A Casa Verde, região de grande importância para a história da negritude da cidade de São Paulo, terá pela primeira vez um evento de celebração do mês da Consciência Negra. Entre 15 a 20 de novembro, a programação inclui encontros, rodas de conversas, palestras e shows, em torno de diversos temas como esporte, cultura, perseguição a religiões de matriz africana, violência do Estado e reflexões sobre a vida da mulher negra. A abertura, no dia 15, será com um debate sobre a proclamação da República e o racismo religioso no Ilê Lya Mi Osun Muiywa, no Parque Peruche, às 15h.
“É uma ideia para discutir o território, a presença negra e a produção negra. O racismo estrutural ainda impacta de uma maneira brutal a vida das pessoas que vivem na zona norte, que é a mais negra da cidade. Vamos gritar que não aceitamos mais esse processo de invisibilização e apagamento”, afirma o sociólogo e pesquisador Tadeu Kaçula, um dos criadores do projeto da Semana da Consciência Negra e autor do livro “Casa Verde: uma pequena África Paulistana”, da editora LiberArs.
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Os eventos da primeira semana da Consciência Negra da Casa vão acontecer em diversos espaços na Casa Verde, como terreiros, centro culturais e a escola de samba Unidos do Peruche.
O ritmista Nereu Gargalo, do Trio Mocotó, grupo icônico que juntamente com o Jorge Benjor criaram o samba rock nos anos 1960, será homenageado com três oficinas sobre o estilo musical, no salão São Lucas, que fica na praça da Santíssima Trindade, na Vila Celeste. Cada evento da semana será em homenagem a uma figura negra importante da zona norte, como a Dona Lucinda, Mãe Katessú de Omulù, Seo Carlão do Peruche e o medalhista olímpico Adhemar Ferreira da Silva.
No dia 20, sábado, a programação começa com uma missa afro e o plantio de um baobá na Casa Verde Alta. A festa continua com apresentações de capoeira, jongo, afoxé e sambistas das escolas de samba da região, além da Feira Cultural Afro Diaspórica.
A construção da programação da Semana da Consciência Negra na Casa Verde foi feita pelo coletivo Zona Norte Afro Diaspórica, que conta com professores, estudantes, jornalistas, moradores, artistas e comunicadores negros da região.
“O coletivo tem o objetivo de fazer um relatório para criar desdobramentos desses eventos para outras regiões, não apenas em novembro. Vamos criar cursos e formações para professores da rede pública para que sejam desenvolvidas ações práticas, pedagógicas, no dia-a-dia para que a grade curricular contemple a cultura afro-brasileira e africana”, explica Kaçula, que é presidente do Instituto Samba Autêntico.
Na região estão as escolas públicas Nelson Mandela (líder negro Sul Africano) e Joaquim Nabuco (abolicionista brasileiro), que já são importantes pontos de referência da cultura negra.