23 e tropas ruandesas tomaram Goma, capital da província de Kivu do Norte, região rica em minerais e historicamente marcada por conflitos. Os combates cessaram na cidade, mas novos confrontos se espalharam para a província vizinha de Kivu do Sul, levantando preocupações sobre uma possível ofensiva do M23 contra a capital Bukavu.

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Em comunicado, a coalizão político-militar Aliança Fleuve Congo, da qual o M23 faz parte, afirmou que o cessar-fogo tem “razões humanitárias” e negou qualquer intenção de ocupar Bukavu ou outras localidades. No entanto, na semana anterior, o próprio M23 havia declarado que pretendia continuar sua marcha até Kinshasa, capital da RDC.

Reunião de emergência entre países africanos

Diante da crescente tensão, a presidência do Quênia anunciou que Tshisekedi e Kagame participarão de uma cúpula conjunta da Comunidade da África Oriental (EAC) e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para debater a crise.

Os 16 países da SADC já haviam solicitado um encontro emergencial com as oito nações da EAC, da qual Ruanda faz parte, para discutir os impactos da violência na região. Enquanto isso, em Bukavu, moradores relataram que a cidade permanecia calma, mas fontes locais indicaram que o M23 estaria reorganizando tropas e recebendo reforços armamentistas.

Emergência humanitária em Goma

A violência recente na região já causou a morte de pelo menos 900 pessoas e deixou 2.880 feridos, segundo a ONU. A cidade de Goma enfrenta uma crise humanitária severa, com infraestrutura debilitada e acesso limitado a recursos básicos.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU agendou uma sessão especial para sexta-feira, focada na situação dos direitos humanos no leste da RDC. O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alertou que Goma está em “emergência humanitária” e pediu a reabertura urgente do aeroporto da cidade.

“Goma precisa do aeroporto funcionando. Sem ele, a evacuação de feridos graves, o envio de suprimentos médicos e o deslocamento de equipes humanitárias ficam inviabilizados”, declarou a OCHA em comunicado.

Conflito entre África do Sul e Ruanda

A crise na RDC tem repercussões além das fronteiras do país. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, afirmou que manterá o apoio militar ao Congo, apesar das pressões internas para a retirada das tropas sul-africanas.

A presença militar sul-africana na RDC faz parte de uma força enviada pela SADC em 2023. O grupo sofreu uma perda significativa recentemente, com 14 soldados sul-africanos mortos em confrontos na região.

Paul Kagame, presidente de Ruanda, criticou a atuação da África do Sul, afirmando que suas tropas são uma “força beligerante” e que estão engajadas em operações de combate ofensivas ao lado do governo congolês.

Um relatório de especialistas da ONU apontou que Ruanda mantém cerca de 4.000 soldados na RDC, explorando recursos minerais e controlando, na prática, o grupo M23. O leste do Congo é rico em coltan, minério essencial para a fabricação de celulares e laptops, além de ouro e outros recursos valiosos.

Ruanda nega oficialmente qualquer envolvimento militar direto e acusa a RDC de apoiar as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), um grupo armado criado por hutus que participaram do genocídio contra os tutsis em 1994.

Protestos e restrição de redes sociais na RDC

Em Kinshasa, capital da RDC, cresce a pressão por manifestações exigindo ação internacional contra o avanço do M23. No entanto, as autoridades proibiram protestos após episódios de violência contra embaixadas em atos anteriores.

Desde domingo, o governo restringiu o acesso às redes sociais na cidade, o que dificulta a organização dos protestos e o compartilhamento de informações sobre a situação no leste do país.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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