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Espetáculo navega em questões do Brasil e proporciona experiência sonora e visual em SP

Idealizado pelo Sesc São Paulo, "Uma Leitura dos Búzios" segue em cartaz no Teatro Antunes Filho (Sesc Vila Mariana)

 Imagem: Divulgação

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22 de dezembro de 2022

“Necessário nos dias de hoje”, “emocionante e hipnotizante”, “uma força muito potente, principalmente no Brasil de momento pandêmico”, os relatos são do público após assistir a “Uma Leitura dos Búzios”, espetáculo idealizado pelo Sesc São Paulo, que segue em cartaz no Teatro Antunes Filho (Sesc Vila Mariana). A atração, que aborda o racismo e a manipulação da história, é criada a partir do movimento político que aconteceu em Salvador (BA), em 1798, conhecido como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates — inspirado nos ideais da Revolução Francesa (1789 – 1799) e na Revolta de São Domingos, atual Haiti (1791 – 1804).

A encenação conta com a participação de atores de todo o país, tem encenação de Marcio Meirelles, colaboração de Cristina Castro e João Milet Meirelles e texto de Mônica Santana. Os ingressos para a peça musical, coreográfica, videográfica e textual podem ser adquiridos presencialmente e no site do Sesc São Paulo. O espetáculo fica em cartaz até fevereiro de 2023.

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Relato da experiência

Ao sair do espetáculo, a jornalista e historiadora Nanda Rovere diz que a peça traz o sentimento de esperança. “Eu acho que esse espetáculo é necessário para os dias de hoje. E me senti muito feliz porque pelo menos a gente está com um pouquinho de esperança por um mundo melhor, onde há respeito. Isso é o que mais me encanta quando eu vejo espetáculos que gritam pela liberdade, justiça, respeito e igualdade de direitos”, relata.

O diretor de teatro, audiovisual e colunista cultural Rodrigo Ferraz classifica a experiência como emocionante. “Eu acho que é uma aula de história para quem conhece um pouco, para quem não conhece nada e para quem conhece muito”, reflete. Ele diz que não daria para destacar uma única cena, e sim todo o conjunto, já que a encenação se completa nela mesma.

Já a atriz e poetisa Clodd Dias ressalta que o espetáculo foi o melhor que ela já assistiu nos últimos tempos. “Uma força muito potente e necessária, principalmente no Brasil de momento pandêmico regido pelo presidente [Jair Bolsonaro]. Eu gostaria que tivesse mais espetáculos como esse, que pudesse levar reflexão às pessoas não brancas para que possam refletir, se tornar aliadas. Como dizem, não basta simplesmente não gostar do racismo, tem que ser antirrascista”.

Para o artista performer Fause Haten, o que marcou foi a experiência visual e sonora trazida pelo espetáculo. “É uma experiência muito forte e para a gente que é branco, que tem um distanciamento da história, não sentimos na pele”, pondera. “É muito importante conseguir ouvir essa história contada por pessoas pretas. Eu vi a versão de como aquelas pessoas viveram e entendem aquilo. Super indico, assistir vale a pena”, recomenda.

Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana

O levante popular, inspirado nos ideais da Revolução Francesa (1789 – 1799) e na Revolta de São Domingos, atual Haiti (1791 – 1804), acontece em Salvador (BA), em 1798. Ocorre como reflexo da crise socioeconômica que uma parcela significativa da população soteropolitana enfrentava, enquanto a Coroa Portuguesa mantinha seu poder político e econômico, e donos de engenho e integrantes da alta burocracia da colônia prosperavam.

A revolta ganhou o apoio das elites locais, insatisfeitas com o tratamento da Coroa Portuguesa, que via no pacto colonial a possibilidade de aumentar os lucros, o poder econômico e político. Essa parcela da população começa a abandonar esse movimento quando ele passa a se popularizar e se radicalizar, tendo a participação de milicianos, artesãos e escravizados, que lutavam por liberdade, igualdade e justiça.

Alguns nomes que tiveram envolvimento na revolta ganharam destaque, como o médico Cipriano Barata e o tenente Aguilar Pantoja, além do envolvimento da população negra. E a violência contra os representantes das classes mais populares se deu de forma mais intensa, por conta da forte repressão do governo à época. Lucas Dantas (soldado), Manuel Faustino (aprendiz de alfaiate), Luiz Gonzaga das Virgens (soldado), João de Deus (mestre alfaiate) chegaram a ser presos, enforcados em praça pública e esquartejados. Luíz Pires (ourives), outro acusado, nunca foi encontrado e não sofreu a pena máxima.

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