A produtora Ponta de Anzol aposta em retrato de uma paixão negra e LGBTI
Texto / Gabriel Araújo | Edição / Lucas Veloso | Imagem / Divulgação
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
O início de uma paixão adolescente entre dois personagens, negros e gays. Esse é o gancho de ‘Looping’, dirigido por Maick Hannder, o primeiro curta assinado pela Ponta de Anzol, produtora majoritariamente negra de Belo Horizonte.
A primeira exibição ocorre nesta sexta-feira, 6, na Competitiva Brasil do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, o 21º FestCurtasBH.
“É um filme sobre um menino que vê outro garoto atravessando a rua. E ele se apaixona por essa imagem, ou por esse menino”, conta o diretor.
Mais do que representar uma mera paixão adolescente, o curta estreia subvertendo um espaço no imaginário existente em relação ao amor juvenil. É um ponto de referência para quem não está acostumado a se ver nas telas do cinema nacional, por entregar uma narrativa experimental sobre o apaixonar do homem negro gay.
Além de Belo Horizonte, ‘Looping’ já tem exibição marcada na Goiânia Mostra Curtas, realizada entre 8 e 13 de outubro, em Goiás.
Diretor negro e gay
Na infância, o diretor de ‘Looping’ não teve, na infância, referências de pessoas parecidas com ele em filmes de temática amorosa. “O filme surge como uma oportunidade, meio que uma sensação de ‘agora o jogo virou’. Agora eu vou colocar esse menino, e eu vou fazer vocês acharem esse menino lindo. Vou fazer vocês se apaixonarem”, brinca Maick.
Protagonista
João Victor, um dos protagonistas, é funcionário de um supermercado da cidade. A produtora esbarrou com ele pelo Instagram, quando estava no processo de escalar os atores da obra. A escolha por um ‘não ator’ foi a opção para dar naturalidade às cenas.
Para Victor, a experiência foi de aprendizado sobre si mesmo e sobre a profissão de ator. “O processo me ajudou a entender algumas questões comigo mesmo que eu ainda não sabia, por mais que eu já tivesse um entendimento sobre meu corpo e sobre o que eu pensava”, relembra.
Câmera
O curta metragem foi produzido em cerca de dois anos. Um dos desafios foi capturar os frames em 3D usando a câmera Nishika N9000, analógica fabricada em solo norte-americano na década de 1980.
“Parece que é um fotofilme, mas são retratos. Num retrato você escolhe o fundo, você escolhe o enquadramento, você escolhe os objetos, tudo para evidenciar uma pessoa”, ele explica.“Então a gente ia pro set como se fosse filmar um filme convencional. Tinha uma decupagem, tinha uma preocupação com a luz, era importante uma economia dos cliques – porque se a gente fotografasse muito, era muito provável que desse errado”, explica Hannder.
Produtora preta, periférica e jovem
Fundada há pouco mais de um ano, em Belo Horizonte, a produtora Ponta de Anzol representa o esforço de Bruno Greco, Higor Gomes, Jacson Dias e Maick Hannder para fazer cinema. Embora Looping seja o primeiro filme assinado pela produtora, a Ponta de Anzol já distribuiu outras obras, como Impermeável Pavio Curto, premiado em 2018 e Ingrid, do mesmo diretor de Looping.