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Relatório detalha crimes coloniais da França na luta de Camarões por independência

Documento aponta repressão, massacres e deslocamentos forçados promovidos pelo país europeu entre 1945 e 1971
Imagem de Paul Biya, presidente de Camarões, e Emmanuel Macron, presidente da França, durante um encontro em 2024 antes das Olimpíadas de Paris daquele ano.

Imagem de Paul Biya, presidente de Camarões, e Emmanuel Macron, presidente da França, durante um encontro em 2024 antes das Olimpíadas de Paris daquele ano.

— Reprodução/Redes Sociais

29 de janeiro de 2025

Um relatório oficial divulgado nesta terça-feira (28) revelou que a França travou uma guerra marcada pela violência “extrema” contra Camarões durante a luta do país africano pela independência no final da década de 1950. A pesquisa aponta que o governo francês promoveu deslocamentos forçados, confinou centenas de milhares de pessoas em campos e apoiou milícias para reprimir a soberania camaronesa.

A investigação foi conduzida por uma comissão histórica criada pelo presidente francês Emmanuel Macron em 2022, durante visita a Yaoundé. O grupo, formado por 14 pesquisadores franceses e camaroneses, analisou documentos desclassificados e depoimentos do período de 1945 a 1971.

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Segundo o relatório, entre 1956 e 1961, a repressão francesa resultou na morte de “dezenas de milhares” de pessoas e no deslocamento de centenas de milhares. O documento destaca que o conflito, ofuscado pela guerra de independência da Argélia (1954-1962), permaneceu pouco conhecido na França apesar de ter sido um dos mais violentos da era colonial.

Mesmo após a independência de Camarões, em 1960, a França manteve forte influência no país, colaborando com o governo de Ahmadou Ahidjo, que permaneceu no poder até 1982. O relatório aponta que a França ajudou a redigir a Constituição do país e firmou acordos militares que garantiram sua presença estratégica no novo Estado independente.

Impacto e resposta oficial

O atual presidente camaronês, Paul Biya, de 91 anos, classificou o relatório como uma “terapia coletiva”, necessária para que os dois países aceitem melhor seu passado. Após receber o estudo, Macron prometeu “continuar o trabalho pela memória e verdade iniciado com os Camarões”.

Na França, o estudo se soma a outras investigações sobre crimes coloniais. Em 2021, um relatório concluiu que o país teve uma “responsabilidade avassaladora” no genocídio de Ruanda, e outro documento, de 2020, recomendou a criação de uma “comissão pela memória e verdade” sobre os abusos cometidos na Argélia. Macron, no entanto, tem evitado pedidos formais de desculpas por crimes coloniais.

O relatório sobre Camarões surgiu em um momento de crescente desgaste da influência francesa na África. Nos últimos anos, a França foi expulsa de Mali, Burkina Faso e Níger, enquanto outros países africanos reavaliam suas relações com Paris.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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