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Encontro Nacional de Estudantes Negros acontece no mês de maio

29 de março de 2016

Texto: Pedro Borges / Edição de Imagem: Pedro Borges

Nomes consagrados da luta anti-racista têm presença confirmada no EECUN

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O Encontro nacional de Estudantes e Coletivos Universitários Negros, EECUN, será realizado entre os dias 13, 14 e 15 de maio, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. A programação completa está definida e os interessados podem conferir as mesas e as atividades culturais no site oficial do encontro. Nele também é possível fazer a inscrição para o evento e para a apresentação de trabalhos acadêmicos.

Marcell Machado, estudante de Ciências Sociais da UFRJ, pensa que confirmar a programação do EECUN é caminhar para a consolidação de um momento frutífero para a juventude negra. “O cronograma do evento afasta qualquer receio que ainda possa existir na cabeça de irmãs e irmãos de que o evento possa não acontecer. A divulgação da programação é o resultado visível de um processo de construção que já se desenrola há um longo tempo”.

Os convidados a compor as mesas serão divulgados aos poucos na página do Encontro no Facebook. De momento, referências nacionais no combate ao racismo já estão confirmadas, como Mãe Beata, Silvio de Almeida, Jaqueline Gomes, Frei David e Juarez Xavier.

Professor David - eecun Os princípios do EECUN foram construídos a partir de um longo processo de discussão

Todas as atividades foram pensadas a partir dos princípios que definem o EECUN, que são a afrocentricidade, a suprapartidariedade e a autonomia política e financeira, além do enfrentamento a todas as opressões, racismo, machismo, LGBTfobia, entre outras. Danilo Lima, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, pontua que os “princípios são o resultado da construção coletiva a partir do acúmulo das experiências vivenciadas pela juventude negra brasileira na luta contra o racismo”.

A violência latente e estrutural contra o povo negro faz Mirts Sants, estudante de letras da Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, ressaltar a sua expectativa sobre o encontro. “O EECUN é um momento de extrema importância para a participação autônoma da juventude negra, que deseja uma verdadeira transformação social para a nossa geração, e que se faz necessária e urgente, enaltecendo acima de tudo a pauta do povo negro, em especial da juventude negra e suas subjetividades”.

Mais do que o histórico genocídio contra a comunidade negra, o encontro acontece em um momento de debate sobre a política de cotas no país. Miriam Alves, estudante de pedagogia da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, questiona a eficácia da lei 12.711/2012. Para ela, a legislação tem caráter restritivo, gera maior competição entre os grupos historicamente marginalizados e tem beneficiado alunos de institutos técnicos e federais, onde a qualidade do ensino é superior.

De qualquer maneira, Miriam reconhece a importância das cotas e a necessidade de rediscutir o seu formato. “Não significa que a política de cotas em si é um retrocesso, pelo contrário, é uma importante pauta política para reparação sócio/racial no Brasil. São inegáveis as conquistas nos últimos 10 anos, na inserção de negros nas universidades, que saltaram de 1,2% para 7,6% dos alunos”.

São Carlos - histórico Reunião em São Carlos reuniu coletivos negros de diferentes regiões do país

A autodeclaração tem sido outro problema existente acerca das cotas. Diversas denúncias têm sido feitas nos vestibulares e em concursos públicos devido à possibilidade de utilizar a autodeclaração como direito incontestável. No Brasil, são muitos os casos de vestibulandos brancos que se definem enquanto pardos ou pretos para ingressar na universidade via sistema de cotas.

Em 2015, o Ministério Público do Distrito Federal fez uma ação civil pública contra o adultério na autodeclaração para um concurso do Ministério das Relações Exteriores. De acordo com a nota emitida sobre o caso, o Supremo Tribunal Federal considerou como constitucional a análise de traços físicos dos concorrentes como forma de garantir o ingresso de afrodescendentes nesses espaços.

Neste ano, o Coletivo Negrada do Espírito Santo fez uma denúncia ao Ministério Público sobre as fraudes no vestibular da UFES. Para Mirts Sants, o EECUN será um excelente espaço para a discussão sobre como superar esse problema. “Por conta do racismo estrutural e social, muitas vezes irmãs e irmãos não estão se declarando negros para fazer jus ao direito às cotas. Enquanto isso, não-negros veem nesse critério a abertura para se autodeclarar e também ocupar as vagas destinadas aos PPI – pretos, pardos e indígenas”.

Movimento Negro

A maior entrada de estudantes negros na universidade é reflexo da luta histórica do movimento negro. É a partir dessa realidade que surgem os coletivos e as diferentes organizações dentro do espaço universitário.

O Encontro seria então uma forma de potencializar a atuação política do movimento dentro da universidade. Danilo Lima pensa que “são necessários momentos como o do EECUN de contato, reflexão, debate e convergência de ideias para formar novas lideranças sintonizadas com o momento histórico que vivemos, capazes de responder às demandas que temos”.

Coletivos negros2 O EECUN propõe um novo formato de militância negra dentro das universidades

Miriam Alves destaca a diferente atuação política proposta pela executiva nacional, algo distinto do formato consolidado pelo movimento estudantil. “O EECUN, para além de uma entidade estudantil, é composto por militantes e coletivos negros, que dialoga de forma intrínseca às demandas de nosso povo. Somos um entre os vários movimentos negros, que tem por objetivo comum o combate ao racismo, ao espistemicidio e genocídio, visando um projeto político preto, a partir de diálogos multi-setoriais”.

Histórico

No início dos anos 1990, aconteceu o Seminário Nacional de Universitários Negros, SENUN. Em homenagem e como forma de reconhecer a trajetória do movimento, o EECUN faz questão de recordar o SENUN como um importante acontecimento para a juventude negra.

A partir dessa lembrança e do maior ingresso de estudantes negros na Universidade, começaram as discussões acerca da construção de um Encontro nacional, autônomo e disposto a debater as necessidades da população negra, em especial da juventude, dentro e fora do espaço universitário.

A primeira proposta foi de construir o encontro, em maio de 2014, na Universidade Federal de São Carlos devido à condição da UFSCar de vanguarda no debate sobre as políticas afirmativas no Brasil.

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As inúmeras barreiras impostas pela entidade fizeram com que outras saídas fossem tomadas. “As instituições, assim como as pessoas, infelizmente, podem ser incoerentes e cometer retrocessos. Desde quando iniciamos o dialogo em 2013 pudemos verificar isso”, lembra Danilo Lima.

Em outubro de 2015, uma nova reunião foi realizada em Belo Horizonte, na Ocupação Izidora. Lá, ficou decidido que o EECUN acontecerá no Rio de Janeiro, na UFRJ, entre os dias 13, 14 e 15 de maio.

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Site

A executiva nacional contou com o apoio do Kilombagem, organização do movimento negro de São Paulo, para a construção do seu portal. Nele, estão todas as informações sobre o encontro, o seu histórico e os procedimentos para participar.

No endereço virtual do EECUN estão disponíveis todos os manifestos e princípios da executiva nacional. A comissão organizadora também divulgará no espaço textos opinativos sobre a conjuntura do país a partir dos seus fundamentos.

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